19abr 2017
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Dois vídeos da Sequenza III de Berio

Luciano Berio e Cathy Berberian
Luciano Berio e Cathy Berberian

Encontrei ontem estes dois vídeos da Sequenza III de Berio, e desde então passei a encarar esta obra de uma forma diferente. Vamos ver o que vocês acham disso.

O italiano Luciano Berio (1925-2003) passou a vida inteira escrevendo pequenas peças, “sequências” como ele chama, para vários instrumentos solo. A primeira Sequenza é de 1958 e foi escrita para flauta; a última, a Sequenza XIV, é para violoncelo e foi escrita em 2002. Cada Sequenza explora ao máximo os limites do instrumento – e às vezes até inventa umas coisas novas para o executante se divertir um pouquinho. Só não espere encontrar melodias mozartokianas ali, porque estamos falando de um compositor moderno, serialista e que escrevia inclusive música eletrônica!

As Sequenzas são inspiradas em versos do poeta Edoardo Sanguineti, porém a única Sequenza escrita para voz humana é baseada num texto de Markus Kutter:

Give me a few words for a woman
to sing a truth allowing us
to build a house without worrying before night comes.

Em tradução livre:

Dê-me umas poucas palavras para uma mulher
cantar uma verdade deixando-nos
construir uma casa sem nos preocuparmos antes que a noite chegue.

Esta Sequenza, a terceira, foi escrita em 1965 para a ex-mulher do compositor, Cathy Berberian, e não contém apenas “canto” mas inclui sussuros, risadas, sons não-articulados, suspiros e outras formas de som produzidos pela voz humana. Ouvindo, tudo soa meio aleatório e desconexo, mas ao seguir a (estranha?) partitura a coisa parece ter mais sentido:

Não sei vocês, mas eu fiquei meio hipnotizado pelo vídeo. Uns podem gritar, “isso não é música!”, e até parece que estou ouvindo uma amiga minha dizer, “quando eu chego em casa cansada do trabalho, eu quero ouvir uma música para relaxar, e não algo que me provoque desconforto”, e ok, vocês estão certos. Mas há momentos em que você quer mais é “viajar”, exercitar a imaginação, ou mesmo ouvir algo diferente do que está acostumado. E é assim que assistimos vídeos como o próximo, da mesma Sequenza III de Berio mas interpretado (no melhor sentido da palavra) por Laura Catrani:

Livrem-se dos preconceitos e respondam abaixo: sinceramente, o que vocês acharam?


Este post tem 57 comentários.

57 respostas para “Dois vídeos da Sequenza III de Berio”

  1. Essa sequenza é sensacional, aliás eu acho todas extremamente interessantes, em particular acho sensacional a sequenza VII para oboé. O modo como ele aborda a idéia das melodias polifônicas, tem um vídeo no youtube onde o compositor brasileiro Flô menezes fala um pouco sobre as sequenzas. http://www.youtube.com/watch?v=ApKrdpnIwy8

  2. Na minha opinião, você, autor deste texto, coloca um ponto de vista demasiado pessoal e sem bases, ou seja, sem conhecimentos prévios que deveria ter da música de há poucos anos para trás.
    Em primeiro lugar, a frase “às vezes até inventa umas coisas novas para o executante se divertir um pouquinho” é, no mínimo, ridícula. Acho que Luciano Berio não é nenhum compositor pop para se estar a referir dessa forma.
    Em segundo lugar, a admiração “escrevia inclusive música eletrônica!” também não tem fundamento. Hoje, a maioria dos compositores escrevem para música eletrónica. Aliás, faz parte do ensino de um compositor no ensino superior português ter disciplinas relacionadas com eletrónica.
    Em terceiro lugar, não soa “meio aleatório e desconexo”. O problema é das suas expectativas e das comparações que faz com a música do período clássico e romântico (notou-se também quando referiu melodias mozartokianas). A semelhança, a estrutura, a clareza dos eventos, tudo está lá. Aleatório não poderá ser porque ele repete sons e ideias!
    Em quarto lugar, quando diz que a partitura é estranha, é razoável dizê-lo porque é algo não comum. Mas a partitura bem estudada torna-se simples.
    Em quinto lugar, acho o último parágrafo chocante! Porque é que alguém haveria de gritar “isso não é música”? Acho que chegar a este ponto revela um enorme deconhecimento da história da música europeia e dos restantes povos. Este texto está baseado numa comparação com as obras mais populares da época clássico-romântica e afirma que música é apenas aquela que dá emoções que essa época dá.
    Em sexto lugar, embora discutível seja a matéria do “desconforto”, esse ponto de vista é muito brejeiro porque está a afirmar a total rendição da música a um prazer individual e de fuga aos problemas do dia-a-dia. (Não se esquecer também que a música é para concerto e que as gravações que ouvimos nos nossos leitores ou computadores apenas são registros de interpretações que são reproduzidos por colunas -> som não genuíno). Mas se a sua amiga quer “relaxar”, tem a oportunidade de se deliciar com o prazer masturbatório que a música pop lhe propicia. Eu encontro prazer na Sequenza. Se você se fechar a este mundo como está fazendo, obviamente que nunca o encontrará.
    Em último lugar, a interpretação no último vídeo é muito boa e não tem nada de estranho porque o drama nos cantores está bem presente no repertório que você tanto quer comparar: o clássico-romântico.
    Espero que eu tenha ajudado.

  3. Olá Luís, obrigado pelo comentário!

    Vejo que vc já faz parte do grupo que aprecia música moderna/contemporânea e, portanto, não precisaria ser apresentado às Sequenzas de Berio. Não escrevi o post pensando nos fãs de Berio, mas sim naqueles que orbitam entre os nomes de Beethoven, Mozart e Chopin; não há como negar que, se a pessoa começa a ouvir música clássica com obras de Mozart, ela provavelmente terá dificuldades em apreciar a música pós-Schoenberg. O texto, assim, tem a leveza de quem quer provocar esse ouvinte, desafiando-o a testar seus limites, e afastando a idéia de que essa música só é acessível aos “experts” e “iniciados”. Pelos seus comentários, creio que atingi meu objetivo.

