19abr 2017
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Os segredos da Paixão segundo São Mateus – 1. Introdução

Pintor austríaco anônimo séc. XVI: Pintura de altar com cena do calvário
Pintor austríaco anônimo séc. XVI: Pintura de altar com cena do calvário

Sim, você leu certo: Euterpe tem a audácia de publicar, nas próximas semanas, a mais longa análise da maior obra já estudada aqui no blog nestes (quase) três anos.

Se perguntarmos a dez “especialistas” em música clássica qual a maior obra prima musical de todos os tempos, é bem provável que 9 deles respondam: a Paixão segundo São Mateus BWV.244, de Johann Sebastian Bach (1685-1750). E com toda essa propaganda, o ouvinte comum fica lá três horas ouvindo a música para no final arriscar um “é bonito, sem dúvida… mas é meio chato, não?”. Afinal, o que há de tão extraordinário na Paixão segundo São Mateus? Quais são os segredos escondidos sob sua partitura? É o que tentaremos responder nesta série de dez posts (enormes, hein!).

Um breve histórico da obra

Vamos voltar uns 300 anos no tempo, lá para a cidade de Leipzig, na Alemanha. Com a falência do único teatro que apresentava óperas na cidade, a vida musical daquela região se concentrou ainda mais nas igrejas luteranas, onde a música desempenhava um papel fundamental nos cultos religiosos. Diferente das igrejas católicas, que foram projetadas para ter bastante reverberação e assim fazer o visitante sentir a mística presença de Deus, as igrejas luteranas foram construídas para que a palavra do pastor fosse claramente entendida em qualquer lugar da igreja. Portanto, sua acústica também favorecia a execução de obras musicais religiosas.

Gravura de Leipzig em 1735
Gravura de Leipzig em 1735 mostrando a Igreja de São Tomás (Thomaskirche) à direita e sua escola (Thomasschule) no fundo ao centro

E a última moda naquela época era a apresentação de “paixões musicais”. Paixão, que vem do latim passio, sofrimento, é a história da crucificação de Jesus conforme contada por um dos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas ou João. O costume era ler uma das Paixões durante o culto em dias específicos do calendário da Quaresma, o período de 40 dias (descontando os domingos) que antecede a Páscoa. Até que, no começo do século XVIII, compositores começaram a colocar em música o texto da Bíblia, interpolando aqui e ali uma ária ou um coral. A prática conquistou várias cidades até chegar em Leipzig em 1721, quando Johann Kuhnau (1660-1722), o diretor musical das principais igrejas da cidade, apresentou uma Paixão segundo São Marcos de sua autoria.

Bach chegou na cidade em maio de 1723 para ocupar o cargo de Kuhnau, falecido no ano anterior. Seu trabalho incluía escrever música para os cultos religiosos semanais, e assim, para sua primeira Sexta-feira Santa em Leipzig em 1724, ele escreveu a primeira versão de sua Paixão segundo São João BWV.245. Quase podemos imaginar Bach se perguntando, ao final do culto: “o que farei para o próximo ano?”. Alguns esboços de sua próxima Paixão datam de 1725, mas é provável que ele tenha iniciado mesmo em 1724.

A nova Paixão não ficou pronta do dia para a noite: em 1725 ele apresentou uma segunda versão da Paixão segundo São João, e em 1726 ele reapresentou uma Paixão segundo São Marcos escrita por Reinhard Kaiser e/ou Friedrich Nicolaus Brauns em 1713. Foi só no ano seguinte que a Paixão segundo São Mateus teve sua estréia, em 11 de abril de 1727, na Thomaskirche, a igreja luterana de São Tomás.

Interior da Thomaskirche (igreja de São Tomás) de Leipzig
Interior da Thomaskirche (igreja de São Tomás) de Leipzig

Antes da reforma de 1732, a Thomaskirche possuía duas galerias com um órgão cada. Em cada galeria Bach colocou uma orquestra e um coro independentes, ora tocando juntos, ora separados, ora alternando-se durante a música (e o cristão lá embaixo, maravilhado com aquele diálogo de sons). Não é à toa que Bach a chamava de “a Grande Paixão”: é uma obra escrita para duas orquestras, dois coros e vários solistas!

Durante a vida de Bach, a Paixão segundo São Mateus foi repetida pelo menos mais três vezes: em 1729, 1736 e em 1742, sofrendo pouquíssimas revisões em cada uma das performances. A partitura original de 1727 está perdida; o belo manuscrito autógrafo que nós podemos contemplar digitalmente clicando aqui (viva a internet!) foi redigido carinhosamente por Bach no periodo entre 1743 e 1746 para seu próprio deleite. Sabe-se que o compositor tinha muitos ciúmes desse manuscrito, e o conservava sempre em bom estado: ele mesmo admitia que “a grande Paixão” era a maior de suas obras.

Depois da morte de Bach, a “grande Paixão” permaneceu sepultada no manuscrito até a próxima performance em 11 de março de 1829, quando o jovem compositor Felix Mendelssohn, com apenas 20 anos de idade, preparou e conduziu uma versão reduzida e adaptada da obra em Berlim. Para se ter uma idéia da tal “adaptação”, Mendelssohn regeu do piano em torno de 400 músicos, adicionando clarinetes para satisfazer o gosto musical dos alemães na época.

