Manuscrito de uma transcrição do “Messiah” de Händel feita por Beethoven
Mais importante do que identificar o objeto “música clássica” – o que serviria no máximo para uma tipologia que dissesse que os Três Tenores são tão clássicos quanto o mambo cubano –, a utilidade de se buscar compreender essa expressão é conferirmos o seguinte: se há um critério capaz de destacar um tipo de música de outros tipos, ele pode também recuperar o sentido da nossa relação com essa música? Ou de um jeito mais desconfiado: se dizem por aí que existe um critério capaz de fazer essa separação entre uma música clássica e todos os estilos de uma música popular, o que é que justifica essa separação e o que é que ela nos ensina da maneira de ouvirmos esses gêneros?
De tempos em tempos um jornalista decide entrevistar profissionais e amadores da música fazendo a pergunta essencial, “o que é música clássica?”, com a esperança de uma boa reportagem para cobrir algo como o surpreendente número de jovens nos concertos da orquestra sinfônica local ou coisa parecida. As respostas, de maestros a donos de sebos, variam entre correções da expressão (“não é música clássica, é música erudita”, “(…) é música de concerto”, “(…) é música de linguagem”) a um ceticismo militante contra as rotulações (“melhor mesmo é pensar em música boa e música ruim”). E o que fica é o fenômeno de sempre: mudando ou não o seu nome, a noção desse tipo de música continua a mesma que a das prateleiras de discos das lojas de música – a de um estilo a mais ao lado do jazz, do blues, do tango, do pagode…
E qual é o problema?
Há dois problemas bastante concretos em se entender a música clássica como um estilo. O primeiro é de uma obviedade a princípio insuspeita nas suas conseqüências: não se trata de um estilo, porque existem 800 anos (desde a notação musical que a preserva) de estilos diferentes dentro do que ela compreende. É como tratar a poesia como um estilo da literatura, ignorando as diferenças muito mais que estilísticas entre Homero, Geoffrey Chaucer, Guillaume Apollinaire e Paulo Leminski. O segundo problema nos mostra algo mais esclarecedor: não se trata de um estilo, porque a música clássica não se opõe individualmente aos outros estilos que você conhece, mas sim à toda a música popular com todos os seus estilos dentro (do pop ao funk, do rock (com suas próprias vertentes) ao folk). Ou seja, a verdadeira oposição é feita entre um grande gênero, a “música popular”, com seus diversos estilos, e outro grande gênero, a “música clássica”, que também contém diversos estilos dentro dela.
E daí?
Esses dois problemas seriam puro preciosismo se não influenciassem diretamente a maneira de você entender e de fruir uma sinfonia de Beethoven. Pois peguemos de volta os dois problemas: no primeiro, ao achatar os diferentes estilos dentro da história da música clássica, ela vai soar toda muito parecida, o ouvinte vai achar que a gravação da Anne-Sophie Mutter e do Karajan das Estações do Vivaldi, que ele ouviu “pra relaxar”, é uma amostragem justa de um mesmo estilo de Palestrina até Boulez. E ele ficará, por inércia, completamente surdo justamente às diferenças que compõem o sentido das obras em todos esses séculos. No segundo problema, ao ouvir música clássica como mais um estilo ao lado de outros da música popular, o ouvinte vai reclamar de toda essa conversa, vai dizer que o que importa é se o que ele ouve o agrada ou não, se o “toca ou não toca” (e aqui ele vai citar Clarice Lispector), e que as convenções dos estilos nunca resumiram o seu gosto pessoal, que é verdadeiramente múltiplo e paradoxal diante dessas classificações. Quer dizer: tomando por base a sua relação de consumo com os diferentes estilos musicais, ele não vai dar crédito a um “estilo” que cobre dele o que nenhum outro estilo cobra – condições de entendimento e fruição –, porque isso é apenas artificial diante da única coisa que ele sempre utilizou para ouvir música: o seu gosto pessoal.
Música natural
O pressuposto por trás desses dois problemas nos introduz a uma questão muito importante: o de nos relacionarmos com a música clássica ou qualquer outro tipo de música de maneira natural. Isso significa ouvir sem a interferência de artifícios, ouvir e reagir espontaneamente, atribuir à própria música a tarefa completa de nos agradar ou não, e, se a música exige qualquer esforço nosso para entendê-la e aí sim apreciá-la, refutar essa exigência como algo anti-estético, como uma culpa da funcionalidade da própria música, e não nossa. O curioso é que essa postura de absoluta passividade é uma exclusividade da música, pois com a poesia, por exemplo, é muito mais raro alguém discordar de que é necessário, por parte do leitor, o conhecimento da língua e um esforço por se compreender a linguagem e a arte empregada pelo poeta para se apreciar o poema.
