Muito bem. Lida a carta, o que significa tudo isso? O que atualmente se consegue reconstituir do que de fato aconteceu com Beethoven nesse período?
Onde Beethoven estava?
A descoberta precisa do ano da carta (6 e 7 de julho de 1812) através de análises feitas em 1950 da marca d’água do papel utilizado confirmou os dados do local em que Beethoven estava: o spa de Teplitz, na região da Boêmia (atual República Tcheca), cidade na qual Beethoven, por recomendação médica, havia chegado com dificuldades pela estrada no dia anterior, como relata logo no início da carta, e onde ainda procurava definir seu alojamento. Por protocolo, todo visitante da cidade deveria registrar seu nome no local em que fosse hospedado, o que tornou possível a confirmação do local pelos biógrafos.
A: Viena; B: Praga; C: Teplitz; D: Karlsbad (Google Maps)
Sabe-se ainda que Beethoven havia viajado para Praga no dia 1 de julho e ficado até o dia 4, quando partiu para chegar em Teplitz no dia seguinte. Por evidência do conteúdo da carta, ele e a Amada Imortal devem ter se encontrado em Praga entre esses dias, antes de Beethoven partir no dia 4 para Teplitz, e ela, presume-se, para Karslbad (referida na carta como “K.”), ambas cidades próximas e com hospedagens para seus dois famosos spas. Durante essa separação, a carta sugere que eles ainda esperavam se reencontrar em breve (“nós provavelmente nos veremos em breve”).
A carta foi enviada?
Pela ausência de marcas do correio e por ter sido encontrada entre os próprios pertences de Beethoven, o documento atual dificilmente foi enviado à destinatária. Embora a carta registre o esforço de Beethoven para que a Amada Imortal recebesse suas primeiras notícias, algumas discrições – como nomes de cidade abreviados, a ausência do nome da destinatária e referências apenas alusivas ao que pudesse identificá-la – sugerem uma preocupação com a sua privacidade que pode tê-lo feito desistir de enviá-la pelo correio, suspeitando da segurança até o seu destino. Ou, como veremos, Beethoven pode ter sido informado de que ela havia deixado o hotel em que estava (ou que sequer se hospedou nele). A possibilidade de se tratar de um rascunho ou de uma cópia feita por Beethoven no mesmo dia não pode ser descartada, mas não é o que o conteúdo e mesmo a caligrafia de repente apressada do final da carta (para dar tempo de enviá-la) sugerem. Tendo sido ou não enviada em algum momento, o fato de ter sido guardada em uma gaveta juntamente a outros documentos importantes é um claro símbolo para a posteridade comunicando a fidelidade que Beethoven afirma na carta (já que ele de fato nunca se casou).
Redigido em um documento único, o texto marca três momentos distintos entre a manhã do dia 6 e a manhã do dia 7 de julho. E pelo esforço registrado por agir em conformidade às informações a respeito dos dias em que o cocheiro do correio partia com as correspondências, esses três momentos mostram-se mais como os registros de uma única carta principal, seguida de dois post scripta, do que como o conteúdo de duas ou mesmo três cartas separadas, que tivessem sido enviadas em sequência.
Qual era o relacionamento de Beethoven com a Amada Imortal?
Mesmo com um conteúdo alusivo a carta deixa entrever um contexto amoroso complexo: há várias queixas inconsoláveis de uma separação da Amada Imortal, e não apenas uma separação física, mas um impedimento contra o qual Beethoven expressa uma profunda luta. Entre outras coisas, o pedido para que ela arranje um meio para que ambos vivam juntos (“faz com que eu possa viver contigo”) deixa entender que dependeria dela, provavelmente uma mulher casada, e não dele, um solteiro, que ambos pudessem viver juntos. A não ser que se tratasse da súplica de um amor não correspondido (que no entanto não é o que o conteúdo da carta nos faz pensar).
Na época, não apenas a burocracia de um divórcio poderia ser um impedimento para uma mulher (especialmente da nobreza) se separar e casar novamente, mas questões judiciais envolvendo a custódia dos seus filhos, o legado e as posses de uma linhagem nobre e as condições de sua herança (problemas que se sabe terem sido discutidos entre Beethoven e Josephine Brunsvik nos anos 1804-1807, mesmo sendo ela então uma viúva, pois Beethoven era plebeu).
Após esse pedido para que ela encontrasse uma maneira de viverem juntos, escrito na carta durante a noite do dia 6, Beethoven acrescenta na manhã do dia 7, depois de ter dormido pensando no assunto, que está decidido a “vagar para longe sem rumo, até que possa voar em teus braços, e possa dizer que estou inteiramente em casa contigo”, ou seja, que está decidido a se resignar e se afastar dela, até que talvez pudessem viver juntos e definitivamente (possivelmente até que ela ficasse viúva ou que os filhos crescessem). O que, como se sabe, não aconteceu.
E foi esse quadro que levou tantos biógrafos à pergunta: que mulher se adequaria a essas características?
Quem foi a Amada Imortal?
O debate é mais atual do que se pode imaginar, e, depois de um grande virtuosismo historiográfico por parte dos biógrafos, duas candidatas permanecem em disputa mais consistentemente.