    Recomendo um outro post que escrevi um tempo atrás sobre 4’33” do Cage, também usando a mesma linguagem “pessoal e sem bases”. Mas o melhor daquele post foi a discussão nos comentários que, espero, se repita aqui.
    http://euterpe.blog.br/historia-da-musica/433

  4. Caro Amancio,

    De facto, o inteletualismo de parte de música contemporânea pode ser criticado pelo fato de poder haver a necessidade de ser percebido anteriormente. Mas arte é arte. O problema não é a forma como eles o fazem, mas sim as pessoas que têm expectativas fúteis, superficiais. Aconselho-o a uma auto-reflexão artística. Há verdades inegáveis que uma obra de arte contém e não é preciso examina-la profundamente para a classificar de boa ou má.
    Você está ofuscado pelo brilho do passado e pelo desconhecimento do panorama atual da música. Até há compositores que misturam essas “complexidades” com rock e pop! Mas é de realçar que há cada vez mais estreias de obras dos novos compositores e um panorama cada vez melhor para a música atual. Conheça-a, sinta-a, não a julgue com base no que se passou no passado. São métodos diferentes, tradições que acabaram, etc.
    Não é música pós-Schoenberg que se chama porque a música contemporânea não é só a corrente expressionista da sua escola. Existe tanta diversidade que até dói ver que as pessoas não a conhecem.

  5. Isso ai só é interessante sob o ponto de vista do experimentalismo e da proposta do compositor, que é a de explorar novas possibilidades do instrumento, no caso, a voz. No mais, quem já não ouviu esses efeitos em qualquer peça de teatro contemporâneo? Os atores improvisam na hora o que o senhor Berio levou anos estudando e codificando numa complexa partitura. Muito interessante, com certeza, mas não ouviria uma terceira vez.

  6. Luís,

    Você julga o conhecimento do Amancio a partir da abordagem que ele escolheu para convidar um público abrangente a ouvir a Sequenza III do Berio (e mesmo nesse sentido eu sequer vejo como essa abordagem exclui um público especializado, porque vejo esse convite sendo feito de modo aberto a todos os ouvintes no que todos podem ter em comum: interesse por música). Para o efeito da sua identificação com outros tipos de abordagem, eu sugiro os posts publicados sob a categoria “Análise de obra”, que se propõem mais propriamente a analisar uma composição considerando alguns dos seus rudimentos. Mas para o valor da abordagem deste post, observe como a sua crítica a ele não se aplica logicamente:

    – Quando você diz ao Amancio algo como “você não pode dizer que tal coisa ‘a princípio pode parecer aleatória e desconexa’, porque essa coisa simplesmente não é aleatória e desconexa!”, a primeira afirmação que você critica (“a princípio isto pode parecer aleatório e desconexo”) não anula a segunda afirmação que você defende (“essa coisa não é aleatória e desconexa”), pelo contrário: a primeira afirmação pressupõe a segunda, porque claramente prepara um leitor que possa ter vindo a pensar apressadamente a primeira afirmação a considerar a segunda, observando que, embora ele possa ter tido aquela impressão, o processo de compreensão da obra não acaba ali e uma observação mais atenta pode lhe revelar a coerência que lhe escapou a princípio. Nesse sentido o que o Amancio sugere é exatamente o que você defende: a possível familiaridade com a obra em uma audição atenta, o que mais uma vez situa o seu desconforto com a abordagem, e não com o entendimento nem com o conhecimento do Amancio da obra (que, embora você se apresse em julgar, ele sequer se preocupa em desenvolver no post, preferindo valorizar o convite à audição em si).

    – Todas as suas outras críticas se referem à linguagem utilizada pelo Amancio, que destaca e relativiza possíveis preconceitos e impressões apressadas sobre o tipo de música em questão para em seguida encorajar todos os ouvintes a ouvirem a obra do Berio, mesmo que eles normalmente tenham aqueles preconceitos e impressões apressadas. Mas você descontextualiza essa linguagem, atribuindo os possíveis preconceitos e impressões apressadas destacadas no texto ao próprio autor do texto! Era pra ter ficado clara a ponte que o texto faz entre uma possível impressão do leitor e a validade do conteúdo da obra, que justamente assim o Amancio consegue mostrar contra aquelas possíveis reações de algum leitor. Se você já se encontra do outro lado dessa ponte, deveria compreender mais do que ninguém esse caminho sendo estendido como convite a quem ainda não o alcançou.

    Mas o mais estranho é que a sua incompreensão da simples abordagem do Amancio o autorize a julgá-lo de tal modo que você passa a palestrar como se ele fosse um leigo. Em primeiro lugar, se a música do Berio não foi escrita apenas para especialistas (o que sequer seria um problema para o Amancio, que é músico formado, e talvez mesmo pra mim, que não sou preguiçoso), então é possível tratá-la de maneira comunicativa – você contestar uma frase gratuitamente como ridícula e compará-la ao tratamento a um músico popular (?!) revela apenas beletrismo e absolutamente nenhum fundamento. Em segundo lugar, a proposta do post não era analisar a obra – quando aí sim a apresentação do seu sentido, contra qualquer impressão imatura, deveria ficar exposta -, mas convidar todo tipo de ouvinte a ouvi-la com esses dois vídeos. Então qual é o sentido de você palestrar sobre o sentido da música contemporânea como se essa tivesse sido uma proposta frustrada do post?

  7. Achei interessante a frase do Luís, “Conheça-a, sinta-a, não a julgue com base no que se passou no passado.” Eu acho difícil esquecer o passado para ouvir o novo. Aliás, quando Bério escreveu sua Sinfonia, o compositor faz um percurso pela música do século XX, sua música que nos ensina história, conectando o passado ao presente. “Keep Going!” só faz sentido com base no passado. No entanto a escola não frutificou, a música das últimas décadas não floresceu. Lembramos de Berio ou Stockhausen por causa da música que criaram, a escola deles morreu. Creio que o próprio compositor Gilberto Mendes disse algo parecido num podcast da revista concerto.

  8. Em uma primeira audição confesso que me senti incomodado, não somente com a maneira que o compositor empregada às técnicas vocais, mas, também, por não conhecer ou não ter a mínima ciência da estética (se é que podemos dizer que Berio possui uma estética) do compositor. Do ponto de vista composicional, obras deste porte são consideráveis, porém, do ponto de vista do ouvinte há controvérsia, explico: Ao que parece os compositores dos movimentos denominados moderno-contemporâneos não possuem, propriamente, uma estética, não se vinculam a uma escola que postula os propósitos de tais experimentos. Dizer que experimentam por experimentar é tolo demais, dizer que experimentam porque não há possibilidade e porque é considerado anacrônico compor sobre formas musicais anteriores, ditas agora ultrapassadas (eis um ponto não tão pacífico) por uma parcela do público e, fortemente apoiadas por afirmações vindas dos próprios compositores é um artifício muito pequeno, e bastante usual por qualquer um do nosso tempo, que se proclame o próprio sujeito que rompe laços com o passado. O ouvinte fica assim, sem conseguir compreender se estas composições são tão somente experimentos, ou se o compositor tem em vista voos maiores para alcançar uma composição vista como um todo coeso.