Música artificial?
Se pegarmos essa noção de uma relação natural com a arte da música e aplicarmos à música clássica e à música popular, vamos enfim começar a perceber a função dessa separação entre elas: basta experimentar a permuta neste ponto. Peguemos um exemplo pacífico e até mesmo um pouco grosseiro para refletir: se um ouvinte de música pop experimenta ouvir uma sinfonia de Bruckner da mesma maneira como ouve Lady Gaga – e no caso de Bruckner não haveria letra de música -, o resultado, naturalmente, deveria ser sono e distração depois de uma hora de sinfonia. E se um ouvinte de música clássica experimenta ouvir Lady Gaga da mesma maneira como ouve uma sinfonia de Bruckner, o resultado deveria ser superinterpretação. Por quê? Quais são as diferenças flagrantes aqui?
Em um próximo post continuaremos nossa saga em busca de uma definição operacional para a “música clássica”, pensando primeiro em qual acaba sendo a função da forma na música clássica e na música popular (para termos espaço para exemplos mais sofisticados). Depois, veremos como apreciar a noção particular de forma na música clássica sem ser um especialista e um leitor de manuais. Apareeeçam!
Uma outra parte do problema (e agora eu estou falando de um ponto de vista bem multi-cult) é que a oposição comum entre música clássica x popular não contempla uma parte muito importante que são as músicas de tradição não-europeia. Nesse sentido não há essa oposição clássico-popular porque ambas acabam sendo parte da mesma tradição (e claro, o que divide dentro dessa tradição é relevante) e que é muito revelador notar como elas são próximas quando comparadas a tradições como a indiana e a chinesa.
Quando alguém resmunga que eu só gosto de música clássica, eu acabo rindo, porque na verdade eu tenho um interesse musical mais vasto do que a maioria das pessoas que ouvem Chico Buarque e Sciarrino e acham que estão sendo maravilhosamente ecléticos…
Gostaria de parabenizá-los pela iniciativa . Você escreveram um texto que atinge até “aquele que passa por ele acidentalmente”. Que este diáologo prazeroso perdure!
Sileide France
Ansiosa pela continuação!
Bruno,
Há realmente muitas formas de se pensar o alcance dessa divisão de “música clássica” e “música popular”, e mesmo nesse primeiro post ainda coube pouco do argumento principal pra uma abordagem da “técnica” que define ambas na nossa cultura, que era a abordagem que eu pretendia (e daí o empréstimo do espaço de um novo post em breve). Mas do ponto de vista histórico, essa divisão só começou a ser usada depois da primeira metade do séc. XIX, com o surgimento de uma música popular urbana. Aplicar essa divisão a qualquer música anterior que tenha igualmente sobrevivido em forma escrita já faz menos sentido. Mas ainda espero esclarecer também essa questão no próximo post!
Sileide e T.,
Obrigado pelos comentários! :) Espero que a continuação do post traga boas discussões, porque – sem apelar pro sensacionalismo com a audiência – sinto que a parte principal desse assunto ainda está reservada ao post seguinte!, rs.
Abraços.
gostei, amiguinho!
espero pela continuação.
na verdade acabei pensando em um outro ponto, ou dois:
os exemplos que você tomou são bem categóricos, servem bem ao propósito. mas e se se tomar por exemplo de música popular algo não-vendável (não o extremo do pop), ainda se sustenta o seu ponto?
o que estou tentando dizer é que, sendo dois “gêneros” que abarcam um sem fim de diferenças, talvez também não se possa categorizar duas “posturas de ouvinte” – o “intérprete” da música clássica vs. o “passivo” da música popular. um exemplo: Tom Jobim (exemplo sacana porque está no limite entre o popular e o clássico, só pra cutucar. hahaha), em discos como Urubu ou Stone Flower. ou ainda Animal Collective, que também demanda atenção e esforço, mas não aos elementos formais tradicionais.
parece-me que para toda forma de arte é necessária a “condição de entendimento” – a diferença é que algumas condições são dadas de antemão pelos meios.
Oi, Álvaro!