Coro da Thomaskirche e o órgão Sauer
Coro da Thomaskirche e o órgão Sauer: dá um passinho pro lado que a Filarmônica de Berlim está chegando aí

Espera aí: duas orquestras? Dois coros? 400 músicos?

Ok, falando assim alguns podem pensar em massas orquestrais karajânicas ou richterísticas, mas na verdade não havia tanto espaço assim nas galerias da Thomaskirche. Então acredita-se que, na melhor das circunstâncias, havia de 60 a 65 músicos nas primeiras apresentações da Paixão. Para quem acha que isso dá uma grande orquestra, vamos lá, contem comigo: 2 flautas, 2 oboés (os mesmos músicos trocando oboés normais por oboés d’amore ou oboés da caccia quando necessário); 3 primeiros violinos, 3 segundos violinos, 2 violas; para baixo contínuo, 1 violoncelo, 1 contrabaixo, 1 fagote e 1 órgão; 3 sopranos, 3 contraltos, 3 tenores, 3 baixos, tudo isso multiplicado por dois já dá 56 músicos. Somando a isso mais 1 viola da gamba, um terceiro coro de sopranos (adicionado somente na revisão de 1743) e cantores solistas…

A estrutura da Paixão segundo São Mateus

As vigas-mestras que sustentam essa grandiosa obra vêm da Bíblia: a narração da Paixão de Cristo seguindo palavra por palavra os capítulos 26 e 27 do Evangelho de São Mateus. O texto, porém, é fatiado em 27 pequenas seções no decorrer das duas partes da obra:

Estrutura da Paixão segundo São Mateus: os números do Evangelho

Theodor van Loon: O chamado de Mateus
Theodor van Loon: Jesus chamando Mateus para ser apóstolo

O narrador da história é o evangelista Mateus, cantado por um tenor; os personagens da história, por exemplo Pedro, Pilatos, Caifás, etc, ganham vida na voz de vários solistas (com frequência, cantores do coro). Todos estes cantam em recitativo secco, acompanhados por acordes simples no baixo contínuo entremeados por pausas, pois toda a atenção merece estar nas vozes que contam a história. Jesus, cantado por um baixo, é digno de um tratamento mais nobre e aparece em recitativo accompagnato, com acordes sustentados pelas cordas. Querem ouvir um exemplo?

[audio:http://euterpe.blog.br/wp-content/uploads/2013/02/bwv244-02.mp3|titles=Bach: Paixão segundo São Mateus – 02. Da Jesus diese Rede (Bostridge – Selig – Herreweghe)]

Já as frases ditas por grupos de pessoas como os discípulos ou o povo (ou seja, a turba) são musicadas em forma de moteto com acompanhamento da orquestra, por exemplo:

[audio:http://euterpe.blog.br/wp-content/uploads/2013/02/bwv244-04b.mp3|titles=Bach: Paixão segundo São Mateus – 04b. Ja nicht auf das Fest (Herreweghe – Collegium Vocale Gent)]

(Sim, na maioria das vezes os coros de turba são curtinhos – e deliciosos – assim mesmo).

De tempos em tempos, as situações narradas pelo Evangelho são comentadas pelos cantores solistas em forma de árias, com poemas escritos por Christian Friedrich Henrici (1700-1764), o famoso libretista de Bach mais conhecido como Picander:

Estrutura da Paixão segundo São Mateus: as interpolações de Picander

São 14 árias ao todo, sendo que 10 delas são precedidas de um recitativo em estilo arioso (ou seja, um meio termo entre o recitativo accompagnato e a ária). Duas grandes massas corais abrem e fecham a Paixão, sendo que a última é precedida também de recitativo arioso. Há apenas um dueto na obra, acompanhado de coro (o nº 27). Em resumo, as interpolações de Picander somam 28 números.

Por fim, temos os corais luteranos, que comentam o Evangelho da mesma forma que as árias:

Estrutura da Paixão segundo São Mateus: os números de Corais Luteranos

São 12 corais simples, como este aqui…

[audio:http://euterpe.blog.br/wp-content/uploads/2013/02/bwv244-10.mp3|titles=Bach: Paixão segundo São Mateus – 10. Ich bins ich sollte büssen (Philippe Herreweghe – Collegium Vocale Gent)]

… e 1 “especial” (o nº 29), o qual encerra a primeira parte da Paixão. Os corais luteranos faziam parte dos cultos religiosos, e assim suas melodias e textos eram muito familiares para a audiência. Os corais têm várias estrofes repetindo sempre a mesma melodia. Bach escolheu os corais e as estrofes cuidadosamente, sem mexer no texto: seu único trabalho foi harmonizar as melodias, da mesma forma que ele fazia em suas outras obras.

Somando tudo, temos um total de 68 números ou movimentos. E aqui surge a primeira coincidência interessante desta análise.