  9. Luís não entendeu o post de Amancio, mas isso não é culpa dele. Isso se deve, a meu ver, a diferenças entre o português de Portugal e o português brasileiro, além de outras diferenças culturais entre os dois países. Isso se deve a outros tipos de diferenças também…

  10. Para quem gosta de estrutura, é um prato cheio. :D

    Mas sinceramente, eu não gravaria esta música no meu iPod.
    Me esclareçam uma coisa por favor, qual é a vantagem em criar novas estruturas que visam mostrar uma estética visual, como por exemplo nesse caso da Sequenza, onde sem a partitura você se perde, mas com a partitura você identifica as boas idéias da música? Não seria melhor apenas ler a partitura? Parece um sincretismo entre arte visual e sonora…(para mim)

    Se o objetivo da arte não é necessariamente gerar alguma espécie de prazer no ouvinte, qual seria? simplesmente inventar novas estruturas que difiram dos estilos de época precedentes?

    Beethoven, Debussy e Stravinsky conseguiram inovar sem perder esse aspecto prazeroso de ouvir uma música erudita, mesmo na Sagração da primavera, colocando a percussão como carro chefe (o prazer nesse caso seria a adrenalina que a música causa, na minha opinião). Aí você tem a música de Stockhausen que é cheia de grunidos, tosses, assobios, e outras interferências inusitadas… Sério que tal estilo contemporâneo gera alguma sensação que não seja espanto?
    Causa, em vocês que apreciam, o que? Qual é o aspecto nessas música que vos atrai?

    O único que consegui aceitar, com muita dificuldade e muitas audições, foi Iannis Xenakis. Ouçam a N’Shima dele. É extremamente contemporânea e atonal, porém de alguma forma que não sei explicar, gostei!

  11. Raffael,

    É verdade que há algo de improvisatório nessa composição, ela incorpora isso e eu lembro que, identificando como momentos assim aparecem especialmente intermediando os trechos que são mais propriamente cantados da letra do poema, eu os interpretei como retrato do “worrying” a que as palavras do poema em si viriam acalmar. Como retrato de uma pluralidade expressiva que contrasta com esses momentos mais discerníveis nos momentos da leitura do poema, a composição emula algo de caótico. MAS eu não diria nem que a composição como um todo nem que até mesmo essas passagens específicas se tornam equivalentes a um improviso dramático de um ator, por causa de um dado essencial: cada um dos sons corresponde a notas musicais, há afinação (o que torna o trabalho do intérprete necessariamente controlado nessa medida), um sistema musical é usado para comunicar essa sonoridade. Isso me deu a sensação (pelo menos a mim) a todo momento não de algo aleatório, mas ordenado e controlado mesmo, ainda que com o uso de ruídos e “texturas” nessa estrutura. Uma leitura muito interessante de um possível sentido dessa obra, pra quem duvidar, pode ser vista aqui: http://www.sequenza.me.uk/Sequenza_web.htm.

    Bosco,

    Muitíssimo bem observado. É verdade que ninguém precisa complicar ainda mais o contato com a música contemporânea, pois se despojar de preconceitos ajuda a deixar a imaginação ser estimulada livremente, mas acho que a consciência de uma tradição histórica significa justamente ser capaz de dimensionar as possibilidades que uma composição realiza em suas atitudes. E se as conclusões a partir dessa consciência forem ainda mais chocantes, que não se tenha medo! Às vezes é isso o que torna a reação ainda mais vívida diante do que é “novo” mesmo.

    Diego,

    Achei muito interessante a sua reflexão, esse é um possível dilema muito sincero do ouvinte. Mas acho que há, sim, casos de estéticas às quais alguns compositores tentam se filiar com suas obras, há projetos, poéticas, manifestos – isso tudo é tipicamente moderno. Aliás, em meio a esse grande dilema contemporâneo de uma relativização que deixa o compositor livre até demais, muitas vezes são esses projetos que se tornam o parâmetro pelo qual um compositor tenta tornar a sua obra relevante, expondo ambições artísticas objetivas. Mas ao dilema que você descreve e que me parece muito bem percebido, eu encorajaria o ouvinte a ignorá-lo! A fruição da obra, na verdade, não depende de que se julgue se a intenção do compositor é mais ou menos livre – que a obra mostre a sua qualidade em si e que o ouvinte decida por ela se gosta ou não do que ouve.

    E Caio,

    Não acho que a Sequenza III seja o caso de uma composição que depende de partitura pra ser apreciada, acho que ouvintes mais familiares à música contemporânea podem apreciá-la perfeitamente sem a partitura. O que o post trouxe foram esses dois recursos pra que o sentido da obra – caso não seja espontâneo pra todo mundo – fique mais claro.

    Sobre a música ser ou não agradável, acho que o Amancio faz um comentário muito verdadeiro no próprio post: a graça aqui está em ter a imaginação estimulada, e isso não é qualquer coisa que é capaz de fazer. Depende de engenho, depende de provocar e de satisfazer o intelecto e os sentidos.

    De todo modo, música contemporânea não se resume a experimentações, de maneira nenhuma – essa seria uma generalização absurda! MAS já escrevi demais e depois comento minhas impressões sobre a obra.

  12. Leonardo, estou tentando conhecer mais sobre esse tipo de música, o que você recomenda? As que não sejam música de laboratório…Alguma coisa para iniciantes mesmo…
    Tem uma do Cage que eu acho a coisa mais linda para piano. Se chama ‘In a landscape’. Parece muito uma obra impressionista, cheia de melancolia, mas sem desesperos e lamentações, apenas uma tristeza conformada. É bonito demais! E esse cara faz arte desse grupo contemporâneo.

  13. Caio, confesso que mal sei por onde começar, mas há de tudo. Alguns canais no YouTube com música contemporânea pelos quais é bom conhecer coisas novas: http://www.youtube.com/user/GoldieG89, http://www.youtube.com/user/Hexameron, http://www.youtube.com/user/NewMusicXX e http://www.youtube.com/user/TheWelleszCompany. Recentemente o Adriano também postou na “Ilha Quadrada” no Facebook a Sexta Sinfonia do Martinu, escrita nos anos 50, e é uma maravilha – acompanhe a página por lá se puder, que está sempre apresentando de maneira bem convincente (e entusiasmante) um repertório que vale a pena: https://www.facebook.com/iquadrada. E pra citar alguns nomes, eu citaria dois com uma produção variadíssima e sempre curiosa: o Messiaen e o Schnittke. Ah, de minimalistas como o Cage tem o John Adams, com obras muito legais.