Por um lado, esse território da ambigüidade é justamente a parte delicada do assunto, porque mostra que não existe bem uma “gramática” de definições desses dois gêneros. Na prática, “música clássica” e “música popular” não chegam nem a ser objetos diferentes, porque ambos são música, e nesse sentido ambos são o mesmo objeto. Acho que ainda é possível dizer que elas estão em pólos opostos no que tange a um ponto específico: a consciência formal que preside a construção da sua arte. Mas essa noção de polaridade implica uma coisa óbvia: há uma porção de formas gradativas entre os dois pólos. Não existe bem uma faixa que separe rigorosamente o “clássico” do “popular”, porque esses conceitos são meramente operatórios.
MÃS (como diria Fernando Gil), por outro lado, pegando mesmo os exemplos que você deu, e acrescentando aí Piazzolla, Gershwin, Chick Corea e até Björk, eu confesso que ainda vejo uma distinção de técnica entre esses dois pólos que influencie sim uma condição da audição. Essa condição diz respeito ao uso de uma forma que não é apenas “mais complexa” – afinal, de novo, por serem conceitos meramente operatórios eu ainda posso dizer que La Donna è Mobile é menos complexa que uma canção dos Beatles. Mas é uma condição que diz respeito ao uso de uma forma que carrega conteúdo em si mesma. É esse ponto que vai ter que ficar mais bem explicado em um próximo post, porque tanto ensina algumas coisas sobre a audição da música clássica quanto mostra melhor essa diferença de pólos com a música popular.
Por enquanto é isso! O próximo post está saindo. :)
Um abraço!
Leo,
La Donna è Mobile poderia ser mais simples do que uma canção dos Beatles (não é) mas faz parte de uma ópera de 2:30. Então é uma parte relativamente simples dentro de uma obra imensamente complexa. E no terceiro ato do Rigoletto as entradas dessa melodia são todas muito oportunas, ou seja, ela tem uam função formal muito complexa que fazem dela mais do que uma arietta em si maior.
Então mesmo o exemplo do “La Donna è mobile” é meio fraco.
Claro que em Tom Jobim, você tem bons exemplos da forma sendo trabalhada de uma maneira um pouco mais complexa, meu preferido é do “Desafinado” em que a voz tem que cantar nonas e décimas-primeiras da harmonia básica, ou samba de uma nota só e coisas assim. Mas ainda assim está anos-luz atrás de qualquer bom madrigal do século XVI em termos de auto-consciência da obra.
Bruno,
A idéia era mostrar que não se trata sequer de uma definição absoluta de “mais simples” e “mais complexo”, pois mesmo nesse critério pode perfeitamente haver espaço pra uma simplicidade na música clássica que seja maior que na música popular. La Donna è Mobile era um exemplo que o Nabucco gostava de usar, rs, e acho que vale pra esse efeito.
Não sendo uma mera questão de mais simples/mais complexo, o que estou pra mostrar é que existe uma característica que preside a técnica da música clássica e da música popular que define os seus objetos, e que isso também vai importar para o ouvinte na audição.
Leonardo tem razao, a classificação em clássico e popular não se refere à maior ou menor complexidade da música, mas a algo extramusical. Pois a teoria é a mesma em ambos, inclusive pode-se usar os mesmos instrumentos e as mesmas técnicas de composição ou o mesmo estilo, mas clássico e popular ainda assim se distinguem. A diferença portanto se dá como na vestimenta: por mais belo que seja vestir uma toga púrpura romana ninguem anda vestido assim por aí (seria ridículo). E a musica é como a vestimenta: uns até põem musica para os outros ouvirem, pela altura do som, enquanto outros tem vergonha de mostrar aos outros o que ouve. De fato, não convem ouvir música grega num churrasco, nem mesmo entoar um cântico medieval na comunhão de nossas missas. Assim, musica popular é a que todos ouvem, por consenso ou tradição, seja ela bonita ou não, complexa ou simples; já a clássica ou erudita são as antigas, as “fora de moda”. Isso explica porque Tom Jobim e Villa Lobos estão na fronteira entre o erudito e o popular, pois nas suas obras há elementos de ambos, como nos Choros do Villa ou nas Bossas do Tom.
Ué, não existe música contemporânea não?
Olá, Felipe.