Carl Seffner: Memorial Bach em frente à Thomaskirche de Leipzig
Carl Seffner: Memorial Bach em frente à Thomaskirche de Leipzig

Nas obras de Bach, é comum encontrarmos algumas associações numerológicas. Na mais famosa delas, atribuímos um número para cada letra (A=1, B=2, C=3, … H=8) e somamos os valores das letras BACH, resultando em 14, o “número de Bach”. Especialistas justificam assim o porquê de termos 14 Contrapunctus na Arte da Fuga BWV.1080, 14 canons sobre o baixo das variações Goldberg BWV.1087, e assim por diante. Aqui na Paixão segundo São Mateus, o “14” também aparecerá em momentos cruciais da obra, como uma espécie de assinatura do compositor; porém antes de começarmos a análise efetivamente, poderíamos fazer a seguinte conta: B+A+C=6 e H=8, o que dá “68”. Pura coincidência, claro… mas é o tipo de coincidência muito comum de se encontrar nas obras de Bach…

Então ficamos assim combinados: durante os próximos dias, mergulharemos de cabeça nessa obra profunda que é a Paixão segundo São Mateus de Bach. Afinem seus ouvidos e preparem as gravações (e partitura, se tiverem à mão!), que a nossa longa jornada está apenas começando. Nos reencontraremos semana que vem no próximo post!  Até breve!

Este post pertence à série “Os segredos da Paixão segundo São Mateus”:
1. Introdução, história da composição e estrutura
2. Jesus em Betânia
3. A Última Ceia
4. No caminho para o Monte das Oliveiras
5. Tentação e Prisão de Jesus
6. Jesus diante de Caifás
7. O destino de Pedro e Judas
8. O julgamento diante de Pilatos
9. A Crucificação
10. Morte e Sepultamento
Tradução da Paixão segundo São Mateus, de Bach

Este post tem 50 comentários.

50 respostas para “Os segredos da Paixão segundo São Mateus – 1. Introdução”

  1. Apesar de eu não fazer nenhum comentário sobre os artigos postados, acompanho e leio todos os artigos do euterpe e como sempre são todos maravilhosos ^^ vou acompanhar os artigos sobre a Paixão desde esse até o último ^^

  2. Caro Amancio,

    Hoje eu havia terminado de ouvir a Paixão sob a regência de P. Herreweghe, e devo dizer que desde o término desta até o presente momento, eu estava taciturno, pensativo com relação ao que eu acabara de ouvir.

    Antes de você postar o começo da grande análise, fui mais uma vez ver o vídeo que o Blog postou no Youtube, prenunciando a mesma, e assisti com grande entusiasmo e muita expectativa.

    Carecemos de uma análise espirituosa e minuciosa desta “magnum opus” de J.S. Bach , e, por tudo que o Blog Euterpe representa, acredito que estamos diante de suprir tal carência.

  3. Amancio,
    o entusiasmo e a paixão que você imprime ao escrever este post, são dignos desta obra!
    Mal posso esperar pelos proximos.:)

  4. Estarei acompanhando com prazer esta jornada. Inclusive, estarei acompanhando com minha gravação predileta: selo Harmonia Mundi, sob a direção de Philippe Herreweghe, com o coro de la chapelle royale, collegium vocale gent e o coro infantil in dulci jubilo, de Saint-Nicolas, gravado em 1984, na Igreja Saint-Gilles de Bruges.

  5. Muito obrigado por compartilhar sua erudição com todos os interessados. Permita-me acrescentar duas informações, obviamente não para você, mas para possíveis curiosos mais leigos que eu. O impacto dessa obra sobre Mendelssohn foi tamanho que, além de organizar sua execução após décadas de abandono, o compositor – neto de um grande pensador judeu alemão – converteu-se ao luteranismo. Além disso, essa execução deu origem à “Bachmania”: todos saíram atrás das partituras do mestre alemão, cuja obra fora considerada ultrapassada por décadas. Há uma lenda, não sei se verdadeira: partes da partitura foram vistas por Mendelssohn embrulhando carne em um açougue. Isso o levou a procurar como um louco a partitura inteira. E, junto com Bach, outros vieram à luz: Vivaldi e Corelli, que tiveram concertos transcritos para órgão pelo mestre barroco, foram redescobertos por músicos e musicólogos.

  6. Olá pessoal! Obrigado pelas palavras!

    Roberto, permita-me três pequenas correções. Mendelssohn foi batizado na igreja luterana em 1816, muitos anos antes de apresentar a Paixão em Berlim (1829). Foi seu pai Abraham quem decidiu abandonar a religião judaica, e Mendelssohn foi inicialmente criado sem educação religiosa alguma. Veja a história completa lá no Wikipedia (clique aqui). Quanto à Bachmania, na verdade a execução da Paixão fez parte de um grande movimento que já vinha acontecendo na Europa para reavivar as grandes obras de Bach. A Paixão segundo São João, por exemplo, já havia sido reapresentada em 1822.

    E por último, o maior dos seus enganos: minha erudição. (risos) Não é falsa modéstia não! Este post eu o construí apenas juntando informações esparsas da internet, como Wikipedia, Bach-cantatas, etc, e mais as informações de encartes de CDs, programas de concertos e alguns livros. Quanto aos demais posts da série (que ainda não entraram no ar), todo o conteúdo está escrito na partitura, só faltava mesmo alguém deixar a preguiça de lado e ler a partitura com atenção, compilando uma lista de curiosidades sobre a obra. Está tudo bem explícito na partitura.

  7. Amancio, cada dia eu admiro mais a sua inteligência. Obrigada por nos dar a oportunidade de tomar conhecimento dessa obra maravilhosa.

