19abr 2017
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O peso de Mozart no seu Requiem

Autógrafo do Requiem

Por diversas razões, o Requiem (KV 626) é uma obra especial na produção de Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart (1756-1791), seu nome de batismo, e nunca será demais escrever sobre essa composição enigmática. Todos sabemos, pela maioria das fontes, que a obra foi encomendada secretamente pelo conde Franz von Walsegg (1763-1827) para ser executada no primeiro aniversário de morte da sua esposa; que Mozart teria morrido antes de completar o Requiem; e que sua viúva, Maria Constanze Caecilia Josepha Johanna Aloisia Mozart (1762-1842), teria agido desesperadamente para que algum aluno do esposo, secretamente, terminasse a obra para que ela pudesse cobrar a comissão prometida pelo conde Walsegg, sendo Franz Xaver Süssmayr (1766-1803) o discípulo escolhido.

Ilustração de Mozart e Süssmayr durante a composição do Requiem

Comenta-se, ainda, que Mozart estava convencido da proximidade de sua morte enquanto trabalhava no Requiem, e que tal composição se tornaria sua própria música fúnebre. Mas que parte do Requiem o próprio Mozart efetivamente concluiu? O quanto Süssmayr escreveu ou completou depois de sua morte? Oficialmente, afirma-se que o compositor deixou finalizado o Introitus (Requiem aeternam) e esboçou os temas do Kyrie até o final do Hostias. O Lacrimosa teria ficado apenas com oito compassos. Süssmayr, então, terminara o Lacrimosa e teria composto totalmente o Sanctus, o Benedictus e o Agnus Dei. Mas esse assunto está longe de se encerrar.

Eybler, a primeira opção de Constanze

Para começar, a própria contribuição de Süssmayr está sob suspeita. Sua escolha foi praticamente um ato de desespero da viúva, pois Constanze, ofendida com esse aluno de Mozart “por razões que já não lembro”, segundo ela mesma declarou, encomendou a finalização da obra a outro discípulo: Joseph Leopold Edler von Eybler (1765-1846), mas este recusou (talvez por se sentir honestamente incapaz de produzir música ao nível da remanescente), motivo pelo qual Constanze não teve outro remédio senão encarregar o trabalho a Süssmayr.

O abade Stadler, velho amigo dos Mozart

A viúva, em reveladora carta ao antigo amigo da família Maximilian Johann Karl Dominik Stadler (1748-1833), de maio de 1827 (quase 36 anos após a morte do marido), reduz drasticamente a contribuição do aluno de Mozart: “[…] eu achei que qualquer um poderia fazer aquilo […]” (possivelmente a ação pontual de copiar a música do Introitus e Kyrie para o Communio). E continuando, ela diz: “[…] porque TODAS as partes principais já estavam escritas […].”

Fotografia recentemente descoberta de Constanze Mozart, aos 78 anos (outubro, 1840)

Nessa mesma carta, Constanze narra que, nos últimos dias de sua vida, Wolfgang trabalhou várias vezes no Requiem, acompanhado por Eybler e Süssmayr, e que ela mesma participou do ensaio de várias partes. Vale a pena ressaltar que Süssmayr estava morto há 24 anos nessa época e Constanze, naquela altura já idosa, não tinha motivos aparentes para mentir – pelo contrário: agiu de modo a fazer justiça à memória de Mozart, ao divulgar detalhes valiosos sobre o Requiem.

Em tal correspondência, disse ainda a viúva: “[…] Parece-me estar ouvindo Mozart quando dizia a Süssmayr: ‘Você está aí como um pato no meio de uma tempestade. Você nunca poderá entender isto'[…].” Isso já é suficiente para qualificar como insuficiente e inapta a capacidade de Süssmayr para tal complexidade de trabalho, indicando que Mozart dificilmente, ou jamais, iria depositar expectativas sobre tal aluno com a missão de completar uma obra sua. Acredito, assim, que Mozart não escolheu Süssmayr para confiar a tarefa de completar sua missa fúnebre. Aqui vem a pergunta oportuna: e ainda havia algo a ser escrito? Pelo que Constanze afirmou em sua carta (dito acima), não; tudo foi deixado pronto pelo marido. E onde foi parar o material original de Mozart?