O objetivo deste post, até pelo espaço que ele teve, foi mesmo provocar uma reflexão sobre a idéia que a expressão “música clássica” procura compreender. E de fato, penso que o sentido dessa expressão se dá pela distinção com um outro modo de fazer música, cujo repertório passa a ser compreendido pela expressão complementar, “música popular”. E então concordo com você que essas expressões não podem ser prescrições pra esses dois tipos de música: não se pode dizer “ah, é música clássica porque é pra orquestra” ou “ah, é música popular porque é cantado com ‘voz de garganta'”. No entanto, como o Bruno lembrou acima, também não acho um bom critério aquele que diz respeito apenas à presença relativa dessas músicas na nossa cultura, ou estaremos perdendo de vista as qualidades intrínsecas desses dois gêneros. Ou seja: se os dois gêneros passarem a ser definidos apenas pelos meios em que são colocados, isso nos fará imaginar que, virtualmente, qualquer música popular ou clássica mudaria de gênero levando-se em conta apenas o meio. Até poderia ser verdade, mas já no post seguinte dessa série eu começo a sugerir que não, que ainda resta uma qualidade intrínseca no repertório desses dois gêneros, anterior ao seu uso e à sua presença na cultura.
Adiantando um pouco do argumento, o critério de distinção intrínseca da música clássica e da música popular diria respeito a um aspecto da técnica que preside a composição de cada uma. Na música popular, a técnica, o modo de fazer a música, prevê em larga medida a apreciação de uma reprodução de formas ligadas ao estilo da música popular em questão. Na música clássica, a técnica prevê a apreciação de uma manipulação de formas escolhidas. E é nessa expectativa e na tradição formada por essa postura diante do objeto musical que os dois gêneros se formaram.
Se puder dê uma olhada lá, e passamos a comentar no espaço de lá: http://euterpe.blog.br/filosofia-da-musica/musica-classica-o-conteudo-da-tecnica
Um abraço!
Concordo quando dizem acima que descabe rotular e separar “música clássica” e “música popular”. Música é música, sim. Há a boa e a má música. Eu, por exemplo, sempre apreciei e desfrutei de meus cds (outrora lps), à base de MPB, samba de raiz, Saint Preux, rock romântico, regae, e até a genuína música caipira, de Rolando Boldrin, que admiro. Mas a música que há um ano me entusiamou,a ponto de me levar a estudar teoria musical e teclado, foram as lindas melodias de Johann Sebastian Bach. Eu que raramente escutava música erudita, após ouvir a música de Bach, além de iniciar na música, dei uma guinada e passei a ouvir muito mais “música clássica”. Mas continuo ouvindo mina MPB, meus sambas de raiz, as belas canções instrumentais de Saint Preux. É isso: “música é música”. A questão é se é boa ou ruim. Se é bem ou mal elaborada. Só isso.
Aroldo,
Essas divisões entre gêneros e estilos não podem pretender dizer qualquer coisa sobre o nosso gosto pessoal, que não segue e nem tem por que seguir fronteiras naquilo que frui melhor e que acumula com mais paixão em CDs na prateleira da sala. Mas o que esse primeiro post quis saber foi, primeiro, de onde vem essa separação entre música clássica e música popular e o que ela significa exatamente. Depois – e isso foi sendo desenvolvido nos três posts seguintes da série – o que é que nós podemos aprender com o significado intrínseco que a tal “música clássica” pode ter em oposição à “música popular”. Então sim, eu acredito que exista diferença, pelo menos uma diferença que norteia a técnica com que tais músicas foram e são compostas, independente de o resultado algumas vezes ser um pouco “fronteiriço” (e mesmo esses casos eu acredito que não são muitos).
Se puder ler os outros posts, deixe as suas impressões! Abraços!
Gostei deveras do texto. à propósito, muito bem iniciado. E esse trecho, “e, se a música exige qualquer esforço nosso para entendê-la e aí sim apreciá-la, refutar essa exigência como algo anti-estético, como uma culpa da funcionalidade da própria música, e não nossa” fez-me lembrar um episódio exemplar:
Certa feita eu disse a um aluno que dizia que não gostava de Machado de Assis por não entendê-lo que o problema era dele e não do bruxo do cosme velho. Ora, se existem possibilidades aplicáveis, pq não usá-las.
Penso que com a música clássica aconteça algo similar.
Ah! melhor dizendo, se existem possibilidades aplicáveis, e inteligíveis pq não usá-las. Se não as entendo, se não as percebo ou não as fruo, o problema é, como já disse, exclusivamente meu.
é isso.