  14. Eu poderia ter ficado calado, na minha, mas Amancio nos pediu sinceridade e eu acho que ele não vai ficar aborrecido, porque quando alguém me pede para ser sincero eu costumo ser muito sincero. Lógico que seu texto está adequado, coeso, sensato, como sempre. Então me permitam continuar sendo sincero.

    Pra mim não interessa o que foi dito nos 16 comentários acima, como também não me interessa se Luciano Berio foi um mestre da música, se ele era grande estudioso ou conhecedor dessa arte. Interessa que isso que acabei de ouvir pra mim não passa de uma tremenda bobagem.

    No fim do vídeo onde “canta” a mulher, o youtube disponibiliza outro vídeo, com outra Sequenza, aqui para instrumento de sopro, e que eu também considero criação inteiramente imbecil. Eu nem me arriscaria a incluí-las no movimento dadaísta, muito menos considero que sejam obras de vanguarda.

    Por mais hipócrita que vocês me julguem parecer, absolutamente em nenhum momento eu me senti impressionado por sonoridades inusitadas ou extravagantes ou inéditas ou surpreendentes ou seja lá o que for. Tudo me pareceu completamente rasteiro, superficial, primitivo.

    E aqui eu vou encerrar de maneira bastante precária: a arte é julgada pelo nome do nosso favorito. Se o nosso pintor favorito assinar a tela melada de tinta por seu gato de estimação (sem que saibamos desse detalhe), aquilo se parecerá muito melhor do que uma tela surreal de um autor que não gostamos. Se quisermos, podemos tecer infinitas idéias sobre cada milímetro da tela, imaginar as mais surpreendentes conjecturas, e o tamanho da obra é proporcional ao tamanho do nosso esforço.

    Se eu quiser, passo o resto da noite escrevendo baboseiras sobre qualquer assunto que me vier à mente, mas uma coisa eu digo com toda convicção, e também livre de qualquer tipo de preconceito: eu teria uma vergonha imensa de incluir essas sequenzas no rol daquilo que chamamos música erudita.

  15. Queria colocar para voces que devemos respeitar os limites de cada pessoa e os limites tambem impostos por cada pessoa. Eu, por exemplo, me coloquei como limite Bartók, Stravinsky e Schoenberg e seus pupilos, nao desejo ir alem disso. Já me acho um ser de outro planeta em gostar da quinta sinfonia de Bruckner e das obras de Webern. Nao sei se quero ir além disso. Mas, respeito quem pára lá atrás em Bach, Haendel, Vivaldi. Melhor do que nao ter gosto musical algum.

    Minha colocação final é: se alguém não se sente confortável em determinada escola ou periodo da musica, deve insistir um pouco mais prá ver se dá prá ir adiante, se depois de muitos anos, não deu, pronto! A pessoa chegou em seu limite natural. Música erudita é como conhecimento em Fisica ou Matematica. Existem niveis… nenhum professor é obrigado a alcançar niveis elevados, se nao vai usar ou se nao lhe dá prazer ir além. Tudo tem seu limite. Mas, acho que a pessoa deve tentar passar pelo limite; acho que o maior bem que este blog traz é abrir as possibilidades e apresentar os limites às pessoas. Voces estao de parabens.

  16. Não só gostei como fiquei apaixonado por esta obra! Comecei a ouvir às demais Sequências e continuo fascinado. Muito obrigado por terem me apresentado tal obra-prima!
    Coincidentemente, nesta sexta assisti a uma homenagem a Luciano Berio, onde foram apresentadas Eindrücke, Requies (homenagem a Cathy Berberian) e sua Sinfonia, obra que sempre quis escutar ao vivo. Acontece que moro em Turim e Berio foi lembrado em razão dos dez anos de sua morte.
    Um abraço e meus parabéns ao blogue!

  17. Senhores Amancio e Luciano, se vocês desejam que iniciantes que ouvem mozart e chopin escutem algo diferente que tal postar um compositor mediano moderno e não este compositor menor que é Berio. Este italiano só escreveu uma única obra-prima, diante da sua Sinfonia para orquestra e 8 solistas, eu me rendo, mas, estas sequencias que não são importantes, ninguém é obrigado a aturá-ras. Ai quando alguem faz uma critica sobre elas, voces atacam logo como se fossem o advogado de Berio. Berio nao chega aos pés de um Messiaen, quanto mais de um Mozart…Berio é menor, tanto quanto Stockenhauser….

  18. Eu sou DOIDO por esta obra. :-)
    É um dos meus sonhos de consumo analisá-la. Porém, antes de mais nada, eu preciso comprar a partitura, dar uma olhada no Cru e o Cozido de Lévi-Strauss (no qual parte da Sinfonia é baseada) e fazer uma tradução básica. Vou levar alguns anos ainda nesse processo.

  19. parece muito com o que faço
    quando estou no banho … haha ><'

    brincadeiras a parte ,
    achei interessante a tal 'sequenza' , embora eu deva admitir que a senti mais como um exercício curioso do que como aquilo a que estou acostumado a perceber como … bem , 'música' !! principalmente pelo fato de ter me envolvido , em algum momento , com teatro e coral . essas variações de 'humor' progressivas e abundantes indicações de staccato , tem muito em comum com os exercícios de aquecimento utilizados n'estes dois ambientes .

    * * *

    há quem diga que uma aria ou peça coral de mozart ensine/requeira bastante . e isso é uma verdade razoável : qualquer um que consiga passar com louvor por todo aquele melisma do kyrie de seu requiem em andamento lento , vai adquirir um bom controle respiratório e cantar com muita facilidade outras coisas . ouvindo e assistindo os vídeos elencados acima , fiquei com a mesma impressão . interpretar esta 'sequenza' não é pra qualquer um – 'uma' no caso – e deve ser decerto uma experiência enriquecedora para quem se propõe a executar cada pormenor que requer a partitura .

    O_o'

  20. concordo, lucio, que como exercicio talvez seja interessante para quem executa, mas, ninguem, em sua sã consciencia, é obrigada a apreciar estas sequencias, como se fossem musica. Nao é, e pronto! Por isso se chama sequencia. Prender uma pessoa na cadeia e colocar mozart 24h nao chega a ser uma tortura, porque mozart faz musica…colocar isso, seria uma tortura…garanto que ninguem ouve isso e só se coloca isso aqui em nível de curiosidade ou prá exibir uma erudição que não se tem. Sabe aquela coisa de guri coroa de mostrar o carro novo que adquiriu, cheio de acessórios interessantes que ele nem vai usar ao longo do ano?