  8. mesmo assim, Amancio, é preciso inteligência, amor e uma certa erudição (porque, não?) para fazer o que voce tem feito aqui. De qualquer forma, fica mais divertido, para nós, acompanhantes de seu trabalho, ler aqui, da forma criativa e animada que você coloca, do que se estivéssemos pesquisando aqui e acolá…de qualquer forma, se monta um clubezinho agradável e aconchegante este cantinho…tudo bem, alguns escrevem errado, como eu…outros tentam falar dificil, prá entrar no clima do blog, outros, como meu amigo Heber Fiori, prefere ficar calado, mas, acompanhar tudinho com o maior gosto…de uma forma ou outra, participamos e admiramos sua dedicação e amor a esta coisa maravilhosa que é a música erudita…

    voce não fica feliss de seu blog atrair uma pessoa como eu, por exemplo, que ama o mesmo que voces ai amam, uma pessoa como eu, semi-analfabeta, que escreve errado ESTOQUERAUSEN?…?
    mas, que, de qualquer forma, gosta da matéria…afinal, musica erudita não é somente querida por pessoas bem letradas, é bem quistas por pessoas burras como eu, semi analfabeto…que nao sabe escrever direito…mas, quero meu direito de poder me expressar aqui…contanto que não ofenda voces, claro…fiquem tranquilos…nao vou ofende-los…mas, tenho o direito de escrever errado, uma vez que não aprendi a escrever serto. Vamos a Paixão…tou gostando…continuem…

  9. gostaria de sugerir que se faça o mesmo tipo de análise minuciosa com a obra CROESUS de Reinhard Keiser.

  10. Não conhecia o blog… o encontrei por acaso, link aqui e acolá. Estava em busca de um site assim! Meus sinceros parabéns pelo trabalho! Grande abraço.

  11. Amancio,
    as associações numerológicas que você cita, podem vir da crença religiosa de Bach, pois existe um sentido semitico dos números.
    Biblicamente 7 é o número da perfeição e isso inclui seus múltiplos. No evangelho de Mateus, é descrita a genealogia de Jesus, dividida em três importantes periodos com 14 gerações cada, e assim outras coincidências aparecem…
    Bjs.

  12. Elisângelia, a Paixão seg. São Mateus está CHEIA dessas referências numerológicas. Durante a análise (os próximos posts), não vou citar todas as numerologias que descobri, mostrarei somente algumas, porque alguns amigos pra quem mostrei partes da análise me alertaram (e com razão) que alguns números especiais só apareciam quando eu “forçava” para eles aparecerem, por exemplo, estabelecendo uma regra X ou Y para contar compassos ou cruzamentos de vozes. Ou seja, eu estava vendo esses números apenas porque eu “queria” ver os números.

    E, ah sim, obrigado pela colaboração!

  13. Antes que comece a análise minuciosa do pessoal da Euterpe (minha musa predileta, dentre as sete do Museum), adianto aqui um parecer que escrevi ano passado aqui em meu Mac quando adquiri o Box Set 50 anos da Harmonia Mundi com mais de 30 CDs,com três CDs contendo a Paixão segundo São Mateus, completa. Minha impressão do material, segundo Denison Rosario

    CD 1 – uma hora e 12 minutos de obra-prima absoluta.

    No primeiro coral, extremamente poderoso e colossal, já se vêem as portas do Paraiso se abrindo e o ouvinte percebe que seu corpo é elevado aos Céus, literalmente.

    Depois do grande coral, temos vários minutos de música absoluta, com o evangelista (que aqui no caso é Mateus) e Jesus se revezando, sendo que Mateus (tenor) recitando de forma seca, só com o baixo contínuo acompanhando e Jesus (baixo) acompanhado por cordas; depois de 15 minutos de pura música, envolvendo trechos de música coral e recitativo, entra, finalmente, a primeira ária. Esta ária para contralto que abre a coleção de árias da Paixão de Bach é cantada pelo cantor e maestro René Jacobs, um homem.

    René Jacobs é o contratenor que canta as partes da contralto no disco que tenho aqui da Harmonia Mundi. O contratenor é um cantor masculino adulto que canta numa tessitura correspondente à da contralto (voz feminina), usando normalmente a técnica do falsete. Entre os contratenores é comum o timbre ser perceptivelmente distinto da voz feminina, para um ouvido atento como o meu. E eu prefiro a voz masculina em falsete (mais ou menos como Castratti) do que a voz feminina de contralto. Claro que Bach escreveu esta parte livre para que se escolhesse entre homem ou mulher, o que tivesse disponível.
    Na voz de René a ária ficou magistral, com seu dueto entre o artificial (a flauta) e o natural (a voz humana). O som hipnotizador da flauta, acompanhada do baixo contínuo é um dos pontos altos de toda a obra.

    Logo em seguida à ária do contratenor (ou contralto), sem recitativo nem nada, surge a belissima ária da soprano. Aqui o ambiente é o Céu. Beleza absoluta. A soprano Barbara Schlick é a única solista que canta duas árias solo na primeira parte da grande paixão. Os outros cantam apenas uma ária solo.

    No movimento 10, o coral Ich Bins, ich sollte, o Paraiso se abre em 1 minuto…é um minuto que leva uma eternidade na cabeça do ouvinte (como acontece com O Fortuna, de Carmina Burana).