Antonie Brentano
Em 1972, Maynard Solomon defendeu pela primeira vez a identidade de Antonie Brentano (1780-1869), sendo apoiado pelas prestigiadas biografias de Barry Cooper (2000, 2008) e Lewis Lockwood (2003), um artigo de Klaus Martin Kopitz (2001), entre outros.
Antonie pertencia a uma família dedicada ao cultivo das artes – seu pai, um diplomata austríaco, era colecionador de arte, e seu marido, o comerciante Franz Brentano, um importante mecenas. Entre 1810 e 1812, enquanto viveu em Viena, a família Brentano se tornou bastante próxima de Beethoven, que os visitava, oferecia recitais em sua residência, tocava para eles e brincava com seus filhos. Como Antonie tinha a saúde frágil e estava frequentemente doente, Beethoven costumava visitá-la e improvisava para ela ao piano, para, nas palavras dela, lhe “oferecer conforto”.
Os principais argumentos de Solomon são provenientes de fortes evidências “externas”: Antonie de fato também esteve, ainda que sempre com o marido e a filha mais nova, em Praga entre os dias 1 e 4 de julho de 1812 (chegou no dia 3 e partiu na manhã seguinte) e em Karlsbad desde o dia 5 de julho. Ela era próxima e conhecida de Beethoven e tinha previsão de deixar a residência em Viena para morar em Frankfurt – o que pode explicar parte do sentimento de urgência na carta para que eles se encontrassem e definissem o seu destino.
Contraposições à hipótese lembram que não há notícias de outras cartas ou diários em que Beethoven se refira a Antonie de maneira mais do que amistosa – e a leitura desse tipo de evidência por Maynard Solomon, como das duas misteriosas referências de Beethoven a uma “A.” (Antonie?) ou “T.” (‘Toni?) em seus diários – tem sido relativizada. Além disso, por diferentes meios sabe-se que Beethoven expressava um forte vínculo de amizade com o marido de Antonie, Franz Brentano, o que em alguma medida constrange a hipótese tendo em vista o código moral do compositor, conforme expresso em seus escritos pessoais, o que se reconhece de suas atitudes e mesmo algumas afirmações da própria carta à Amada Imortal (como “Permanece meu fiel e único tesouro” ou o reconhecimento da firme fundação do amor de ambos no céu, em “Não é nosso amor um verdadeiro edifício celeste? – Mas também tão firme, como o firmamento do céu”, etc.).
Na última semana de julho (cerca de vinte dias após a carta ter sido escrita) sabe-se que Beethoven foi para Karlsbad encontrar a família Brentano, o que para Solomon confirma o que a própria carta diz: “nós provavelmente nos veremos em breve”, mas que para outros evidencia uma improbabilidade: é difícil imaginar que Beethoven teria tido um caso com Antonie debaixo do nariz de Franz o tempo todo (e a relação do casal parecia saudável e com declarações de respeito e estima, com Antonie tendo descoberto que estava grávida há quatro semanas no dia 3 de julho daquele ano!). Por isso Barry Cooper sugere que o amor de Beethoven por Antonie pudesse simplesmente não ser correspondido ou, ao menos, consumado.
Críticas à hipótese podem ser encontradas nos livros e artigos de Harry Goldschmidt (1977), Marie-Elisabeth Tellenbach (1983), Virginia Oakley Beahrs (1988), Gail S. Altman (1996), Rita Steblin (2007) e Edward Walden (2011), além de uma compilação de refutações no The Beethoven Journal 16/1 (Summer 2001), pp. 42-50.
Josephine Brunsvik
Em 1920, La Mara (Ida Marie Lipsius) defendeu a identidade de Josephine Brunsvik (1779-1821), sendo apoiada por Walter Riezler (1962), Jean & Brigitte Massin (1970), Harry Goldschmidt (1977), Marie-Elisabeth Tellenbach (1983), Virginia Oakley Beahrs (1988), Carl Dahlhaus (1991), Ernst Pichler (1994), Rita Steblin (2002, 2007, 2009), entre outros.
Josephine era filha de uma família nobre do antigo Reino da Hungria, tendo recebido educação de professores particulares em línguas e literatura clássicas e música. Depois da morte de seu pai em 1792, ela, as irmãs e a mãe foram morar em Viena, onde em 1799 Josephine começou a ter aulas de piano com Beethoven.
Sobre esse período, o próprio Beethoven teria vindo a reconhecer que suprimiu sua afeição por Josephine, especialmente quando ela foi dada em casamento a Joseph Conde Deym (1752-1804), um homem mais velho, com quem teve três filhos, mas que poucos anos depois viria a falecer.
E é aqui que começam as evidências “internas” que compõem os argumentos da hipótese sugerida desde La Mara: em 1957 foram descobertas 13 cartas até então desconhecidas de Beethoven para Josephine que compreendem os anos de 1804 até 1809/10, ou seja, logo depois da morte do seu primeiro marido, e que revelam que, entre grandes esforços por manter-se discreto, Beethoven esteve apaixonado por Josephine e, embora as cartas dela não sejam totalmente preservadas para nós, muito seguramente foi correspondido – as cartas falam em tom de reciprocidade e mesmo os diários das irmãs de Josephine confirmam a preocupação da família pela proximidade dos dois.