  21. mas você sabe …
    há quem diga e sinta que é música ,
    mesmo – fato curioso – em sã consciência .

    quanto a mim , não sei exatamente em que tempo , ou quem começou com isso [e também não saberia dizer se é apenas ingenuidade minha] … mas às vezes sinto como se ouvesse algum tipo de ‘competição não declarada’ entre os apreciadores da chamada música erudita pra ver quem é o mais bacana . em alguns comentários , espalhados pela blogosfera , sinto o aroma do mito de que aquele que CONSEGUE/ESTÁ APTO a ouvir desde as interpretações de eduardo paniagua sobre a música na grécia antiga até a última excentricidade exibida na feira musical do fim de semana passado , é o sumo apreciador – não ser assim é ser antiquado , limitado .

    é como se alguns [não todos , certamente] ouvintes se guiassem por um imperativo fictício de dar as mãos ao tempo e seguir com ele n’uma marcha obrigatória ; quebrando o que chamam de paradigmas , ou preconceitos , ou ainda limitações !!, como se realmente tivessem de forçar a si mesmos para ostentar esta tal ‘erudição que não se tem’ . é até provável que se sintam apreensivos e menores se alguma ‘música moderna/contemporânea’ lhes embrulha o estômago porque , afinal , estes superouvintes devem se ‘alimentar’ de tudo . fico pensando se esta gente iria se obrigar a ouvir todo o tipo de música popular se caso fosse este seu gosto .

    enfim , é apenas um impressão … e como toda impressão tem tudo para ser falsa ou desnecessária – apenas um engodo sensorial . uma impressão que ademais não se aplica aos que , ‘por criação’ , são cheios de curiosidade e sentem prazer sincero na descoberta , mas aos que se dão a uma vã corrida para diminuir os outros – para se sentirem n’um topo que sequer existe .

    amém , :/

  22. Acho estranho supor que a música evoluiu ATÉ a música moderna, como é o tom de alguns comentários. Comparações são inevitáveis mas não é uma gradação ou evolução … de Bach a Penderecki. Desde que existe passado e futuro há os que defenderão como melhor momento da humanidade ou um ou outro. Não é excludente. Dá pra apreciar tudo, ao mesmo tempo e com a mesma dignidade. Coisas antigas soam mais naturais, por termos ouvido demais – mas isso implica também em certo cansaço de ouvir sempre o mesmo, o que nos faz buscar novos conceitos. Os novos conceitos só depreciam os antigos no momento mesmo em que são formulados. Logo logo estão juntos sob o título de música erudita. Se Vivaldi, Bach e Mozart são sinônimos do que entendemos por música é que eles são antigos e repetidos ad eternum. Quando Penderecki, Berio e Xenakis tiverem sido tocados ad eternum soarão como música, mas então haverão outros conceitos mais modernos e debatedores acirrados de um lado e de outro e a música parecerá a ambos coisas distintas, ad eternum.

  23. É, Lucio, voce conseguiu em breves linhas traduzir todo o meu sentimento em relação a este assunto. Sempre fui, desde criancinha, extremamente curioso em relação a musica e vasculhei amplos ambientes entre jazz, trilhas de filmes, rock, MPB, musica folclorica de varios paises, musica popular da America Latina, europeia e USA, até que me bateu um insigth em relação a musica erudita e eu nao consigo mais ter muito prazer em ouvir musica de entretenimento, a favor da musica séria…mesmo a musica de entretenimento dentro do universo erudito nao me diverte tanto…tipo valsas de Strauss Jr, musica de cabaret, greatest hits erudito, etc. É como droga. Quanto mais complexa a musica, quanto mais rica, eu sinto mais prazer…porque meu prazer em ouvir musica é intelectual e nao envolve tanto o sentimento. Su meio analitico, quando se trata de ouvir…sendo que não me sinto estimulado a gostar de coisas estranhas, olha que eu ja tentei muito me acostumar com Berio, mas, nao sou obrigado a persistir, uma vez que nao deu “lombra intelectual”, entende?

    Gilson, eu te garanto que Berio nao vai ser tocado daqui ha 100 anos. E mesmo que seja, ninguém tem obrigação de aceitar uma linguagem “tão avançada” ao seu tempo. Me soa infantil e arbitrária essa musica. Voce pagaria 200 reais para ir a um concerto de Berio? É bom termos conhecimento sobre o que vale ou não investir, porque John Cage e Philips Glass teveram aqui em minha cidade prá dar um concerto e eu simplesmente nao paguei a fortuna que cobraram no teatro, apesar de ter o dinheiro, pois, já conheço e nao me diz respeito. Alias, a grande maioria da musica feita depois da decada de 70 do seculo passado nao me diz respeito.

    Quem gosta de Berio já enlouqueceu em sua busca por novidades musicais…é preferível manter a sanidade e ouvir mais do seculo XX. Afinal, a cada audição de o Barba Azul e de outras obras primas modernas, descubro coisas novas…este é o meu ponto de vista que defendo aqui. Já posso ser visto como louco pela humanidade por gostar de Berg e Webern…imagine em que ponto sem volta chegaria se passasse a admirar Berio? Tenho medo, nao quero me afastar tanto assim da humanidade e me tornar uma aberração isolada.

  24. Eu faço parte do time que pagaria R$ 200 pra ir a um concerto de Berio. E eu sei que não estaria sozinho. :-)

    O mais curioso é que essa ojeriza por música/contemporânea não é algo “novo”. Basta ler as críticas que Hanslick escreveu sobre Wagner, seu contemporâneo. Sobre o concerto para violino de Tchaikovsky, ele chegou a escrever que “a música fedia no ouvido”.

  25. Depois da possível vaidade do ouvinte que arroga apreciar certas vanguardas contemporâneas exposta pelo Lucio, eu proponho outra possível vaidade do lado oposto: o ouvinte que, sem qualquer familiaridade com a música escrita nos últimos cem anos, e mesmo assim abrindo mão de qualquer humildade, descarta facilmente uma obra musical como fraude e como parte de um fingimento universal de uma conspiração que há mais de cem anos mobiliza pessoas, universidades e festivais de música pelo mundo todo a nos enganarem a respeito do que seja arte, simplesmente porque ele é incapaz de apreciar essa obra musical. Não é essa vaidade muito mais grosseira e flagrante?