Casa em que Mozart faleceu na Rauhensteingasse, centro de Viena

Para agravar ainda mais a situação de Süssmayr, Constanze chega a sugerir a Stadler que ele FURTOU apontamentos que Mozart tinha em seu quarto, aproveitando as circunstâncias. Esse detalhe é crucial e suficientemente grave para colocar em xeque a contribuição de Süssmayr no Requiem de Mozart. Teria Süssmayr copiado os rascunhos de Mozart com sua caligrafia e destruído o material original para garantir sua participação na obra? Não, ele fez pior…

A atitude de Süssmayr após concluir o serviço do Requiem foi lamentável: ele passou a divulgar e atribuir a si praticamente a autoria total da obra, injustiçando o verdadeiro autor e seu mestre. A reação geral contra tal absurdo foi forte e imediata entre os mais chegados a Mozart, desde Constanze até o abade Stadler. Apimentando a situação, o renomado pesquisador mozartiano Howard Chandler Robbins-Landon, recentemente falecido, deixou provado que, depois da morte de Wolfgang, seu aluno se aproximou do grupo de Antonio Salieri (1750-1825), conhecido como o maior rival de Mozart, e defendeu que, já nessa época, ele “jogava nos dois times”.

Salieri, uma posteridade infeliz

Acredito, sem qualquer dúvida, que Mozart já tinha, desde os primeiros momentos, o Requiem totalmente planejado em mente, como era a praxe. Süssmayr havia ajudado Mozart como copista de suas duas últimas óperas La Clemenza di Tito (KV 621) e Die Zauberflöte (KV 620), tendo, ainda, composto recitativos secos para a primeira, devido ao curtíssimo tempo disponível para seu mestre concluir a obra. A julgar por sua produção, e registros disponíveis, o talento de Süssmayr pode ser considerado mediano, nada excepcional.

Em toda a extensão do Requiem, o resultado é impressionante: a obra possui tal potência expressiva, uma força comovente tão pronunciada (e, em alguns momentos, assustadora), uma coerência e unidade sistêmica irretocável, que só pode ser obra de um músico excepcional… Contra as pretensões de Süssmayr a própria envergadura do Requiem é mais do que suficiente. Na beleza e poderio da música está a melhor prova de que essa missa teve um autor essencial: MOZART, como também defende o historiador Lincoln Raúl Maiztegui-Casas.

Schütz, genial precursor
Schütz, genial precursor

Com a morte prematura de Mozart, o Requiem e Die Zauberflöte (KV 620) passaram a representar a plena maturidade musical do compositor. Tais obras podem ser consideradas seus trabalhos mais refinados, pelo menos quanto ao processo técnico de composição e à capacidade artística, ou mesmo em termos de “esplendor artístico absoluto”, como afirma o professor Christoph Wolff, da Universidade de Harvard, na sua obra Mozart’s Requiem: Historical and Analytical Studies, Documents, and Score (1994) – estudo mais importante sobre a obra já publicado.

Percebe-se que Mozart usa o Requiem e Die Zauberflöte para exibir toda a variedade de estilos e conceitos musicais à sua disposição, assim como Heinrich Schütz (1585-1672) havia feito mais de 150 anos antes dele, quando foi contratado para compor uma obra fúnebre para o conde Heinrich Posthumus Reuß zu Gera, governante da Turíngia (Alemanha), falecido em 3 de dezembro de 1635 (vídeo abaixo). É perfeitamente possível, e natural, que Mozart tenha resgatado e reutilizado músicas que marcaram sua vida naquela circunstância de angústia, sofrimento e doença, como veremos a seguir.