    Segue um belo recitativo arioso e a segunda ária solo da soprano, que parece brincadeira de criança. Muito divertida. Depois de um arrastado coral de uma beleza celestial na faixa 17, surge um raro recitativo a doi cori (com intervenções do coro) e depois uma ária muito famosa de aspecto híbrido (tenor solista e coro) – movimentos 19 e 20. Um daqueles momentos destacados da obra, como o Aleluia, no Messias, de Haendel.

    Depois de uma única ária de Jesus (na parte I), que não é valorizada nas reduções da obra (inclusive, não foi incluida por Mendelssohn, quando fez uma síntese da paixão para ser tocada em Berlim), depois desta ária de Jesus, surge o único dueto de solistas da obra inteira (movimento 27); é uma das raras partes violentas e agressivas da obra, com um coro rico em intervenções cortantes e bastante agressivas, enquanto a soprano e o contratenor tentam dialogar em paz…é um dos pontos altos da obra. Com ritmos complexos, é o movimento que mais deu trabalho na composição de Bach.

    No coral final da parte I, há o retorno da flauta, que nos faz lembrar a primeira ária da obra (para contralto).

    CD 2 – uma hora e 15 minutos de música magistral e celestial

    O segundo CD apresenta a Parte II. Nesta parte há uma maior participação de Jesus (baixo). Essa parte não começa com um coral, já começa com uma ária (do coltralto) com participação do coro, sem nenhum preparativo, recitativo ou coisa que o valha. Uma ária de paz e redenção.

    A primeira ária solo da parte II é para o tenor, movimento 35. Uma peculiaridade: há um belo traçado no cello acompanhando a voz, de um efeito magistral, transformando esta ária num ponto alto da obra. Esta ária foi reprisada e aplaudida na Alemanha, na adaptação de Mendelssohn.
    Essa ária do tenor abre a seção mais bela de toda a obra. Os movimentos que vão desta ária (movimento 35) até o coral (movimento 40, faixa 11 do CD 2) é a parte mais bela, transcendental, complexa e incrível de toda a Paixão (uma obra-prima dentro de uma obra-prima, como costumo dizer). São passagens como essa que prova que esta obra não é humana, vai além do humano. Esse recorte inclui recitativos secos, corais luteranos maravilhosos e uma ária (a mais linda de todas) do contralto solo, preguiçoso, cansado, com solos extraordinários de uma viola (que efeito celestial). Essa ária – movimento 39 – é a ária mais extensa de toda a obra (mais de 7 minutos), junto com a ária também para contralto – movimento 52 – igualmente notável e de mesma dimensão temporal.

    No movimento 42, temos uma ária para baixo solo com uma introdução e acompanhamento orquestral que faz lembrar Vivaldi. Enquanto o próximo coral – movimento 44 – é um dos mais lindos entre todos os corais luteranos da obra. Um minuto de pura beleza celestial! Evidência também para o divino recitativo arioso da soprano antes da ária do movimento 49. Esta ária trás de volta as flautas, flautas para todos os lados, flautas! Esta ária deve ter sido escrita por um anjo de luz, pois, transcende a escola barroca, com seus timbres e climas surreais.

    Mas, quanto aos corais luteranos, o mais famoso da obra inteira é o do movimento 54. No movimento 57 voltamos a ver o cello acompanhando a voz, dessa vez o baixo solista. Já no final do disco encontramos a última ária para contralto, o movimento 60. Talvez a mais original de todas as árias. O recitativo desta ária é uma das coisas mais lindas do planeta, se derrama em prantos, numa emoção rara, sem igual. Esta ária final é bem interessante, de aspecto híbrido, com solista e intervenções secas e rápidas do coro. As únicas árias para um solista apenas, que envolve o coro, são este movimento 60 e a ária com coro que abre a parte II, movimento 30, ambos para contralto.
    O problema é que esta ária 60 que termina o disco 2 não é convencional. a parte solista soa natural, mas, Bach cria uma situação inusitada, uma regra diferente na parte do coro, que não canta uma melodia, apenas intervém com células melódicas incompletas, criando uma solução absurda e inesperadamente nova. Nunca vi um coro cantando de forma tão original, fragmentada e não convencional quanto neste movimento.

    CD 3 – são 24 minutos da Paixão para finalizar com chave de ouro.

    Os três CDs somam quase 3 horas de música sacra.

    O CD 3 contém os últimos oito movimentos da parte II, que é mais longa que a parte I. Os últimos 8 movimentos da parte II é enriquecida de coral luterano e passagens corais excelentes, calmas e celestiais. O evangelista Mateus impera aqui na narração dos fatos do Evangelho, com rápida intervenção de Pilatus e Jesus. Apenas uma ária figura aqui, a de Jesus (baixo solo), com direito a um belo recitativo acompanhado por cordas. O coral final finaliza a obra inteira numa oração musical sem precedentes.

  14. perdão, as musas são nove. Foi influência de Elisangela que falou tanto no numero 7 e eu fiquei com o 7 na cabeca. Prefiro até mais Clio, a musa da celebração do que Euterpe, a musa do deleite, mas, Euterpe é’a minha predileta, depois de Clio.

  15. Denilson,
    kkkkkkkkkkkkkk.
    Você é engraçado! (No bom sentido é claro). Eu nem falei TANTO assim do sete.
    Quanto as musas, prefiro Euterpe.
    Penso que foi muito propícia e feliz a escolha para o nome do blog, já que ler, ouvir e falar de música é um verdadeiro deleite.
    Bjs.

