19abr 2017
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Sviatoslav Richter sobre a gravação do Concerto Tríplice de Beethoven com Karajan

Richter sobre a famosa gravação do Concerto “Tríplice” para Piano, Violino e Violoncelo de Beethoven com um time de estrelas: Karajan regendo a Filarmônica de Berlim, Rostropovich no violoncelo, Oistrakh no violino e Richter no piano, em 1969:

É uma gravação horrível e eu a renego completamente… Linhas de batalha foram montadas com Karajan e Rostropovich de um lado e Oistrakh e eu de outro… De repente Karajan decidiu que tudo estava bem e que a gravação estava pronta. Eu pedi uma tomada extra. “Não, não”, ele respondeu, “não temos tempo, ainda temos que tirar as fotos”. Para ele, isso era mais importante do que a gravação. E que fotografia nauseante, com ele posando artisticamente e o resto de nós rindo como idiotas.

Daqui: Beethoven’s Triple Concerto is three times the fun, de Tom Service.

Um pitaco da gravação, em um trecho do primeiro movimento:

[audio:http://euterpe.blog.br/wp-content/uploads/2010/11/Beethoven-Triple-Concerto-for-Piano-Violin-and-Cello-Op.-56-1.-Allegro-excerpt-S.-Richter-D.-Oistrakh-M.-Rostropovich-H.-Karajan-BPO-1969.mp3|titles=Beethoven – Triple Concerto for Piano, Violin and Cello Op. 56 – 1. Allegro (excerpt) (S. Richter, D. Oistrakh, M. Rostropovich & H. Karajan – BPO – 1969)]

Este post tem 5 comentários.

5 respostas para “Sviatoslav Richter sobre a gravação do Concerto Tríplice de Beethoven com Karajan”

  1. Norman Lebrecht elege essa a pior gravação da história, especialmente pela média entre o potencial dos intérpretes e o resultado. Eu acho isso um grande exagero e que não chega a haver essa tragédia toda tão alardeada por aí – especialmente a qualidade individual dos solistas fica evidente em vários momentos. Mas a opinião do Richter aqui é muito valiosa, e ver a foto depois do comentário é muito engraçado. Mostra como de fato a gravação poderia ser melhor se eles tivessem tido tempo de se aquecer e se sincronizar melhor.

  2. Grande Leo,
    Ontem fui tocar esse velho vinil, que sempre considerei um disco soberbo, na sonoridade e na interpretação. Mas, pela sua fama de superlativa ruindade, eu me recolhia à minha insignificante ignorância técnica, que provavelmente não “via”os “horrendos equívocos de sincronia ou abomináveis tropeços”….
    Assim, agora exulto com tua relativa solidariedade.
    Parece que alguém falou que Beethoven desejava uma certa primazia ao cello; talvez, assim, Slava Rostro estava de mãos dadas com HVK en detrimento de Richter-Oistrakh;rsss. Que houve ali briga de beleza houve.
    Li todo aquele livro de Lebrecht, um cara venenoso que metia o pau em tudo e todos, principalmente em Karajan. Falou inclusive algo mais ou menos assim:”Não podemos separar o artista do homem público sob pena de perdermos referências e contaminarmos nosso critério com defeitos inconciliáveis”. Referia-se à passageira filiação de HVK ao nazismo. Mas quem detem a espada justiceira que mede o grau aceitável de contaminação? Os nazis é que faziam isso…Recusaríamos R.Strauss e Furtwangler pq eles nao abandonaram o Reich naqueles anos de chumbo? Fecharíamos ouvidos a Shostakovitch pq ele colaborou um pouco com o stalinismo? Quem é na vida inteira um heroi politicamente correto? Ninguém condena um compositor que tenha colaborado com G.Bush…..
    Enfim, Lebrecht disse muita besteira.
    abração

  3. Flavio,

    Eu também não acho que esta gravação seja toda essa tragédia de que falam, mas o testemunho do próprio Richter dá uma ideia de que as coisas poderiam ter sido melhores se todos estivessem com o mesmo espírito para o trabalho.

    Sobre as fofocas do Lebrecht, a filiação de qualquer sujeito ao nazismo é um constrangimento inevitável e provavelmente pior do que quase qualquer outra colaboração política, mas eu também ainda o considero uma leitura sensacionalista e implicante.

    Abraços!

  4. Leo, muitas coisas seriam constrangimentos fortes para este ou aquele. Se, como diz Lebrecht, não podemos separar o artista do homem, baniríamos Wagner porque foi mau caráter. Alguns torcem nariz para o Villa por causa do Estado Novo. Mas é tão fácil viver fora de sua época e de sua nação? Seria simples emigrar do Reich ou da URSS? Há muito reducionismo nisso. É como Israel nao tocar Wagner…Ou nao comer repolhos porque Hitler os comia….Nada mais nazista do que procurar no artista contaminações extra-artísticas. Se levássemos isso muito a sério, os pentecostais nao ouviriam um Magnificat pq nao gostam de N.Senhora…Os fascistas, pior para eles, abominariam Shosta e Prokófiev..Um ateu nao desejaria Bach. Metade dos autores iriam a um certo INDEX obscuro para metade do público. Azar seria deste…..Abraço

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