O fato é que essas cartas, que insistiam na busca por uma alternativa para que ambos se casassem, revelam uma linguagem incrivelmente semelhante à linguagem da carta à Amada Imortal, com expressões como: “meu tudo, minha alegria”, “apenas você – sempre você – até o túmulo apenas você”, “anjo do meu coração”, e outras declarações de fidelidade que não se conhece terem sido dirigidas por Beethoven a outra mulher.
Mas o amor dos dois ameaçava a guarda dos filhos de Josephine (por Beethoven não ser um nobre), e por isso não se cumpriu. Em 1807 ela já se afastava de Beethoven, e em 1810 se casava novamente, com o Barão Christoph von Stackelberg (1777–1841).
O que a hipótese consegue reconstruir para a ocasião da carta à Amada Imortal é que, na semana de 6 de julho de 1812, Josephine já havia sido abandonada pelo marido, que então já estava há um mês na Hungria depois de uma série de discussões em um casamento conturbado.
A ideia de que Josephine tenha estado em Praga na mesma semana que Beethoven ou em Karlsbad não conta com evidências, mas com hipóteses que não puderam ser falseadas: em seu diário do dia 8 de junho daquele ano, ela declara sua tristeza, sua preocupação financeira e com os filhos pelo abandono do marido e sua intenção de viajar para Praga no mesmo período, possivelmente para tratar de negócios: “Hoje foi um dia difícil. – A mão do destino repousa ameaçadora sobre mim. (…) Stackelberg quer me deixar sozinha. Ele é insensível a quem suplica em necessidade. (…) Quero ver Liebert em Praga. Nunca vou deixar que as crianças sejam tomadas de mim. Por causa de Stackelberg, eu me arruinei fisicamente, de modo a ter passado por tanta tristeza e enfermidade (…)”. E no diário de suas irmãs há planos de idas para Karlsbad, para onde elas de fato acabaram indo poucas semanas depois da semana de 6 de julho.
Assim, o que se presume é que Beethoven tenha encontrado Josephine em Praga, mas sem qualquer planejamento de ambos. Nesse encontro ele teria descoberto sua situação (“Tu estás sofrendo, minha mais querida criatura”) e teriam ficado juntos (ele está com o lápis dela, e alguns interpretam as palavras rabiscadas, que dizem algo como “Oh, vai com…” depois dele dizer que iria dormir, como um convite suprimido de que ela fosse com ele para a cama, significando que isso já houvesse acontecido).
Não se descarta a ida dela a Karlsbad secretamente após esse encontro – por alguns dias, residentes ficavam isentos da obrigação de se registrar, embora isso nunca se aplicasse a estrangeiros. Mas é possível que, embora tenha planejado, ela simplesmente não tenha ido para Karlsbad, embora Beethoven pareça ter entendido que ela o faria, antes de talvez descobrir (pela chegada do correio naquela mesma manhã de 7 de julho?) que ela não o fez.
Além disso, Josephine esteve grávida e deu à luz exatamente nove meses depois – estranheza que pode ter sido responsável por que o próprio Stackelberg decidisse definitivamente se divorciar dela após algumas tentativas de reconciliação.
Contraposições consideram o suporte para a hipótese de Josephine ter estado em Praga como insuficiente, e notam uma única diferença instigante nas cartas de Beethoven para Josephine e a carta à Amada Imortal: enquanto Beethoven trata a Amada Imortal pelo pronome mais íntimo “Du” (análogo ao “tu” entre os portugueses), Josephine é sempre referida como “Sie”. Embora, segundo Gail S. Altman, Antonie também dificilmente receberia uma carta de Beethoven sendo tratada como “Du”, já que manifestamente não gostava desse tratamento (chegara a se queixar quando o próprio marido, Franz, depois de dois anos de tê-la conhecido, começou a tratá-la por “Du”!).
Conclusão
A crítica anglófona parece se inclinar mais vezes à hipótese de Solomon, enquanto a europeia, especialmente alemã, pende para a hipótese de La Mara. Se acreditarmos nas evidências “externas”, Antonie tem as mais francas e comprovadas vantagens. Mas se acreditarmos nas evidências “internas” – ou, como dizem os defensores de Josephine, se acreditarmos “no próprio Beethoven” quando dizia ser ela a sua única amada -, Josephine se mostra bastante compatível com o posto de Amada Imortal. E assim o consenso permanece ainda impossível.
E o que isso teve-que ver com a música?!
Para que toda essa leitura não termine tendo se resumido a uma grande fofoca, é fundamental situarmos esse conhecimento na música de Beethoven, sendo a música a grande prioridade deste blog. E sobre isso, acreditem, veremos em um futuro post para encerrar esta série!
A busca da “Amada Imortal” (AI) é um dos mais fascinantes mistérios da História da Música, muito obrigado por escrever com tantos detalhes, muitos deles pela primeira vez em português!