Händel, a luz barroca

O Requiem começa com a idéia melódica central no fagote. Tal linha tem uma melodia coral que também foi usada pelo compositor alemão Georg Friedrich Händel (1685-1759) em The ways of Zion do mourn (HWV 264), hino fúnebre dedicado à rainha Caroline von Brandenburg-Ansbach (1683-1737), esposa do rei Jorge II (1683-1760) da Inglaterra (áudio abaixo) – com textura orquestral muito semelhante ao Introitus de Mozart.  A obra de Händel, uma das mais refinadas de sua autoria segundo o historiador e primeiro biógrafo do compositor Charles Burney (1726-1814), foi primeiro apresentada no funeral da rainha na Abadia de Westminster em 17 de dezembro de 1737, sendo reutilizada com revisões na abertura da seção inicial do oratório Israel in Egypt (HWV 54) em 1739, cujo libreto se baseia nos livros bíblicos do Êxodo e dos Salmos. O uso desse material antigo por Mozart cinco décadas depois preserva o significado implícito desse texto fúnebre enquanto o moderniza no estilo orquestral vienense, exaustivamente estudado pelo professor Daniel Heartz (University of California, Berkeley).

Michael Haydn

Mozart acrescentou um solo de soprano (Te decet hymnus) usando algo do canto gregoriano que havia sido utilizado como melodia do compositor austríaco Johann Michael Haydn (1737-1806) – irmão do célebre Franz Joseph Haydn (1732-1809), um dos pilares do classicismo musical – em sua magnífica Missa pro defuncto Archiepiscopo Sigismondo (MH 155), dedicada ao conde Sigismund von Schrattenbach (1698-1771), arcebispo e governante de Salzburgo (Áustria), que o próprio Mozart havia cantado em sua juventude (vídeo abaixo), quando a obra foi executada na catedral da cidade em dezembro de 1771, durante a cerimônia fúnebre. Leopold and seu filho Wolfgang estiveram presentes em outras apresentações do Requiem de Michael Haydn em janeiro de 1772, o que mostra como a obra foi admirada. No entanto, ao invés de torná-lo uma mera melodia sobre um simples acompanhamento, Mozart acrescentou a linha de canto com todos os motivos precedentes do Introitus.

Mozart se inspirou em outra obra de Händel para o seu Kyrie: o Dettingen Anthem, HWV 265. Aqui o mestre austríaco exibe claramente o seu gênio contrapontístico ao trabalhar com uma rigorosa fuga coral. Para contornar a sensação arcaica desse movimento, Mozart, ao invés de cadenciar em acorde completo, cadencia num acorde neutro – acorde sem terça: somente fundamental e quinta (a terça de um acorde determina se o acorde será maior ou menor; Mozart, ao deixar um acorde sem a terça, causa uma ambiguidade, pois não há como se saber o modo no qual o acorde se encontra).

Mozart começou a trabalhar inicialmente sobre o Dies irae, por ser esse texto (especialmente dramático) o núcleo de qualquer réquiem (uma tradição austríaca, possivelmente iniciada por Michael Haydn), dividindo as vinte estrofes do texto latino do Dies irae (chamado Sequenz) em seis seções musicais para que se pudesse variar as texturas, forças musicais e características de estilo – ao definir os diferentes cenários/imagens do texto. O movimento de abertura usa todas as forças disponíveis, remetendo-se ao estilo sinfônico. Duas seções com temas contrastantes são interligadas por cordas ligeiras e faíscas de sopro que inflamam um motivo cromático e fortemente marcado em Quantus tremor est futurus.

W. F. Bach, música no DNA

O próximo movimento, Tuba mirum, usa um trombone cantabile e o baixo solista para espalhar o assombroso som do Juízo Final. A melodia do baixo solo busca a sonoridade de uma trompa natural para acompanhar o canto do trombone. Este “desperta” mais três cantores que fazem, cada um, uma declaração e, em seguida, envolvem-se num discurso iluminado. O Rex tremendae faz uso de recursos do barroco francês com seu ritmo duplamente pontuado e alternância de registro e dinâmicas.

Para a elegante fuga do tipo Empfindsamer Stil (ou “estilo sensível”,  técnica de composição desenvolvida na Alemanha do Séc. XVIII com o objetivo de expressar “sentimentos verdadeiros e naturais”, bem como mudanças repentinas de humor) no Recordare, Mozart se inspirou na Sinfonia em Ré menor (vídeo abaixo) de Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784), filho primogênito e predileto de Johann Sebastian Bach (1685-1750), aplicando com sucesso essa textura galant (com cadências de dança) numa peça vocal dentro de um memorial fúnebre.