    Ninguém é obrigado a gostar de coisa alguma, nem mesmo de coisas boas (de fato, mesmo reconhecer que algo é bom não obriga ninguém a gostar desse algo), mas já passamos da idade dessa conversa mole que reivindica o status de arte de obras musicais escritas desde há cem anos. Será possível que isso seja arte e você é que seja uma besta quadrada? Sim, é possível, e lutar contra isso é assumir o papel de “Homem massa” do Ortega y Gasset, que se repugna com a erudição que ele não compreende e luta pela sua destruição. Vamos acordar, gente, não estamos mais em 1913.

  26. Amancio,

    Vale lembrar, aos desavisados é claro, que Berio não escreveu só as “sequenzas”, há várias outras composições de Berio que poderiam agradar inúmeros ouvintes, eu, por exemplo, gostaria de ver o Berio da música eletrônica (por conta deste movimento fazer algumas parcerias com outros movimentos). Portanto, é completamente aceitável que se pague tal ou tais preços por determinado evento, afinal, pagamos bem mais caro por tantas outras coisas, cuja importância é bem discutível.

    Penso que a resistência ao novo, ao menos para mim, seja uma possibilidade de romper, em definitivo, com o passado e é bem isso que muitos compositores passam para o seu público. Tenho receio de que aquilo que o Leonardo observou quanto à questão da relativização que deixa o compositor livre demais, possa resultar em meras atitudes de rompimento, sem substancialidade.

    Eu aprecio alguns movimentos musicais contemporâneos, dentre dos limites da apreciação é claro, mas vejo que eles não tão cientes do seu papel de músico dos séculos da liberdade composicional.

    Leonardo,

    Seu comentário é muito interessante, inclusive, por nos remeter aquela questão de crise da música clássica, que tem como uma das suas bases o conceito do que é arte, ou mais especificamente, música. Só que esse conceito não foi de todo modificado, ele ainda persiste, só que agora de forma mais alongada, esticada.

  27. Confesso que esta é a primeira vez que ouço Berio e a principio soou-me estranho, então resolvi ouvir outras sequenzas e como Tauan Miguel gostei muito da sequenza VII para oboé. Depois voltei novamente ao post e a sequenza III para tentar “livrar-me dos preconceitos” (hahaha).
    Bom, por enquanto estou tentando “exercitar a imaginação”.
    Valeu o post, muito interessante, só não entendo os comentários comparativos, o que analisar a obra tem haver com comparar a obra?

  28. Tudo bem Vitor,
    depois do seu comentario, resolvi ver novamente o video para voz, para tentar perceber o que te encantou e
    apesar de dar umas boas risadas a princípio, a interpretação de Laura tem seu charme.
    P.S. Continuo achando a sequenza para oboé melhor, vou até colocar no meu ipod! ;)

  29. Nao entendo este blog. Primeiro Amancio coloca aqui que quer que sejamos sinceros em nosso parecer ao ouvir essa obra. Depois Leonardo me chama de besta quadrada só porque eu fui sincero e Diego me chama de desavisado. Olha, eu nao sou desavisado e voces estao querendo formar um clubezinho fechado aqui de grupos avisados que querem derrubar pessoas como eu, livres, bem conscientes, ouvinte antigo de musica erudita, conhecedor de Berio, assim como voces. Pra eu criticar algo, eu primeiro experimento bastante…vi as partituras, vi os videos e nao gostei, pronto. Aceitem minha pessoa aqui, sem me ofenderem, se for possivel.

    Querem que eu fique aqui o tempo todo dizendo: legal, gostei disso, voces sao super inteligentes, nossa, que post incrivel? Eu falo isso tambem, mas, se eu quiser dar minha opiniao, eu dou e pronto. Se voces nao aceitarem meu jeito de ser, entao so vai sobrar pessoas que dizem: sim, nossa, voces sao demais, belo comntario, maravilhosa obra..,etc.

  30. O que eu entendo por sinceridade de opiniões:

    Opção A: puxa, nunca tinha ouvido, legal, gostei.
    Opção B: definitivamente não gostei. Vou voltar para o meu Mozart.
    Opção C: eu adoro Berio, adoro música contemporânea, postem mais sobre isso.
    Opção D: eu odeio Berio, odeio música contemporânea, não adianta eu não consigo ouvir isso.

    Opção Denison: párem de ouvir isto e ouçam Messiaen que é muito melhor, ninguém aprecia isso em sã consciência, em 100 anos ninguém ouvirá mais Berio.

    Releia o que vc escreveu na sua primeira mensagem (30/01 12:57) e depois o que vc escreveu na sua segunda mensagem (06/02 12:39). Os pontos de vista são semelhantes, mas há um abismo separando as duas mensagens.

  31. Imagine que o blog é um buffet e eu, o garçon que acabou de servir a mesa. Você tem todo o direito de não gostar do prato com atum, e pode até gritar para todo o restaurante, “EI, EU NÃO GOSTO DE ATUM!”, sem problemas, eu também não gosto. Diferente seria se você ficasse no fim da fila dizendo para todo mundo que chegasse, “ei, não coma o atum, não é um prato bom”. Muito mais sem sentido seria ir reclamar com o garçon, “ô rapaz, por que servir atum se ninguém gosta? Sirva sardinha, que é bem mais saborosa”, ou “fala sério, você só serviu o atum para parecer que gosta de tudo, não é?”.

    Sacou? ;-)

  32. Exato: eu disse que ninguém é obrigado a gostar de coisa alguma, mas além disso o sujeito dizer que quem gosta de tal coisa só quer aparecer e que isso não é arte é pura e simples ignorância das mais datadas (daí eu propor com a pergunta da “besta quadrada” a humildade sequer desconfiada por quem faz isso, o que vale pra todos nós). Será que vamos ter que escrever um post sobre o que é arte e sobre essa postura incompreensivelmente militante dos ouvintes que se sentem OFENDIDOS com arte contemporânea de mais de cinquenta anos? E olha que nessas obras do Berio o sistema musical temperado sequer foi abandonado, o que torna esta obra intuitivamente controlada, e não aleatória.

    Tanto a sua como a nossa suposta prerrogativa como ouvintes ao expor opiniões importa pouco, Denison (fosse para bem ou para mal, já que argumentos devem ao máximo valer por eles próprios), mas você sequer sabe escrever o nome de Stockhausen e quer invadir até mesmo o nível subjetivo dos leitores para fazê-los deixarem de ouvir uma coisa para ouvirem outra, sem nenhum critério razoável e convincente para isso: isso destoa completamente do convite aberto e sem preconceitos feito pelo Amancio no post.

    O problema que o Amancio expôs nos dois últimos comentários vale pra todos nós repensarmos a maneira como praticamos a nossa crítica.