Li (não lembro mais onde) uma explicação muito simples por que razão muitos musicólogos anglo-americanos ainda acreditam na Antonia Brentano como sendo a AI: eles simplesmente desconhecem boa parte dos documentos descobertos e publicados na Europa – por não lerem alemão! Aí fica mais cômodo seguir e repetir Maynard Solomon…
Pra quem lê a língua dos germanos, os indícios favoráveis à Josephine Brunsvick ao título de AI são praticamente imbatíveis, é só conferir na Wikipédia deles: http://de.wikipedia.org/wiki/Josephine_Brunsvik
Aliás, a vida dessa madame dava um dramalhão pra ensopar quilos de lenços. E quem sabe um dia farão um teste de DNA comparativo entre Beethoven e Minona von Stackelberg, nascida exatos nove meses depois do encontro entre Beethoven e sua AI em Praga? Se hoje se sabe que Josephine e o segundo marido Barão von Stackelberg já viviam separados em julho de 1812…
Eu queria ainda escrever sobre as músicas escritas pra AI, aberta ou secretamente. Então, vi que isso será o tema do seu terceiro post. Até lá. Abs.
Eu fui testemunha do amor de Beethoven
Josefina é a amada imortal
E praquele que provar que eu tô mentindo,
eu tiro o meu chapéu
Gente, se um dia vocês estiverem em Praga e oferecerem um passeio opcional para uma tal de KARLOVY VARY… aceitem! Karlovy Vary é o nome atual, em tcheco, da cidade que nós amantes da música conhecemos por Karlsbad (o nome antigo, germânico). Tenho fotos lindas da cidade, e quase que eu deixei de visitá-la (quando eu descobri que estava em Karlsbad, eu dava pulos de dois metros de altura!).
Acabei de ler o artigo da Rita Steblin publicado na Revista Musical Austríaca (ÖMZ) de 2/2009. Ela desmonta a hipótese de Antonie Brentano ser a AI, citando uma pesquisa de Klaus Martin Kopitz publicada em 2001 (Antonie Brentano in Wien (1809-1812), in Bonner Beethoven-Studien 2 (2001), pp. 115-146), e baseada nas cartas da familia Brentano.
Traduzindo Steblin: “No ano de 1812, ela era a feliz esposa e mãe de quatro filhos. No dia 3 de julho, ela chegou em Praga acompanhada pelo marido, uma criada e a filha Fanny, de cinco anos. Lá, ela passou a noite à procura de um tutor (Erzieher) para seu filho Georg, de onze anos, e na manhã seguinte, às 6 horas, toda a família seguiu viagem, partindo de Praga. Como ela poderia ter tempo, nesta noite, de ter uma relação com Beethoven?”
Ponto pra Josephine Brunsvick! Maynard Solomon pode tirar o cavalinho da chuva, nesse tema. E a redação do Grove já pode anotar a alteração, pra próxima edição…
Monteiro,
Que legal você ter conseguido acesso a esse artigo mais recente – quando eu citei os nomes dos autores eu procurei linkar os artigos no JStor e os livros na Amazon, mas esse artigo de 2009 da Steblin eu não encontrei on-line em lugar nenhum. Ela é uma defensora bem sequaz da hipótese da Josephine.
E no próximo post, ao falar de música, vamos acabar passando pelo que aconteceu depois desse episódio em Praga e Teplitz, aí vai dar pra continuar medindo esse contraste entre as várias evidências da presença da Antonie e de Beethoven chegando a ter sido sua companhia por esses dias e do ambíguo buraco no caso das evidências da Josephine. Não é a toa que esse é um assunto tão instigante.
Abraços!
Julho de 1812 foi mesmo um mês inesquecível pra Beethoven. Depois do encontro tórrido (e, ao que tudo indica, cinematográfico) do dia 3 com a AI em Praga e depois da carta à mesma dos dias 6/7 em Teplitz, outra bomba: os primeiros encontros pessoais com Goethe, um dos heróis literários de Beethoven, também em Teplitz. Há pelo menos duas datas documentadas, dias 19 e 21. Eles conversaram, Beethoven tocou piano, e tb passearam juntos.
Mas o melhor é ler a repercussão desse encontro pelos próprios personagens. Numa carta pro compositor Carl Friedrich Zelter, datada de 2 de setembro de 1812, Goethe conta: “Seu talento me deixou espantado; só que ele é infelizmente uma personalidade indômita, que, não deixando de ter razão quando acha o mundo detestável, torna este, por isso, menos prazeroso, pra ele e pros outros. Por outro lado, é muito desculpável e lamentável a perda de sua audição, que talvez prejudique mais sua vida social do que a musical. Sua natureza lacônica se redobra, devido a esse problema.”
E Beethoven escreveu já em 9 de agosto ao seu editor Härtel: “Goethe aprecia demais os ares da corte, mais do que conviria a um poeta. Não falemos tanto aqui das ridiculezas dos virtuoses, quando os poetas, que deveriam ser os professores da nação, podem esquecer de tudo mais, ao ver o brilho (da nobreza).”
Abs.
Existe uma ilustração famosa e muito engraçada, que esclarece bem do que Beethoven e Goethe deviam estar falando um sobre o outro nessas cartas: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Beethoven_and_Goethe_1812.jpg (chama-se “O Incidente em Teplitz”, de Carl Rohling, quando Beethoven e Goethe passaram pela família imperial, ainda em Julho de 1812)
E sobre esse encontro, ironicamente uma das possíveis responsáveis pra que ele acontecesse parece ter sido Bettina Brentano, meia-irmã do marido da Antonie!, e que no entanto é acusada pelos biógrafos de ter sido uma mentirosa compulsiva, tendo suas anedotas sobre o encontro hoje desacreditadas.