Mozart parafraseou sua própria Sinfonia nº 25 (KV 183) no Confutatis, usando o tema final (vídeo abaixo) para o coro masculino e instrumentos de sopro sobre uma figura furiosa (roulade) nas cordas, contrastando com o coro feminino que canta com uma suave melodia dos violinos. O coro e orquestra se reúnem em um dos esforços harmônicos mais complexos do Séc. XVIII, passando por sete pontos-chave antes de chegar à parte final da Sequenz, o Lacrimosa. Oficialmente, Mozart teria trabalhado no Lacrimosa no dia em que morreu, e as figuras das cordas foram descritas como clamor em lágrimas.

Conde Walsegg: tudo partiu de sua iniciativa…

O Domine Jesu Christe é o recanto barroco, a pérola diferenciada do Requiem. Começa como um coro alemão concertato, observando o contraste dinâmico (o que o musicólogo e regente Nikolaus Harnoncourt chama de “chiaro-oscuro”) e o contraste entre os registros (agudo/grave) e de forças musicais. Certas seções ainda oferecem uma fuga coral (Ne absorbeat) e, em seguida, o tema original numa fuga para solistas (Sed signifer), seguido de outra fuga (Quam olim Abrahae). Mozart cria sujeitos e contra-sujeitos, enquanto mantém uma perfeita fantasia coral barroca. Este movimento se vincula ao Hostias, um minueto completo com ritornelli, como o utilizado nas cortes, inclusive usando a hemíola nas cadências das danças.

O Sanctus é a única parte verdadeiramente alegre de um réquiem. Mozart escreveu o seu Sanctus decorativamente elegante e sinfônico, enquanto usa técnicas modernas, como a dinâmica gradual. É seguido por uma única fuga no Hosanna; Mozart utiliza o contraponto invertido junto ao acúmulo (romântico) de sujeitos no stretto. O Benedictus que se segue é um dueto duplo de ópera, um tour de force de conversa musical entre linhas de solo e acompanhamento orquestral suave.

O Agnus Dei utiliza rico conteúdo harmônico e a antiga técnina do baixo andante, em contraste com simples e suaves seções a cappella. A transição para o movimento final, Communio, por meio de uma misteriosa desconstrução cromática (requiem sempiternam) lembra o Quarteto Dissonante (KV 465) de Mozart (vídeo abaixo). Essa ponte bem moderna fecha a obra com dois movimentos que são uma repetição musical dos dois primeiros, bem como uma homenagem final à sensibilidade barroca de simetria estrutural na música.

Finalmente, concluo esse post com o registro integral do Requiem (definitivamente mozartiano!) dirigido pelo célebre maestro austríaco Herbert von Karajan (1908-1989), no vídeo abaixo.


Este post tem 31 comentários.

31 respostas para “O peso de Mozart no seu Requiem

  1. Discutir, não posso – a limitação de meus conhecimentos musicais não me permite entrar nesse campo… Mas quero aproveitar para felicitar vc, Fred, por sua erudição, seu amor à música e sua capacidade de expressão escrita.
    Um grande abraço!

  2. Excelente artigo! Parabéns! Curiosamente apareceu o link para ele em meu facebook quando acabara de passar um bom tempo fuçando sobre esta obra incrível. Grande coincidência (será?). Estou recomendando aos meus alunos de história de música. Obrigado pela aula!!!!!!!!!

  3. Um texto rápido e muito eficaz sobre essa obra extraordinária! Muito legal a ilustração do contraponto com o Händel.

    Parabéns!

  4. Outros compositores e musicólogos, não satisfeitos com a maneira de Süssmayer para terminar o Réquiem, fizeram suas próprias edições da obra: Franz Beyer, Duncan Druce, C. Richard F. Maunder, H. C. Robbins Landon, Robert D. Levin e Simon Andrews. Beyer, por exemplo, faz revisões na orquestração de Süssmayer para obter um estilo mais mozartiano; Robbins Landon escolheu orquestrar a partir do trabalho parcial de Eybler, julgando ser ele mais confiável quanto às intenções de Mozart; e ainda tem a descoberta nos anos 60 de um esboço de uma fuga para o “Amém”, que alguns musicólogos (Levin, Maunder) acreditam ser a conclusão do Lacrymosa, e que fizeram questão de colocar em suas edições… enfim, esse assunto está longe de ter uma conclusão….