  33. Denison,

    Houve um equivoco aqui, primeiramente não me dirigi diretamente a você, falei desavisados em um contexto genérico, mas falei isso pensando na sua atitude, pois, você passa nos seus comentários uma opinião imperativa que pergunta e responde de forma peremptória, inacessível e que tende a inviabilizar o contraditório.

    No comentário que você diz que tal e tal pessoa não pagaria para ver Berio, fica um tanto claro que você não vê Berio em uma dimensão maior do que os das “sequenzas”, e que, portanto, não pagaria tal e tal quantia para vê-lo, mas preste atenção na maneira como você expõe tal opinião, com garantias e etc. Não sou lá um conhecedor da música contemporânea, mas insisto em dizer que ela está ai e não há como fugir, e que há possibilidades de se encontrar algo de bom, proveitoso, e novo em seus postulados.

    O Amancio conseguiu ser bem claro no último comentário por ele postado, sobre o que eu disse acima. Ademais, compartilho de certas opiniões com você e afinal, estamos aqui para discutir algo que compartilhamos, o gosto pela música séria.

  34. Tudo bem quando acaba bem (comédia de Shakespeare). E eu sei esçrever o nome de todos os mestres…é que gosto de chamar beetho, strava, tchaik, divorjak, viva, Stockehausen…é minha intimidade com os hôme…risos

  35. Vamos parar de brigar aqui…escuta: eu tenho uma dica bacana de música contemporânea. Esse grande mestre morreu no mesmo ano que minha genitora e eu chorei duas vezes neste ano terrível, em junho e em setembro de 2008. Veja que música espetacular este concerto para piano, bem criativo. Horatiu Radulescu é um grande compositor pouco conhecido. Um dos seus concertos para piano é uma das coisas mais lindas que um ser humano pode parar prá ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=NK0thKb6nvk

    Já que voces gostam de música contemporânea, tem este quarteto tambem genial do mestre Radulescu: http://www.youtube.com/watch?v=NHXlghS88kY

  36. Prá finalizar de uma vez: Luciano Berio foi um dos serialistas mais ferrenhos. Não tenho dúvidas de que o Serialismo na música é um assunto interessante. E não tenho dúvidas de que a música de Webern é muito original e apresentou um caminho novo. Atraiu até mais do que a música de Schoenberg. Os praticantes do Serialismo não tinham dúvidas da importância histórica de sua descoberta. Luciano Berio, um dos heróis do movimento, lançou o desafio: “Conclusões categóricas como: isso está certo, aquilo está errado ou isso é feio, aquilo lá é bonito, típicas do pensamento racional da estética tonal não servem para entender a mente de um compositor do século XX”.

    Esse pensamento radical afastou o público dos compositores. Havia uma variedade de estilos, mas, a arte de todos os compositores serialistas se parecia uns com os outros. Tinham elementos em comum. O público não queria saber de nada disso e isso foi novo na história da música. Mesmo os mais loucos experimentos dos séculos anteriores encontravam sua “panelinha” de adoradores e defensores na platéia e, após uma geração ou duas, elas entravam no repertório, pois, tinham algo a acrescentar. Os serialistas se justificavam dizendo que sua música era para o futuro. Mas, pergunta-se quanto tempo deve-se ainda esperar? Passamos pelos anos 50, 60, então 80, 90 e entramos num novo milênio e, mesmo obras seminais como Pierrot Lunaire, de 1912 ainda não tem sua presença garantida no repertório, imagine então Luciano Berio? Será que talvez – apenas talvez – a culpa desta vez não esteja com o público, mas, sim com os compositores?

    Os estilos se seguiram. Usando o Serialismo como base, os compositores exploraram colagens, música aleatória, música de improvisação seguindo certos parâmetros, houve instalações onde violinos eram queimados no palco, violoncelistas tocavam nus, fizeram música estotástica e exploraram a indeterminação, chegando ao absurdo de colocar peças de metal, borracha ou outros objetos, afim de alterarem o som de um piano. Mestres como Berio, Schuller, Xenakis, Lukas Foss e John Cage tentavam fazer tudo que usasse os sons, dizendo que aquilo era composição musical.

    As coisas chegaram a um ponto em que até os especialistas desistiram. Qual o objetivo de escrever música se ninguém vai conseguir lê-la ou executá-la? Em 1960, Gunther Schuller chegou a implorar para os serialistas pararem de escrever música para os instrumentos convencionais, uma vez que sua escrita era impossível de serem executadas. Schuller seguiu seu discurso com exemplos de trechos das obras de Nono e Berio que simplesmente não tinham como ser executados.

    A distância entre público e compositor não podia ser diminuída. Milton Babbitt, em um artigo de 1958, chegou a sugerir que os compositores se retirassem dos palcos e teatros e, com efeito, assumissem que eram uma elite e que compusessem apenas uns para os outros.

    O único compositor que foi um pioneiro da música serialista e ainda assim parece ter boas chances no repertório é Messiaen. Ele pode ter começado como serialista, mas, logo abandonou a técnica por uma linguagem toda sua.

    Depois de muitas décadas de muita pompa e polêmica em torno da música serialista, tudo se acabou com um último fraco suspiro. Após décadas de publicações, criações, polêmicas, publicidade, inúmeras gravações, depois de tudo isso, quantas obras de doze-notas ou seriais entraram para o repertório internacional? Eu respondo: A Suite Lírica, Lulu e o Concerto para Violino de Alban Berg. Mesmo Wozzeck não conta, porque apenas algumas partes da ópera são seriais. A fase serial de Stravinsky é completamente desconhecida do público internacional, amante da música séria. Vingaram apenas seus balés da fase inicial. O resto é visto como uma curiosidade “que não pegou” para especialista ver.

    Sejamos francos: o público da música erudita já é pequeno e muito, muito mais pequeno e elitista é o público que realmente ama a música serial e descendente dela. Que graça tem fazer parte de um grupinho fechado e esquisito de 0,00000000000001% da Humanidade? Eu não tenho tempo e nem saco para enfrentar este desafio, até porque, mesmo que superado, ganharei o que com essa esquisitice? Comparar música nova com comer atum é errado. Poderia-se comparar música nova com comer plástico. Se alguém resolve servir plástico num restaurante, eu me levanto e grito a todos pulmões: Cuidado! Eles querem servir plástico para vocês comerem! Essa é a minha forma de ver este assunto.

  37. Denison,

    Acho que deve haver uma dose de bom senso pra não sobrecarregarmos o espaço de comentários com digressões, por isso só tenho uma coisa a dizer sobre o seu último comentário (que pra variar está repleto de afirmações idiossincráticas e um reducionismo próprio de apostilas escolares de má qualidade): a obra de Berio apresentada neste não é sequer serial.

