19abr 2017
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Harnoncourt, o adeus a um dos maiores mestres em música antiga

Copyright: Marco Borggreve.
Copyright: Marco Borggreve.

Tendo acabado de anunciar sua aposentadoria aos 86 anos de uma vida ativamente devotada à música, o conde Nikolaus de la Fontaine und d’Harnoncourt-Unverzagt, nascido em Berlim (1929), descendente de huguenotes franceses e imperadores austríacos, deixou nossa convivência neste sábado (5).

Harnoncourt era uma referência universalmente aclamada em música renascentista e barroca, tendo em sua produção títulos de renome acadêmico e uma rica discografia com registros pioneiros e fartamente estudados em obras muitas vezes negligenciadas pelos intérpretes tradicionais. Fez também aplaudidos passeios na música do classicismo e romantismo, dirigindo com frequência as Orquestras Filarmônicas de Berlim e Viena, a Ópera de Viena, a Ópera de Zurique, Orquestra de Câmara da Europa, Concertgebouw Orquestra de Amsterdã, entre outras. Nos seus projetos mais valiosos está a gravação integral das cantatas de Bach pela Teldec, sempre acompanhado pelo conjunto que fundou ao lado da violinista Alice Hoffelner, sua inseparável companheira: o Concentus Musicus Wien.

Foi pioneiro nas gravações historicamente informadas. Um guerreiro incansável do respeito às origens das obras-primas e à difusão de sua importância para a posteridade. Era exímio intérprete do violoncelo e viola da gamba, particularmente no início de sua carreira. Além de Bach e Monteverdi, em especial, de quem deixou inúmeros registros, como uma coleção de suas óperas em vídeo pela Deutsche Grammophon em parceria com o refinado diretor Jean-Pierre Ponnelle (1935-1988), Harnoncourt dedicou-se com afinco a Mozart, produzindo exaustivamente suas óperas, trabalhos sacros, concertantes e sinfônicos. Podemos ouvi-lo com o mestre alemão desde a sua primeira sinfonia até a sua obra derradeira: a missa fúnebre. Buscou sempre revelar novos talentos, assim como se manteve fiel a antigos parceiros em seus registros.

Harnoncourt faz parte da formação musical de várias gerações e nos deixou sua marca profunda, preservada com muito respeito e gratidão. Abaixo, recordamos um dos seus momentos marcantes. O Euterpe deixa aqui a sua homenagem a esse ser humano muito especial. Descanse em paz, grande mestre.

RIP+

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Este post tem 9 comentários.

9 respostas para “Harnoncourt, o adeus a um dos maiores mestres em música antiga”

  1. Assino o que você escreveu, caro Fred. O meu amor e conhecimento da música de Monteverdi, Haydn, Mozart, Schubert e Brahms foram substancialmente enriquecidas por Harnoncourt. Adeus, grande mestre.

  2. Além de tudo isso que o mestre Frederico nos conta, é preciso lembrar que Nikolaus Harnoncourt era também um escritor sobre música, de mäo cheia. Seu dois primeiros livros estäo tb disponíveis em português e mostram, além da clareza e competência do autor, um fino senso de humor. E apesar de sua autoridade assombrosa, era conhecido pela sua simplicidade no trato com as pessoas. Nada de chiliques de divas, täo freqüentes nesse meio.

    Sua morte interrompeu um projeto notável: a segunda gravacäo completa das sinfonias de Beethoven, desta vez com o Concentus Musicus de Viena. Escutando p.ex. o último movimento da Quarta, näo se pode imaginar que o regente tem mais de 80 anos… abs

  3. Maravilhoso.
    Tenho apenas um CD deste maestro, das Aberturas de Beethoven. Interpreteçáo absolutamente sublime.

  4. Parabéns, Fred, pela tempestiva e lúcida homenagem. Pioneiro das performances HIP, da Música Antiga e dos Instrumentos de Época, Harnoncourt nao foi um radical e mostrou que ser historicamente informado não é sinônimo de usar instrumentos originais, mas também observar os estilos de interpretação, seja qual for o instrumento. Ele gravou com a Concertgebouw o ciclo de Bruckner.
    Comparando o Requiem e Batallia de Biber sob J. Savall com as interpretações de Harnoncourt , vejo superioridade no ilustre finado. A trilogia de óperas de Monteverdi nos desconcerta pela excelência dos cantores , de Ponelle e do regente; ela será antológica daqui a um século!

  5. Além de Harnoncourt (1929 – 2016), aproveito o espaço aqui para também deixar expresso meus agradecimentos, respeitos, sentimentos não só pela partida mas também e, acima de tudo, pelo legado de outros quatro excelsos mestres na execução autêntica da música antiga, sobretudo a do período barroco: Gustav Leonhardt (1928 – 2012); Franzjosef Maier (1925 – 2014) – fundador do Collegium Aureum, que, a exemplo de Leonhardt, lançou discos pela Harmonia Mundi; Frans Brüggen (1934 – 2014) e Christopher Hogwood (1941 – 2014).

  6. É a primeira vez que comento aqui. Sou fã de música clássica, mas, me considero um principiante. Me parece que há algo confuso no texto. Quando você se refere a mestre alemão, está se referindo a Mozart? Mozart não era austríaco? Abraço.

  7. Prezado José Carlos,
    Seja bem-vindo ao nosso blog! Desculpe não ter sido claro. Vamos esclarecer: o texto diz que “Harnoncourt dedicou-se com afinco a Mozart, produzindo exaustivamente suas óperas, trabalhos sacros, concertantes e sinfônicos. Podemos ouvi-lo com o mestre alemão desde a sua primeira sinfonia até a sua obra derradeira: a missa fúnebre”.
    O “mestre alemão” neste caso é Harnoncourt, que nasceu em Berlim. Eu quis ressaltar que o saudoso maestro deixou um grande legado de gravações com obras de Mozart, considerado hoje como austríaco, pois a cidade em que nasceu (Salzburgo, atualmente pertencente à Áustria) se chamava “Arcebispado de Salzbugo”, então Estado eclesiástico do Sacro Império Romano-Germânico.
    Abraços mozartianos!

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