  16. Tiago, essa é uma daquelas perguntas misteriosas que fazem musicólogos do mundo inteiro se debaterem e quebrarem a cabeça tentando resolver o mistério. Pois, de acordo com o epitáfio de Bach escrito por um de seus filhos, Bach escreveu CINCO Paixões, sendo uma para dois coros. Essa última é fácil, é a de São Mateus, e uma das outras quatro é a de São João. Faltariam três para montar o quebra-cabeça.

    Picander publicou em 1732 um livro de poemas com libretos de uma Paixão segundo São Marcos escrita por Bach por volta de 1731. A partitura desta Paixão está perdida, mas quando olhamos de perto o libreto de Picander, percebemos que é uma “paródia”, ou seja, Bach pegou música que já havia escrito anteriormente e pediu para o Picander “trocar” as palavras da música. Sendo assim, mesmo com a partitura perdida, é fácil (para musicólogos) reconstruir as árias e coros da Paixão usando obras de Bach que se encaixam no poema deixado por Picander – a probabilidade de eles estarem certos é muito, muito grande. O que se perdeu, aqui, foram os recitativos do Evangelho e as turbas. Sabe-se que Bach reaproveitou as turbas no Oratório de Natal, mas aí o terreno da suposição é bem mais enlameado…

    Em 1790 um dos filhos de Bach apareceu com uma partitura de uma Paixão segundo São Mateus para coro simples, e depois disso ninguém nunca mais viu a partitura. Poderia ser uma Paixão antiga, escrita em Weimar, ou talvez uma versão primitiva da São Mateus que nós conhecemos, ou mesmo uma redução para coro simples. É um mistério.

    E há ainda a famosa “Paixão de Weimar”, também perdida, que Bach escreveu enquanto trabalhava em Weimar. Partes dessa Paixão foram reaproveitadas na segunda versão da Paixão segundo São João, e o coro nº29 da São Mateus “O Mensch bewein” também é originário dessa Paixão de Weimar. Há alguns indícios de que essa Paixão tenha sido uma segundo São João, mas são apenas suposições.

    Quando Bach morreu, foi encontrado entre seus pertences um manuscrito autógrafo de uma Paixão segundo São Lucas, mas hoje já se sabe, Bach apenas a copiou de algum outro compositor para prepará-la para alguma Sexta-feira Santa em Leipzig.

  17. Ou seja, Amancio, das cinco Paixöes constantes da necrologia bachiana temos que descontar uma, a de Lucas, erroneamente a ele atribuida. Restam, portanto, as conhecidas (Mateus e Joäo), a parodiada (Marcos) e a perdida (de Weimar). Abs.

  18. É isso aí Amancio, resposta mais completa eu não poderia esperar. Agradeço também ao Monteiro.
    A contribuição que eu posso dar é a de dizer que o original Bach Edition da Brilliant Classics tinha 160 CDs, em vez de 155 como na edição que eu comprei, pois tinha a paixão de São Marcos (que eu sabia ser uma compilação de obras de Bach, mas não sabia que tinha sido feita pelo próprio Bach) e a paixão de São Lucas, que é espúria.

  19. Eu comprei a edição antiga, de 160 CDs. Não ouvi ainda a Paixão segundo São Lucas, mas a de São Marcos já ouvi, e dei umas investigadas em como o musicólogo fez a reconstrução. Por exemplo, os recitativos, ele os tomou emprestados de uma Paixão segundo São Marcos de Reinhard Keiser (talvez seja até essa mesma que eu citei no post, de 1713, que Bach preparou em 1726). Mas o resultado… sei não, deixou a desejar, parece um samba do crioulo doido.

  20. Acompanho o blog faz pouco tempo e tenho gostado muito. Só sinto muito falta de referências bibliográficas sobre as pesquisas de vocês.

    abçs

    Guilherme

  21. Olá Guilherme! Somos em cinco autores e cada um tem um estilo diferente de escrever. O Frederico Toscano, por exemplo, gosta de citar as fontes nos seus textos, mas eu tenho esse jeito mais direto e menos bibliográfico mesmo. Se vc tiver curiosidade sobre a origem de alguma informação, me pergunte que eu dou uma vasculhada aqui nos meus alfarrábios!

  22. O Randau também gosta de escrever posts que dialogam com algum artigo ou livro específico.

    E eu acrescentaria que além de uma questão de estilo há muitas situações de “metodologia” mesmo: pega-se uma edição da partitura de uma obra e se a analisa diretamente, conforme aquilo que se pode ver e ouvir. As informações biográficas ou históricas são muitas vezes conhecimento pacífico ou, sem receio de faltar à modéstia (até porque dá muito trabalho escrever alguns posts!), reflexões próprias. Ou seja, quando um livro ou artigo específico for diretamente usado, certamente ele é citado!

  23. Puxa, não sabia que a São Mateus era tão popular assim entre os eruditos! 9 em 10, hã? Isso é praticamente uma unanimidade! Amancio, você poderia nos apresentar, por favor, a fonte em que você se baseou para fazer tal afirmação? É puramente por uma questão de curiosidade minha mesmo.

    A propósito, excelente post, eu gosto muito da São Mateus, vou me deleitear com a leitura desta série de postagens sobre a obra.