Muito interessante a discussão, finalmente um espaço decente, sem especulações absurdas sobre a Amada Imortal!
Em minha opinião, sou mais favorável à hipótese da Josephine que à da Antonie Brentano. De fato, as cartas trocadas entre Beethoven e Josephine continham tratamentos carinhosos, como “mein alles”, que também aparece na correspondência da Amada Imortal, apesar da utilização do ‘Sie”, como você bem lembrou, Leonardo. Entretanto, existem alguns detalhes na própria correspondência de Josephine – da época em que ela e Beethoven se tornaram mais íntimos – que põe em xeque a sua colocação como Amada Imortal: por exemplo, sua recusa em querer se deitar com Beethoven na época em que ela havia se tornado viúva – apesar de ser algo compreensível pela sua posição social – dizendo em uma carta que o amava “como uma alma gentil ama à outra”, mas que não poderia corresponder ao seu “amor sensual”; existe o posicionamento óbvio de Beethoven, nas cartas direcionadas a ela, de que estivesse apaixonado, mas o mesmo não podemos dizer das cartas de Josephine direcionadas a ele; há também discussões sobre se ela realmente corresponderia aos sentimentos de Beethoven, e que visse a relação de ambos como nada mais que uma simples amizade – embora soubesse que o compositor estivesse apaixonado. Por essas e outras, me pergunto às vezes: será que Josephine realmente correspondia Beethoven? Será que foi a pressão social das irmãs que realmente impediu esse amor a ocorrer? Ou será que também foi uma escolha de Josephine? O que realmente ocorria entre os dois no cotidiano, e que não estava comentado em cartas, quando Beethoven dava aulas de piano a ela? Alguns estudiosos comentam que Josephine amava Beethoven, enquanto outros consideram que não, o que faz com que o debate se torne ainda mais polêmico.
Aqui está a carta preservada em que Josephine recusa ter um relacionamento físico com Beethoven: http://www.beethoven-haus-bonn.de/sixcms/detail.php?id=15374&template=dokseite_digitales_archiv_en&_eid=1507&_ug=Friends%20in%20Vienna&_dokid=b659&_mid=Written%20documents%20by%20Ludwig%20van%20Beethoven%20and%20other%20people&suchparameter=&_seite=1
Se formos levar ao pé da letra, dificilmente consideraríamos que Josephine estivesse apaixonada por Beethoven. Entretanto, não sabemos até que ponto a pressão das irmãs fez com que Josephine se escondesse ou recusase a amá-lo. O relacionamento dos dois esfriou em 1807, quando Beethoven não era mais permitido entrar na casa dos Brunsvick – e, ao que tudo parece, ordem que foi dada contra a vontade de Josephine. Mesmo assim, Josephine, já casada novamente, ainda escreveu a Beethoven em 1809. Será que era só uma forma amistosa de manter contato? Ou será que Josephine temia perder vínculos com o compositor? Sinceramente, uma novela, viu?! Mas mesmo assim, ainda sou otimista, e acredito na hipótese de Josephine.
Clarice,
Vou procurar mais dados sobre as cartas trocadas por eles dois (parece que dela há mais anotações do que as cartas propriamente) pra dar uma referência mais clara sobre esse assunto – foi algo que envolveu alguns anos e no final (que é o período da carta que você menciona) ela realmente se afastou dele, mandou dizer que não estava em casa quando ele foi procurá-la (o que alguns associam ao “mas não te escondas de mim” da carta à Amada Imortal). Trata-se mesmo de uma peça fundamental no enigma e o seu comentário foi muito importante.
Abraços!
Agradeço pela ajuda, Leonardo, sei que há boas informações na biografia feita por Thayer, mas infelizmente eu não a possuo. Acho no mínimo curioso – para não dizer contraditório – que as irmãs de Josephine tivessem tantas preocupações com relação à aproximação dos dois se, supostamente, ela não o amava. Sempre parece haver algo que não se encaixa na história! Sim, de fato, Josephine mandou dizer que não estava em casa quando ele foi procurá-la, o que faz o fragmento que você citou da carta da Amada Imortal cair como uma luva para a situação. Existem realmente muitas anotações do diário dela, embora muitas coisas sejam intricadas e inconclusivas – há inclusive páginas que foram cortadas cuidadosamente com tesoura (alguém queria esconder alguma informação???). Enfim, é polêmica que não acaba mais!
Dá pra conseguir a biografia do Thayer em três volumes (se não me engano) em vários formatos aqui! http://archive.org/details/lifeofludwigvanb01thay. É só procurar os outros volumes (agora ninguém segura essa menina). Apesar da abordagem sempre detalhada e “acadêmica”, com fontes muito bem identificadas, ele não tinha na época tantos dados para julgar a questão, e parece que acreditava na irmã da Josephine, a Therese, como Amada Imortal.
E de fato, as discussões entre Beethoven e a Josephine foram bem além de um mero amor não correspondido. Mas veja que mesmo no link que você passou faz-sa menção ao fato de que “After Beethoven and Josephine Deym had written intimate letters to one another in winter 1804/05, their relationship noticeably cooled in 1806”. Então acho que, embora as cartas da Josephine em si não sobrevivam na sua maior parte, há sim evidências para a clara probabilidade deles terem se correspondido e de terem chegado ao ponto de Beethoven discutir a possibilidade de um casamento.