  5. Caro Prof. David,
    Muito obrigado pela credibilidade e elogios ao nosso espaço.
    Sua visita é uma honra para nós! Apareça sempre!

    Caro Prof. Ticiano,
    Realmente foi uma grata coincidência…
    Fico feliz por perceber essa aplicação pedagógica do artigo.
    Isso nos incentiva e aumenta nossa responsabilidade.
    A difusão da boa música contribui para um mundo melhor.
    Agradeço a divulgação!

    Caro Pedro,
    Obrigado pelos parabéns!
    É impressionante perceber como Händel passeia pela obra mozartiana, não?!
    O que dizer da Grande Missa em Dó Menor (KV 427/417a), então?!
    Há um post que fala mais um pouco da influência barroca em Mozart:
    http://euterpe.blog.br/historia-da-musica/a-conexao-bach-mozart

    Valeu a dica, Adriano.
    O que será que resultou dessa… aventura?! (Medo! Rsrsrsrs!)
    Bom, com essas lacunas oficiais deixada no Requiem, que acredito definitivamente não existirem, como falei no post, muita gente aproveitou para exibir seu… talento. Para mim, nada supera a versão que Süssmayr completou com as idéias do próprio Mozart.

    Pois é, Jefferson.
    Bem lembrada a lista de “completadores” do Requiem. Muita gente séria experimentou o ousado exercício de preencher suas lacunas oficiais. Há propostas interessantes, mas certas sugestões não convencem. A de Robbins-Landon, por exemplo, deixou vazios inexplicáveis na partitura. Não me agradou muito. As pinceladas de Maunder, incluindo o Amen reinserido, ficaram mais interessantes. O próprio Maunder fez uma versão para a Grande Missa muito convincente. Em especial, o Credo ganhou impactante efeito na sua primeira parte.

    Abraços mozartianos a todos!

  6. Legal ver opiniões sobre as versões do Requiem aqui nos comentários, essa é mesmo uma curiosidade que eu tenho (renderia até um post nos moldes da série sobre a Décima de Mahler do Amancio. :)).

    Isso me lembra um álbum muito curioso gravado por Christoph Spering, com a tradicional versão do Requiem completado por Süssmayr E uma versão pelada, só com o que há nos manuscritos originais mesmo (embora seu verdadeiro estado de preservação tenha sido questionado pelo Fred neste post). Aqui mais informações: http://www.amazon.com/s/ref=nb_sb_noss?url=search-alias%3Daps&field-keywords=Requiem+Spering&x=0&y=0.

    Esse Spering tem também a melhor gravação que existe do oratório “Cristo no Monte das Oliveiras” do Beethoven pela Opus 111.

  7. Bem lembrada a gravação do Spering, Leo. Ele gravou também alguns arranjos mozartianos para obras de Händel.

    Há quem indique outras possíveis influências sobre o Requiem:

    a) o coro “And with his stripes we are healed” do Messiah (HWV 56) de Händel em relação ao “Kyrie” – perfeitamente possível e legítima, pelo intenso contato de Mozart com a obra do mestre alemão, por incentivo do erudito Barão van Swieten (para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=illszQK-YBo); e

    b) a chamada “Sinfonia Venezia” do mediano Bonifacio Domenico Pasquale Anfossi (1727-1797) em relação ao “Confutatis” – evidência considerada fraca e insuficiente; o compositor não mereceu atenção de Mozart nem menção em sua vasta correspondência, além de, aparentemente, não ter atuado em sua formação (para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=hyTiiJTVc_A).

  8. Falando em Pasquale Anfossi, vale lembrar que as árias “Vorrei spiegarvi oh Dio” KV 418 e “No, che non sei capace” KV 419 foram escritas por Mozart para serem inseridas na ópera de Anfossi, “Il curioso indiscreto”, ambas interpretadas pela soprano, cunhada e grande amor de Mozart, Aloysia Weber.