  24. (risos) Essa estatística eu tirei do “DataAmancio” mesmo. Foi só uma comparação boba para ilustrar a fama que a Paixão seg. São Mateus tem entre os que gostam de Bach e música clássica.

  25. Corrijam-me se eu estiver errado, mas acho que há controvérsia quanto a “magnum opus” de Bach. Eu concordo com Amancio de que seja esta paixão, porém me parece que alguns defendem a Missa em B menor e outros A Arte da Fuga.

  26. … e no final ninguém estaria errado.

    É como a (boa) discussão que tivemos lá no tópico do Bartók/Mozartók: até se consegue estabelecer um critério para comparar obras, mas, uma vez que se defina qual é a “magnum opus” de Bach, isso tiraria o brilho das outras obras? Citando um excelente comentário do F.S.Monteiro: não seria mais interessante estudar os motivos pelos quais estas obras são tão reverenciadas?

    PS.: Vejam só, estamos falando aqui de três obras incomparáveis, a Paixão seg. São Mateus, a Missa em Si menor e a Arte da Fuga. E mesmo assim, meu coração ainda palpita mais forte pelas Variações Goldberg. Não é maravilhosa essa diversidade? :-)

  27. Agradecendo pela canjinha do Amancio, aqui duas historinhas pra todos que adoram as Var. Goldberg:

    Conta a lenda que Bach compôs essa obra para funcionar como sonífero. O conde Keyserlingk, um diplomata russo em Dresden, sofria de insônia e, nas noites em claro, era embalado pelo cravo do seu jovem músico Johann Gottlieb Goldberg. O coitado do garoto (tinha uns 14 anos, na época) era aluno de Bach, que teria escrito as Variações especialmente pra fazer o conde pegar no sono. Hoje, os musicólogos já duvidam da versão da história. Que pena.

    Esta agora é verdadeira, juro. Na Berlim dos anos 80, alguém teve a bela ideia de tocar as Variações Goldberg no meio duma noite de verão, sob uma lona de circo. Não chegou a terminar, devido à chegada da polícia. Chamada por um vizinho, que não conseguira dormir com o som do cravo.

  28. Olá.
    Cheguei aqui pelo “In Bach We Trust” e quero cumprimentá-los pelo belo trabalho aqui desenvolvido. Gostaria de acompanhar esta jornada da Paixão de São Mateus. Tive o prazer de assistir esta grande obra do Mestre quando do BachFest 2012, na Thomaskirche de Lepzig. Até agora a ficha não caiu completamente. Por favor, ponham “minha letra nesta”. Grande abraço.
    Lou Petrus.

  29. Decidi conferir a dica do PQP Bach, e que bela surpresa! É difícil acreditar que existam pessoas tão dedicadas assim à boa música, ainda mais com tanta didática! Parabéns pelo excelente trabalho.

  30. Infelizmente, já fazia um tempo que não lia as postagens do Euterpe, mas essa fodástica postagem sobre a Paixão segundo São Mateus me obriga a arranjar tempo para voltar a fazê-lo.
    Fantástica a série.
    Ah, vocês nunca pensaram em lançar em livro o que de melhor já foi lançado em Euterpe? seria um trabalho e tanto de seleção mais seria prazeroso.

  31. Emerson,

    Já cheguei a imaginar algo assim especialmente porque hoje em dia é facílimo contratar impressões de livros por encomenda (ou seja, à medida que há pedidos para a gráfica) e porque seria uma compensação para quem prefere ler textos em material impresso. Mas pareceu uma ideia um pouco narcisista e o grande diferencial do blog ficaria de fora, que são esses players que ilustram as passagens musicais nos posts.

    De todo modo, deixo o incentivo pra que você tenha fé na leitura desta série, porque ela está tão bem escrita que o tempo passa voando quando você lê!

  32. Preciso saber quem canta, que coro, que orquestra, gravacao de que data… todas as informacoes para localizar a versao aqui apresentada. Obrigada. Obrigada.

  33. Olá M. Olívia,

    Não entendi bem sua pergunta, mas se estiver perguntando sobre a gravação que eu uso para os excertos musicais nos posts da série, é a segunda gravação do Philippe Herreweghe, a de 1998, com Ian Bostridge, Franz-Josef Selig e o Collegium Vocale Gent. Veja nos dois links abaixo, a caixa com os CDs do lançamento original, em 1999…
    http://www.amazon.com/Bach-Matthew-Passion-Sibylla-Rubens/dp/B000035QCS
    … e esta outra, um re-lançamento recente numa edição mais barata:
    http://www.amazon.com/St-Matthew-Passion-J-S-Bach/dp/B003064CZA

    Dica: quando vc clica no “play” dos controles de áudio do blog, o nome dos artistas de cada faixa de áudio aparece circulando dentro do controle.

  34. Bem, estou pegando o bonde andando. Até o presente tenho abordado as “paixões” de BACH. Com o trabalho de vocês vejo que posso integrar melhor o pouco que já tenho alcançado. É excelente encontrar trabalhos como esse de vocês que funciona como ímã e organiza a balbúrdia ou limalhas que por si somente não se ordenariam e harmonizariam. Hoje, em Zero Hora, 22mar2014, o Prof. Loureiro Chaves escreveu sobre as paixões de Bach. Att jlcaon

  35. Afinal vejo explicações bastante claras sobre a Paixão Segundo São Mateus – de J.S. Bach. Obrigado ! Percebo que frequentando Euterpe poderei entender e aprender sobre as obras que sempre me chamaram atenção.