Leonardo, ganhei o dia com esse seu link! Vou baixar os livros, com certeza! Sim, é verdade, Thayer considerava a Therese a Amada Imortal, mas, como você mesmo disse, na época ele não dispunha de tantas fontes sobre o assunto, inclusive as cartas trocadas entre Beethoven e Josephine.
Sim, acredito que tenha ocorrido maior número de correspondências entre os dois, mesmo após o casamento dela. As anotações no diário de Josephine indicam que ela não havia esquecido o compositor e acho que, pela maneira como Beethoven escrevia, dificilmente ele também a havia esquecido.
Espero ansiosamente pela terceira parte do post, fico por aqui!
Grande abraço para ti, Leonardo!
Oi Clarice, bem-vinda à discussão! Quanto mais a gente se informa, mais apaixonante se torna o tema, né mesmo? Eu li o paper da Rita Steblin (Viena, 2009) e o livro de Marie-Elisabeth Tellenbach (Zurique, 1983). No momento, estou lendo o de Harry Goldschmidt (Leipzig, 1977) . Todos esses autores são pró-Josephine e conhecem os argumentos dos que são favoráveis à Antonie Brentano. Já nem todos os favoráveis à Antonie conhecem os argumentos (e os indícios, que se juntam como um quebra-cabeças!) desses musicólogos de língua alemã. Questão de domínio de idioma, sem dúvida, mas (cá entre nós) tb de vaidades e ciumeiras entre os especialistas…
O material que já li permite esclarecer um pouco suas dúvidas. Vamos lá:
1.”…por exemplo, sua recusa em querer se deitar com Beethoven na época em que ela havia se tornado viúva” Nada mais lógico. Uma condessa viúva com quatro filhos, meter-se com um compositor no Império Austríaco de 1809? Era escândalo na certa. Além disso, durante sua viuvez, Josephine foi assediada por outros nobres. O caso mais sério foi o de um viúvo, o conde Anton Maria von Wolkenstein-Trostburg, que além de portar o nome quilométrico era ministro do Grão-Duque de Würzburg, um irmão do imperador! Pois o tal conde deu em cima de Josephine até a Therese Brunsvick descobrir que ele já estava casado novamente…
2. “…será que Josephine realmente correspondia Beethoven?” Pode estar certa disso. Senão, ele não teria escrito tantas cartas de amor a partir de 1804. Essas foram as únicas cartas de amor de Beethoven a uma pessoa claramente definida, e descobertas em 1957. E o pouco que se sabe das cartas dela no período reforçam a ideia de uma paixão correspondida, embora (ainda) não consumada.
3. “Será que foi a pressão social das irmãs que realmente impediu esse amor a ocorrer? Ou será que também foi uma escolha de Josephine?” Certamente a pressão social e das irmãs travaram o romance. Aliás, a resistência mais forte foi da mãe, que queria um genro da nobreza, claro, e de Therese Brunsvick, a irmã mais velha. Bem mais tarde, em anotações do seu diário, Therese se arrependeria de ter trabalhado contra a união da irmã com Beethoven. Mas aí Josephine já estava morta na miséria, e Beethoven, morto e consagrado. Acredito que Josephine tinha tb medo de um casamento com Beethoven, por pelo menos duas razões: seu temperamento difícil, já famoso na época e agravado pela surdez progressiva. Além disso, a viúva Josephine estava muito preocupada com a educação dos filhos, e aposto que ela não via num Beethoven padrasto o pedagogo ideal.
4. “O que realmente ocorria entre os dois no cotidiano, e que não estava comentado em cartas, quando Beethoven dava aulas de piano a ela?” Aqui é preciso distinguir: entre o período de 1799-1807, de quando Beethoven dava aulas de piano a Therese e Josephine até a viuvez desta, e o período posterior, marcado pelo casamento infeliz de Josephine com o Barão de Stalckenberg, o bandido da história. O primeiro período foi predominantemente positivo, com as cartas (não só as de amor), festas, concertos nos Brunsvicks e uma produção musical muito intensa. Depois a coisa ficou preta, com crises conjugais (pra Josephine), criativas (pra Beethoven) e problemas financeiros (pra ambos). Mas mesmo nesse período mais brabo, e apesar da tentativa de queima de arquivo, sabe-se que o contato entre Beethoven e as irmãs foi mantido. Por exemplo, Beethoven tomava livros emprestados de Therese; nessas ocasiões, ele se informava sobre Josephine. E em 1816, provavelmente Beethoven e Josephine se encontraram na estação termal de Baden, durante abril e/ou julho.
5. “… Josephine, já casada novamente, ainda escreveu a Beethoven em 1809. Será que era só uma forma amistosa de manter contato? Ou será que Josephine temia perder vínculos com o compositor?” Esta carta foi supostamente escrita entre 1808 e (mais provavelmente) 1809 e tem um tom muito melancólico. Não é de se admirar: no verão de 1809, a viúva Josephine fez uma viagem longa e arriscada da Suíça pra Hungria, passando pelo Norte da Itália, pra evitar as regiões conturbadas pelas guerras napoleônicas. Foi acompanhada por seus filhos, Therese e tb pelo barão Stalckenberg, de quem ficou grávida. Maria Laura nasceu em dezembro, na Hungria. Mas foi só em fevereiro de 1810 que Josephine e Stalckenberg se casaram. Uma união catastrófica, como se viu logo. Beethoven, aliás, logo respondeu àquela carta, num tom muito carinhoso, e anexou um exemplar da recém-publicada sonata pra violoncelo e piano em lá maior op. 69, pedindo que Josephine a entregasse a seu irmão Franz (que tocava violoncelo).