  9. Um dos melhores textos que já li sobre o Requiem. E olha que procuro muitas novidades sobre o assunto (normalmente, aparecem coisas que eu já sabia). Aprendi muito. Obrigado, Toscano.

    Uma gravação bem interessante que tenta respeitar ao máximo o que Mozart teria concebido é a de Norrington. Tenho também a de Hogwood, que gosto, apesar de questionar o corte das partes que “não seriam de Mozart” Concordo plenamente com Toscano (e com Harnoucourt, hehehe… quem sou eu?) sobre a autoria do Requiem ser inteiramente de Mozart. Aliás, o Benedictus é lindo demais. Não sei como pode haver dúvidas quanto à autoria mozartiana.

    Fiquei muito interessado nessa gravação citada pelo Leonardo. Vou adquirir.

    Grande abraço a todos.

  10. Esqueci de mencionar a interpretação do Requiem regida por Jordi Savall, outro que busca a autenticidade absoluta. Em sua gravação, Savall se preocupou até com a pronuncia do latim em Viena na época de Mozart.

  11. Caro Ricardo,
    Obrigado pela receptividade ao post! Escrever sobre uma obra-prima desse nível é um desafio muito sério, diante da vasta literatura já disponível. Sabemos que a confusão sobre a gestação da obra se iniciava nas fontes escritas: um sério problema cronológico entre fatos narrados. Relatos de contemporâneos de Mozart se misturavam e se contradiziam até que… surgiu a LUZ: as milhares de páginas publicadas entre 1792 e 1963 sobre o Requiem simplesmente podiam ser rasgadas!!! Em 1964, o grande musicólogo austríaco Otto Erich Deutsch (um verdadeiro benfeitor da humanidade) assombrou o mundo com um longo manuscrito sobre as origens do Requiem, que finalmente revelava os detalhes sobre a encomenda da obra, tal como a conhecemos hoje! Depois de mais de 170 anos após os primeiros anúncios publicados sobre o trabalho, a verdade aparecia!!! O precioso documento estava escondido nos arquivos de Wiener Neustadt (“Cidade Nova de Viena”), situada a 50 quilômetros ao sul de Viena. Havia sido redigido, em 1839, por alguém com conhecimentos de primeira mão: Anton Herzog (outro benfeitor da humanidade, que não tinha idéia da grande iniciativa que fazia ao redigir essa memória). Ele era Diretor do Centro de Informação e Regens Chori. Herzog era funcionário/músico e amigo do Conde Walzegg e narrou os hábitos/costumes musicais, rituais e rotinas do patrão. Algumas curiosidades do documento:
    a) “o Conde tocava violoncelo nos quartetos e flauta nos quartetos de flauta. (…) A parte para flauta era de fácil execução enquanto as outras partes eram extremamente difíceis, o que obrigava os executantes a um grande esforço e constituía motivo de riso para o senhor Conde”;
    b) “uma vez que o senhor Conde nunca queria tocar com partituras editadas, ele as fazia copiar primorosamente em papel de dez pautas onde nunca se anotava o nome do autor (…) nunca vimos uma partitura original (…) tínhamos que adivinhar o nome do compositor”;
    c) “ele [o Conde] quis erigir um memorial duplo para ela [a Condessa] e para tanto teve uma excelente idéia: conseguiu através de seu representante comercial, o senhor Dr. Johann Sortchan, Advogado da Corte e do Judiciário, que um dos melhores escultores de Viena [Johann Martin Fischer, 1740-1820] moldasse um epitáfio, e que Mozart compusesse um Requiem para o qual ele (o Conde), como sempre, reservou o exclusivo direito de posse”;
    d) “SÜSSMAYR ADMITE em cartas aos editores (…) em Leipzig que DURANTE A VIDA DE MOZART FREQÜENTEMENTE TOCOU E CANTOU COM O COMPOSITOR AS PARTES QUE JÁ TINHAM SIDO COMPOSTAS (…) E QUE ELE (MOZART) GERALMENTE DISCUTIA O TÉRMINO DESTA OBRA, COMUNICANDO A SÜSSMAYR A FORMA E AS RAZÕES DA SUA ORQUESTRAÇÃO”;
    e) “Portanto, O SENHOR CONDE VON WALSEGG JAMAIS RECEBEU UMA NOTA SEQUER DE TODO O REQUIEM ESCRITA PELA PRÓPRIA MÃO DE MOZART” [SEGUNDO ROBBINS-LANDON, A CÓPIA DE WALSEGG CONSISTIA DA PARTITURA DE MOZART ASSINADA POR SÜSSMAYR!].
    E acredito que documentos ainda mais incontestáveis serão encontrados.
    Abraços sempre mozartianos!