    Aviso que não pretendo mais responder os seus comentários, porque estou convencido de que a discussão não tem mais pra onde avançar (se quiser insistir em ser o arauto contra a música moderna que, mesmo afirmando bobagem após bobagem sobre ela, vê alguma graça em chamar os seus apreciadores de elitistas, aberrações, comedores de plástico, etc., abra um blog só seu pra deixar suas abobrinhas por lá) e as repetições estão se tornando nauseantes.

  38. Meu caro, você sugere que nos dispamos-nos de preconceitos e que opine sobre o post (os vídeos). Olha só, não posso opinar por mais ninguém que não seja eu mesmo. E lhe digo: para quém ouve Laurie Anderson, Frank Zappa, Canários, Devil Dolls, o brasileiro Walter Franco (o disco OU NÃO) e outros “bichos grilhos” e é apaixonado por SONS, como eu, ouvir isso que portou é receber uma dose a mais da capacidade e criatividade dos musicos e artistas. Não me detenho na coisa de boa ou ruim, agradavel ou não, me interessa mais o conhecimento, a experiencia. A mesmice e a normose é que me enjoa e enfada rssssss. Com o devido respeito as demais opiniões.
    J.Farias-PE

  39. Olá, tudo bem?

    Eu sou novo aqui no blog, o conheci agora. Nem sei se vocês, autores dele, ainda vão ler esse comentário, feito em postagem já antiga (essa medida de tempo em internet é até engraçada, neh?!).
    É, pra mim, uma pena que eu não tenha conhecido o Euterpe há dois anos atrás e que não tenha participado dessa discussão. Se hoje já a achei um tanto interessante e enriquecedora, há dois anos atrás teria expandido meus valores musicais, com certeza.
    Confesso que eu tenho um bocado de coisas que gostaria de falar sobre quase tudo dessa página. A escolha da obra, a abordagem do texto do blog, os comentários. Tudo instiga muito aquela vontade, que claramente todos aqui conhecem, de dar sua opinião, questionar e criticar os pontos de vista aqui expostos (e concordar com outros tantos, claro).
    Mas por conta do tempo já decorrido depois que ela acabou, guardo meus comentários pra um próximo post sobre música contemporânea e me limito a dizer que achei o blog de vocês fantástico! Acabei de chegar e, mesmo sendo estudante de música, já aprendi “uma série” [ ;) ] de coisas. Esse tipo de iniciativas é, meu ponto de vista, essencial, hoje, pra que se mantenha, no mínimo, viva essa música que chamamos de erudita.
    Dando um pitaco de leve na postagem e comentários como um todo (e não necessariamente no autor do post), conhecer e buscar entender a música contemporânea talvez também o seja.
    Desde já, muito obrigado!

  40. Olá Lucas, seja bem vindo!

    Não se preocupe com a data da postagem, ou mesmo dos comentários. Todos textos (até mesmo os obituários) são atemporais, pois, afinal, falamos sobre músicas na maioria das vezes centenárias (quiçá, eternas). E novas gerações surgirão e para elas, até mesmo a Nona Sinfonia de Beethoven será uma novidade algum dia. Por isso todo comentário é bem vindo, e quando traz algo novo, merece ser discutido.

  41. Bem, não achei muita graça, mas… existe alguma Sequenza pra piano? é o meu instrumento e queria saber o que Berio fez com o mesmo.

  42. Obrigado, esse achei mais interessante, explora o meio pedal, pedal tonal, os sons harmônicos, as ressonâncias e tal. Mas dá o que pensar: é uma música, digamos, radicalmente de seu tempo no sentido que daqui alguns séculos ou mesmo décadas talvez já haja dificuldade por parte de músicos para tocar. O piano, por exemplo, só foi padronizado com as características que tem hoje há uns cem anos, antes disso houve muitos experimentos por parte dos fabricantes e talvez ele volte a mudar no futuro. Nesse caso, daqui a mais uns cem anos, alguém terá de continuar fabricando pianos como são feitos hoje para que essa sequenza possa ser tocada, pois pelo que entendo, o objetivo foi explorar todas as sonoridades possíveis do instrumento, daí que o piano de daquia cem anos pode contar com uma nova característica que os de hoje não têm, mas o pior, pode suprimir alguma característica dos pianos de hoje… E aí como ficamos?

    Em todo caso, quer ver uma aplicação interessante que se poderia dar a Sequenza? Ajudar os fabricantes de pianos digitais (Yamaha, Roland etc.) a aperfeiçoar e chegar o mais próximo possível do piano acústico. Acho que vou contactar tais fabricantes… :p

  43. Cleverson, esse problema que vc prevê para o futuro já acontece com outros instrumentos e obras, em especial àquelas escritas no período barroco. Existem “n” exemplos, mas só para citar um: a suíte nº6 para violoncelo de Bach foi escrita para um instrumento de 5 cordas, mas isso não impede que os violoncelistas de hoje toquem a música no instrumento normal de 4 cordas. Mas repare como o violoncelista “sofre” para tocar o tema numa corda solta que não existe (a partir de 1:18 deste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=OquGRUftLxI ). Para tudo dá-se um jeito. :-)

  44. Sei. O caso é que hoje os compositores pegam características que no passado eram consideradas acidentais e tratam como fundamentais, por exemplo a ressonância e os sons harmônicos no caso do piano. Ao teu ver, isso então não vai necessariamente agravar o problema no futuro?

  45. Não. Penso que isso só enriquece a música clássica, há mercado para tudo hoje em dia. O cravo não era um instrumento morto, cem anos atrás? Então: inventaram um jeito de reconstruí-lo, só para tocar as obras do barroco. E os instrumentos de metal de afinação natural (trompete, trompa, etc): todos foram substituídos por instrumentos de chave por serem melhores, mais ágeis, mais potentes etc… mas de uns tempos para cá eles voltaram a ser fabricados, por causa da moda de interpretações com instrumentos de época. Se o piano sofrer alguma mutação nas próximas décadas e alguém criar um “abafador de harmônicos” (sei lá), não se preocupe, sempre haverá aquele que continuará gravando e tocando no “piano antigo, porque o som é assim e assado e bla bla bla”. É só vc lembrar de quantas gravações existem, hoje, com o pianoforte (ou fortepiano, aquele um dos tempos de Mozart).

  46. Legal a iniciativa de Barenboim. O caso é que nossa “era globalizada” de fato dificulta muito que novos projetos vinguem, é tudo padronizado e com tendência a estacionar onde está. Mas se na área da música isso for menos sentido e novas idéias conseguirem vingar e somarem-se ao que já existe, então legal.

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