6. “Acho no mínimo curioso – para não dizer contraditório – que as irmãs de Josephine tivessem tantas preocupações com relação à aproximação dos dois se, supostamente, ela não o amava.” Vc pode estar certa de que as irmãs (principalmente a Therese, muito inteligente e dedicada aos filhos de Josephine) sabiam de tudo. Toda a família tentou manter a paixão escondida, pra evitar o escândalo, ainda muito tempo depois da morte de Josephine. A reconstituição desses fatos foi um trabalho detetivesco, baseado não só em indícios, como tb em anotações de diários e cartas codificadas. Junte-se a isso o fato de os documentos da família estarem em arquivos na província na Hungria e Tchecoslováquia. Fora do alcance de pesquisadores, mesmo depois do fim da Cortina de Ferro.
Abs a todos
Monteiro,
Parabéns por toda essa síntese precisa e bem informada que você fez! Vai ser muito bom dar continuidade à série sabendo que não há necessidade de condescendência com os leitores, mas que vamos poder contar com eles pra mais informações relevantes! :)
Aos dados que você trouxe, lembro que há quem registre que a reação da Therese à notícia da carta à Amada Imortal, que saiu com a biografia do Schindler (com a hipótese dele por Giulietta Guicciardi), foi achar que poderia ser uma carta forjada! Mas que depois ela própria considerou que a irmã, já falecida, podia ser a verdadeira destinatária!
Sobre os diários da Josephine, de fato fala-se que um mês antes ela registrava a intenção de ir a Praga, como vimos neste segundo post, mas justamente no período que esclareceria se ela esteve em Praga com Beethoven há um longo salto de dias! Não sei se não seriam essas as páginas retiradas de que a Clarice disse, mas informações sobre o “depois” desses dias também vão ser importantes no terceiro post da série.
Abraços a todos!
Saudações, Monteiro! Agradeço pelas boas-vindas à discussão e, principalmente, por esclarecer minhas dúvidas! Vou pontuar cada uma delas também. Com certeza este é um assunto apaixonante de se discutir! Então, até que estou aprendendo o idioma alemão, mas ainda não tenho cacife o suficiente para ler um livro. Também acho que aconteça muito dessa questão da vaidade dos especialistas, o que é uma besteira: afinal, se é para se esclarecer um assunto tão complicado, é melhor unir as forças e analisar cada ponto de vista a permanecer nessa – digamos, assim – palhaçada, né?
Bem, vamos à discussão, então:
1) Pois então, como eu disse, era compreensível da parte de Josephine se recusar a deitar com Beethoven por conta da sua posição social – não só de viúva e com quatro filhos para cuidar, como também de nobre. E como você mesmo disse, durante o período do Império Austríaco de 1809… que era cheio de regras de comportamento social, mas – diga-se de passagem! – com uma nobreza por vezes bem hipócrita e que escondia os escândalos por debaixo dos panos! De qualquer maneira, Beethoven a colocava em uma situação muito díficil. Poxa, não sabia dessa história do conde Anton Maria! Mas muitos homens se interessaram por Josephine no período, sim.
2) Sim, eu concordo contigo, e era isso que eu estava pensando exatamente ontem: ora, por quê diabos Beethoven escreveria tantas cartas de amor, direcionaria tanta energia emocional a Josephine, se não fosse correspondido? Seria, no mínimo, perda de tempo, além de representar um desgaste emocional enorme – embora ele tivesse que enfrentar esse desgaste futuramente, de qualquer maneira. Pelas cartas que eu li da Josephine, não acho que o posicionamento dela seja tão explícito quanto o de Beethoven, mas é compreensível por toda a pressão que ela estava passando.
3) Até onde eu sei, Beethoven gostava dos filhos de Josephine e o clima era amistoso entre eles; a questão realmente seria um relacionamento a longo prazo, como você mesmo disse: o compositor tinha um temperamento difícil e, além do mais, não tinha condições financeiras estáveis e viáveis para alimentar uma casa com 6 bocas – fora as outras que poderiam vir! Esses e outros motivos realmente devem ter desanimado Josephine a pensar em um casamento, quiçá a irmã e a mãe!
4) Não sabia desse contato prolongado de Beethoven com Therese – mas sabia que ele mantinha contato com o irmão, o Franz. É mais um ponto a favor para candidatar Josephine como a Amada Imortal! Sim, tinha conhecimento de que Beethoven e Josephine tentaram se encontrar em 1816. Quando ao período positivo, ficou-se sabendo posteriormente que Beethoven suprimiu seus sentimentos por Josephine quando a conheceu em 1799, mas que não conseguiu mais se manter tão discreto quando esta se tornou viúva – como Leonardo lembrou bem no post -, e que ela, também naquele período, se interessou por ele.
