Em 28 de junho de 2012, por Greg Sandow
Há muitas leituras disponíveis sobre as mudanças em nossa cultura, aquelas de que tenho falado que deixam a música clássica para trás. Por exemplo:
A seção sobre vida noturna do famoso livro de Richard Florida, The Rise of the Creative Class [A Ascensão da Classe Criativa].
Florida descreve pessoas que ele acredita serem centrais para o crescimento econômico de qualquer cidade, pessoas jovens, inteligentes, curiosas, criativas, pessoas que as empresas mais gostariam de contratar. A tese de Florida sobre quão crucial elas são para o crescimento econômico tem sido disputada, mas sua descrição dessas pessoas soa exata para mim.
O que elas fazem à noite? Elas evitam entretenimento “de varejo”, e ao invés disso saem à procura de uma vida noturna variada – clubes, galerias, teatros – onde podem encontrar artistas e explorar diversas ofertas, coisas que sentem ser autênticas e espontâneas. Florida menciona bandas locais, uma trupe de dança do Senegal, ou uma pequena produção teatral de uma peça cômica do século XVIII. Logo no começo da seção, ele diz que apresentações sinfônicas, óperas e balé não são um atrativo.
Eu me referi a ele no meu curso sobre o futuro da música clássica na Julliard. Está claro que a classe criativa – como Florida os alude – não será vista indo a eventos de música clássica da maneira como os apresentamos atualmente.
(Há uma versão atualizada do livro que acaba de sair. Estou ansioso para ler. Assim que estiver disponível no meu Kindle…)
The Mansion on the Hill: Dylan, Young, Geffen, Springsteen, and the Head-on Collision of Rock and Commerce [A Mansão sobre a Colina: Dylan, Young, Geffen, Springsteen e a Colisão de Frente do Rock com o Comércio], de Fred Goodman
Fala entre outras coisas sobre como gravadoras pop contrataram novos profissionais nos anos 60, porque a equipe de que dispunham não gostava ou não entendia a explosão de novos tipos de música. Assim como não entendia o novo público daquela música. (A mesma coisa aconteceu quando comecei no negócio da música pop, no fim dos anos 80. A explosão não foi tão grande como a dos anos 60, mas ainda assim, as gravadoras estavam contratando recém-formados porque a equipe que tinham não entendia as novas bandas alternativas.)
Pictures at a Revolution: Five Movies and the Birth of the New Hollywood [Quadros de uma Revolução: Cinco Filmes e o Nascimento da Nova Hollywood], de Mark Harris
Um dos livros mais importantes sobre a nossa mudança cultural. Hoje nós aceitamos filmes como Bonnie and Clyde e The Graduate [“A Primeira Noite de um Homem”] como clássicos, mas quando foram lançados, nos anos 60, eles eram revolucionários. Filmes franceses vanguardistas – Truffaut, Godard – influenciavam fãs de cinema nos Estados Unidos, alguns dos quais foram então para Hollywood, e viraram as coisas de cabeça para baixo. Quão grande foi essa revolução? Gigantesca. A associação de críticos de cinema se dividiu em duas. O New York Times demitiu seu crítico de cinema, porque ele não entendia os novos filmes. A revista Time (então imensamente influente) primeiro criticou Bonnie and Clyde, depois – você consegue imaginar? – publicou uma longa retratação. Os tempos estavam mudando, e filmes populares agora podiam ser mais sutis, mais sexuais, mais artísticos, e mais complexos na sua visão de certo e errado.
“Say You Want a Revolution” [Diga que Quer uma Revolução] (por mim)
Minha resenha para a revista Symphony sobre o livro de Mark Harris, e suas implicações para a música clássica. Suponha que a música clássica tivesse tido uma revolução nos anos 60 como a dos filmes. Seria o nosso público de hoje jovem?
Uma passagem sobre música no livro Nobrow: The Culture of Marketing, the Marketing of Culture [Nobrow: A Cultura do Marketing, o Marketing da Cultura], de John Seabrook
John Corigliano me indicou este livro, e tenho certeza que para outras pessoas também. Se eu me lembro bem, ele o interpretava como um alerta, algo para mostrar às pessoas da música clássica para quão distante a cultura se afastou delas.
Eu disponibilizei um trecho em meu curso na Julliard, e você pode encontrar um pouco dele em uma compilação que preparei para os alunos, de ideias sobre a natureza da música clássica. Seabrook, um escritor do New Yorker, cresceu em uma família suburbana, e pensou que, como seus pais, ele iria ao Met Opera e à New York Philharmonic quando crescesse. Ao invés disso, ele vai ver os Chemical Brothers em clubes. O livro traz incríveis evocações do que esses clubes são, e o que o departamento clássico de uma grande loja de discos se parece para alguém que não escuta música clássica.
“Artistic Expression in the Age of Participatory Culture: How and Why Young People Create” [Expressão Artística na Era da Cultura Participativa: Como e Por que os Jovens Criam], de Herny Jenkins e Vanessa Bertozzi (um capítulo em Engaging Art: The Next Great Transformation of America’s Cultural Life [Engajando a Arte: A Próxima Grande Transformação da Vida Cultural da América], editado por Steven J. Tepper e Bill Ivey)
De cair o queixo – a arte que os jovens, incluindo adolescentes, conseguem propor por eles mesmos. Difícil duvidar, depois de ler esse capítulo, de que estamos em uma nova cultura, e que os pressupostos de cima a baixo do nosso mundo da música clássica (“essas são as obras-primas, isto é o que você deveria pensar sobre elas”) simplesmente não funcionam mais.
[Acrescentado depois:] Everything Bad Is Good For You: How Popular Culture Is Making Us Smarter [Tudo o que é Ruim é Bom Para Você: Como a Cultura Popular Está Nos Fazendo Mais Inteligentes], de Steven Johnson
Como pude esquecer dessa visão viva e seminal – bem provocativa para os puristas da alta cultura – sobre o quão inteligente a cultura popular se tornou? É claro, a inteligência da cultura popular é tida como certa pela maioria das pessoas hoje em dia. (Eu li, por exemplo, uma discussão sobre por que resultados de testes de QI têm aumentado, o que dispõe da crescente inteligência da cultura popular como explicação. E note que isso é algo de que todo mundo sabe.) E especialmente familiar é a inteligência de grande parte da música popular – tão familiar, de fato, que Johnson diz que ele não precisa discuti-la, porque é algo que todo mundo sabe. O que eu penso ser uma pena, porque torna esse livro menos persuasivo para aqueles que precisam conhecer a cultura popular melhor. Mas o livro ainda é inestimável. (E seu título – Everything Bad is Good for You – é irônico, claro.)
“Building a young audience (more on the culture change)”, por Greg Sandow, traduzido por Leonardo T. Oliveira.