  12. HOJE: 220 ANOS DA MORTE DE MOZART

    Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus MOZART
    (27 Janeiro 1756 – 5 Dezembro 1791)
    Requiescat in pace +

    Dia especial para ouvirmos o seu Requiem em sua própria memória.

  13. Frederico,
    Esplêndidas as relações que vc faz com as Exéquias de Schuetz e com “The ways of Zion do mourn”. Concordo que elas existem. Talvez eu nem percebesse exatamente que o início do Requiem tem muito a ver com o” Requiem Anglicano” de Handel. Eu estava mais acostumado com a relação entre o Kyrie e o Finale , em fuga enérgica, e o “And with His stripes we are healed”, como vc mencionou em comentário posterior.
    Seja como for , aqui no Requiem , Mozart colocou para fora o que ele poderia fazer de coralismo potente, no Requiem, Dies Irae, Confutatis, Lacrimosa, Domine Jesu.. E, no final, a soprano retoma o motivo do coral do início, algo que Verdi faria semelhante. É magnífico.
    Mozart prova aqui seu domínio de todos os recursos e gêneros. Além disso, nas leves citações de Schuetz e Handel, faz uma reconciliação entre a Contra-reforma austríaca e a música protestante.

  14. Obrigado, Wanderson. É uma obra de riqueza inesgotável.

    Caro Flavio, foi verdadeiramente providencial Mozart ter tido grandes mergulhos em Händel e Bach, graças ao Barão van Swieten. São essas criaturas que apareceram nas vidas dos nossos mestres que merecerem todas as homenagens do universo! O mesmo com Durazzo na carreira de Gluck etc. Na linha do que você colocou, o Réquiem de Mozart não é apenas uma obra sacra, mas a consolidação e ápice da Música Ocidental, ouso dizer.

    Abraços!

  15. Trabalho excelente, parabéns.

    Agora, desculpem mas a pronúncia do latim do coro nessa gravação de Karajan está horrível, não? O momento mais “constrangedor” é no “et lux perpetua”, que ao invés de soar “perpétua”, como seria mais próximo do latim, ficou mais para “pér-pítua”!

  16. Frederico, cumprimentos mozarteanos.
    Estou até agora sem fôlego, após ter podido me deliciar com “O” Requiem do meu adorado compositor Wolfgang Amadeus Mozart. Principalmente depois de ter lido seu maravilhoso texto onde pude confirmar a minha opinião de que aluno nenhum teria a capacidade de compor uma obra como o Requiem! Extremamente elucidativo e de fácil compreensão, ao menos até a parte onde você explica a música, a qual, sendo leiga no assunto, fiquei sem entender a maior parte. Mas, de qualquer forma, muitíssimo obrigada por acabar, de vez, com minhas dúvidas e, ainda me brindar com um belíssimo concerto regido por Von Karajan. Abraços.

  17. Obrigado pelo apoio e incentivo, Rosemary.
    Realmente, o Requiem é um universo inesgotável de aprendizagem e prazer musical.
    Quanto mais se estuda essa obra, mais novidades aparecem e nossa admiração por ela aumenta.
    Apareça sempre no nosso blog.
    Abraços mozartianos!

  18. Nunca dei atenção a Mozart e assim foi por um tempo,mas quando ouvi o réquiem pela primeira vez só me restou cair de joelhos mais nada.

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