5) Pois é, a carta realmente foi respondida por Beethoven! Inclusive Josephine pergunta ao compositor se ele estava bem, ao que ele disse que preferiria não responder, senão seria “honesto demais”. De qualquer maneira, ele ficou satisfeito em saber que ela não havia esquecido dele completamente. A cópia da carta está aqui: http://www.beethoven-haus-bonn.de/sixcms/detail.php?id=15129&template=dokseite_digitales_archiv_en&_eid=1507&_ug=Friends%20in%20Vienna&_dokid=b673&_mid=Written%20documents%20by%20Ludwig%20van%20Beethoven%20and%20other%20people&suchparameter=&_seite=1
6) Imagino que o assunto tenha se tornado tabu na casa dos Brunsvick mesmo. Bem, espero que agora as pesquisas possam continuar e, quem sabe, possamos ter certeza de que era Josephine a Amada Imortal!
Abraço a todos! :)
“… a melhor maneira de dizer certas coisas é não falar nelas.” (Octavio Paz: “Primitivos e Bárbaros: Coatlicue”, 1967)
Existem três tipos de pessoas a quem Beethoven dedicou suas sonatas para piano: mecenas (Lichnowsky, o Arquiduque Rudolf, etc), alunas da nobreza (B. Keglevics, G. Guicciardi, D. Ertmann) ou mestres e amigos (Haydn, Franz e Therese v. Brunsvick, Antonie e Maximiliane Brentano) . Se considerarmos que Josephine Brunsvick era uma de suas alunas mais talentosas, além da destinatária identificada de pelo menos 14 cartas de amor, cabe a pergunta: por que Beethoven não dedicou nenhuma peça a ela, com exceção do simples ciclo de variações sobre “Ich denke dein” (Penso em ti), sobre um poema de Goethe, pra piano a quatro mãos e dedicado a Josephine e Therese Brunsvick (WoO 74, composto entre 1799 e 1804)?
A resposta mais plausível: a relação entre ambos era profunda demais para a dedicatória de uma obra, que certamente seria uma declaração de amor em notas musicais. Tornar pública essa relação nessa forma seria um escândalo insuportável para os Brunsvicks. Ou seja, certamente Josephine fez questão de não aparecer em nenhuma outra dedicatória.
Então segue a pergunta: será que Beethoven não escreveu nada para Josephine, omitindo a dedicatória? Resposta no terceiro post da série.
Amigos,
Até dia 23 de outubro vou estar mais ocupado do que nunca por aqui e ainda não vou poder retomar esta série. Mas enquanto isso, a respeito da discussão mais recente nos comentários acima sobre a reciprocidade da Josephine para com Beethoven entre 1804-1807, acrescento que um dos motivos do comportamento ambivalente dela – que pra nós, corações moles, parece pouco claro em vista de um amor tão verdadeiro – era a sua preocupação com a guarda dos filhos: como vimos no trecho do seu diário neste post, ela colocava acima de tudo a guarda e a educação dos filhos, e no período em que era viúva e em que Beethoven se aproximou dela, um casamento com Beethoven poderia comprometer justamente a guarda dos seus filhos – casar, para uma nobre, não era algo tão simples assim, dependia de um verdadeiro processo judicial.
Enquanto isso a introdução ao terceiro post feita pelo Monteiro acima já nos faz pensar no próximo tema: o que é possível fazer pra tentarmos enxergar isso tudo na música?
Abraços!
Uma peça de investigação instigante e intrigante. O caro (permita-me) Leonardo, abre no post I e II, as “portas secretas” para o mundo Beethoveano (com licença). Não apenas no que diz respeito a vida e a obra do Compositor, mas da própria intimidade. Sou um calouro nesta faculdade de PHDs, e devo me ater a mero comentário de apreciação. Embora seja impossível não notar as nuances sutis tecidas pelos(as nobres comentaristas. Aposso-me da opinião de que: reservada a devida importância investigativa, e uma possível certeza de quem seja a AI, fica – ainda que subentendido – em cada comentário, o frenesi sutil que o Amor e a paixão causa no ser. Causou no compositor, na história, nos historiadores, nos leitores etc. E – mais pertinho da gente – causa aqui e agora em cada um de nós que lemos, apreciamos e comentamos (mesmo dessa maneira) o apropriado post do caro Leonardo. Talvez mais voltado ao lúdico e pueril seja meu humilde comentário, mas talvez possa ele valer-se da natureza indelével do Amor para afirmar-se e merecer lugar entre os demais comentários de profundo conhecimento histórico e cultural. Só sei é que cada um de nós estamos vivenciando o amor. O amor na postagem, na leitura, no comentário etc. Aguardo ansioso (acho que como todos aqui) um terceiro post+música referencial.
J.Farias-PE
eu me pergunto se tais mulheres seriam mesmo as do tal retrato encontrado entre os pertences de Beethoven.
Por que ele guardaria um retrato se a mulher que nele esta não fosse sua verdadeira Amada Imortal?
A verdade plausível é que Beethoven uma pessoa com gênio forte amou sim e para fugir de tal sofrimento que a falta desse amor lhe causava através de sua carta se vê que ele amou apenas uma mesmo teno tido muitas mulheres em sua vida.