  36. Em outubro de 1988, Juiz de fora, MG, e na Sexta-Feira Santa de 1989, em Ouro Preto, MG, o coral do Centro Cultural Pró-Música de Juiz de Fora e o coral da UFJF, juntamente com a orquestra do Pró-Música e a orquestra da Rádio MEC, apresentaram a Paixão Segundo São Mateus completa sob a regência do Maestro Nelson Nilo Hack. Meu marido e eu tivemos a felicidade de cantar esse obra. Quero citar dois fatos: ao ouvir a Paixão pela primeira vez, fiquei tão encantada com o coro de encerramento que desejei cantá-lo um dia, mal imaginando que ia cantar a obra desde o coro de abertura. — Là em Ouro Preto aconteceu uma coisa extraordinária. A procissão do enterro na cidade é famosa. Justamente no momento em que cantávamos a parte que antecede o final (“Mein Jesus, gute Nacht”), a procissão veio passando e o sino tocou. Comovente e inesquecível.

  37. Excelente texto sobre uma monumental peça religiosa. É um desafio encarar uma análise percuciente sobre a maior “Paixão” do mestre Bach. Se me permite, só discordo da afirmação de que se trata de um quase consenso dentre os musicólogos de que esta seria a maior obra musical do ocidente. É um tema controverso e que possui muita idiossincrasias. Eu,particularmente, gosto muito da Paixão de São Mateus, mesmo reconhecendo que a mesma nem de longe teve a receptividade e o reconhecimento leigo que o Messias de Handel obteve por séculos e esta, sob o ponto de vista formal, é de construção mais simples, porém o suficiente para servir de base para obras do quilate do Réquiem de Mozart e a Missa Solemnis de Beethoven. Na minha humilde opinião, a única obra que atingiu o limite da técnica e teve um alcance universal foi a Nona Sinfonia de Beethoven. Há quem prefira a Arte da Fuga ou Dom Giovanni de Mozart. Como havia dito, obras desse quilate são incomparáveis. Apontar qual é a melhor, vai da predileção de cada um e em nada diminui a importância ou grandeza das demais peças tidas como monumentais. Parabéns pelo blog!

  38. Boa tarde,

    Seria possível fazer também uma análise da Missa em Si Menor de Bach?

    De qualquer maneira parabéns pelo blog e o trabalho em geral, tenho outros comentários que vou fazer noutros posts depois que ler com mais cuidado.

    [ ]s

  39. Olá Cleverson,

    A Missa em Si menor está na minha lista de “obras a serem analisadas”. Inclusive minha intenção é mostrar as obras originais de onde cada trecho veio. O que falta mesmo é tempo para produzir algo tão grandioso… mas se vc tiver paciência, um dia isso sai! :-)

  40. Olá Leonardo,
    Apresentações da Paixão segundo São Mateus no Brasil não são tão raras quanto você imagina. Aqui em Curitiba já pude presenciar algumas apresentações, a última que assisti foi em 2006 com o cravista Nicolau de Figueiredo no comando. Pesquisando no Google, vi que a OSESP já apresentou a obra em 1999 e 2005, e a Sinfônica de Brasília em 2012. No vídeo abaixo, um trecho de uma apresentação no Palácio das Artes de Belo Horizonte em 2009:
    https://www.youtube.com/watch?v=PsgB1hC3z0s
    E aqui, a apresentação da Camerata Antiqua de Curitiba em 1993 na íntegra:
    https://www.youtube.com/watch?v=ATqHHrJtR3E

  41. Sensacional esse artigo. Parabens deve ter dado um trabalhao reunir todo esse conhecimento em um lugar só

  42. A Grande Paixão ou a Missa em Si Menor? Agradam-me, por demais, as duas! Mas considero a Missa Em Si Menor ainda mais perfeita que a Grande Paixão. Agora, se me perguntassem qual ou quais as Obras de Johann Sebastian Bach que me são irresistíveis, escolheria as 4 Suítes Orquestrais, os 6 Concertos Prá Violino e Orquestra e, “de sobremesa “, o Concerto de Brandemburgo número 4. Como “entrada”, a Chacone da Partita Prá Violino Solo. Por aí, se vê como é difícil se escolher uma única Obra preferida, dentre a enorme gama de Peças simplesmente geniais, desse Monstro da Música Ocidental!

  43. Boa tarde;
    Vim só aqui para dar os meus parabéns ao autor destes artigos (que ainda só li este primeiro), por este serviço público de “desmistificação” (sim, porque para mim continua a ser um mito, no sentido de que está acima de todo o demais universo musical) daquela que para mim é a obra musical mais completa de todos os tempos.
    Sendo eu um consumidor/ouvinte assíduo de música, numa base amplamente eclética, desde a música tradicional e/ou outros géneros musicais produzidos no meu Portugal, ao Jazz, ao Samba e à Bossa Nova, ao Rock, à World Música,….. e, claro, à música clássica, embora não seja nenhum especialista na matéria, esta obra de Bach sempre despertou em mim a curiosidade de a conhecer melhor, como tal, vou aproveitar este tesouro para me sentir mais informado em relação a esta obra.

    Uma vez mais, obrigado.

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