Olá, Emerson! É o velho problema da subjetividade relativizando os objetivos que a própria arte se impõe. Eu geralmente coloco esse problema da seguinte maneira: é fato que alguns critérios bem aplicados conseguem revelar os valores de uma obra-de-arte bem sucedida, e, se tudo dá certo, a tradição termina reconhecendo esses valores com certo consenso (daí a formação do cânone). Mas se diante disso você ainda assim *não gosta* dessa obra-de-arte, dá perfeitamente pra separar as coisas: uma coisa pode ser *boa* sem a necessidade de me agradar muito particularmente, já que ninguém é *obrigado* a gostar de nada (nem mesmo quando esse algo é bom!)… Quer dizer, uma coisa fica sendo o juízo de valor, e outra o gosto pessoal.
Mas, claro!, que nunca se ignore que em arte a primeira impressão nunca é a que fica, e acho que este blog incorpora muito do papel de buscar revelar mais sobre a música pra que o ouvinte possa ouvi-la melhor, e, de repente, perceber coisas que o surpreenda pela beleza que sempre esteve ali e ele não conhecia. :)
Trocando em miúdos, só é possível gostar ou não dessa ou daquela obra se a conhecemos de um modo que não possamos ser enganados por não conhecê-la suficientemente bem. Se depois de conhecê-la profundamente ainda assim não gostamos, aí é outra história. Se gostamos, também. Assim, dessa forma,
gostar ou não torna-se essencialmente pessoal.
De fato, esse blog facilita nossas vidas enquanto diletantes e apredizes.
E mais ainda o contrário!: só é possível *julgar* (e acredito que essa responsabilidade seja maior que a do gosto) uma obra se a conhecemos de um modo que não possamos ser enganados por não conhecê-la suficientemente bem.
Nem acadêmico, nem profissional da música, sou no máximo um ouvinte atento – suficiente para achar o texto muito interessante. Parabéns pelo blog!
Complicado isso pq dentro da música Erudita existem vários ritmos como ópera, Opereta, Cafonismo, música de Câmara etc… Alguns generos clássicos se assim podemos dizer são muito parecidos e fica difícil de saber a diferença, qualquer música cantada com voz de soprano ou tenor e ritmo clássico os desavisados chamam de ópera sendo que a ópera é uma peça teatral cantada, muitos músicos entitulados clássicos fizeram muscas em vários gêneros, como ópera, musica de Câmara
Leo, amigo,
Sabes que chego atrasado nessa querela , que muito amofinou alguns de meus sermões e bate-bocas,pois sempre fui eu o esquisito, “clássico e erudito” que deixava a mulher dançar samba sozinha (por falta de coreografia minha, nao preconceito), mas creio que perdemos muito verbo com semântica e fronteiras, quando não é isso que importa. Pensam que temos preconceito contra a música popular, mas é o contrário. Preconceito é prejulgamento, é julgar sem conhecimento de causa,aliás, o que mais se faz nesse mundo.
Volto à velha questão da correção política: erudição é coisa feia, esnobe,impopular. Daí, todos fazemos rodeios, quando a diferença entre pop e erudito é simplesmente “erudição”. O Pavarotti cantou, marketeiro,claro, com R. Carlos em POA e disse nos bastidores “Chamam de rei um cara que nao lê partitura”.
Claro que há porcarias no meio clássicos e jóias no meio popular. Claro que a erudição gerou besteiras e a singeleza produziu achados. Quem fala em música boa e música ruim nao deixa de estar certo.
Mas por que os populistas nos azucrinam se eles muito bem sabem a diferença?
Se quisésemos preciosismo, faríamos diversidade entre música folclórica (a teluricamente popular) e música pop , com certa formação, como a bossa nova ou rock progressivo.
De resto, conversa fiada, como se precisássemos e conseguíssemos explicar a diferença entre um Lied de Schubert e o sertanejo universitário. Bolas!
Flavio,
Como falei a você em particular, o objetivo desta série não foi político, em se endereçar aos militantes da qualidade da cultura popular ou ao elitismo da alta cultura. O objetivo foi antes histórico, de rastrear as diferenças de conceito entre o que se chama de “música clássica”, necessariamente (por motivos taxonômicos) em oposição a “música popular”, e as lições que podemos tirar sobre o que constitui essa música que ouvimos. O “bate-boca” não aconteceu aqui, mas em um momento bastante específico nos comentários a outro post, sobre André Rieu, no qual a sua queixa ficou devidamente registrada.
Abraços!