O que temos que fazer

Em 11 de setembro de 2012, por Greg Sandow

Agora é hora de voltar ao principal negócio deste blog, que, é claro, é o futuro da música clássica.

E também voltar a algo que eu enfatizei antes das minhas férias, que o principal negócio — a mais alta prioridade, o foco central — das pessoas em nosso campo deveria ser encontrar um novo público.

Isto deveria ser óbvio. Da maneira como as coisas estão agora, o antigo público não está sendo renovado, ou ao menos não em números sequer remotamente próximos para sustentar as instituições de música clássica no tamanho que elas apresentam atualmente. Ou para dar a grupos menores ou músicos solistas público suficiente para sobreviverem.

Ensinar música clássica em nossas escolas — para tantas pessoas a amada solução — realmente não é muito mais do que um sonho. Há quatro problemas nisso:

  • Como vamos conseguir que a música clássica seja ensinada em todos os Estados Unidos (limitando-me apenas à situação daqui), quando, primeiro, o interesse na música clássica decaiu, e, segundo, o dinheiro é curto? Minha cidade, Warwick, NY, fechou uma de suas escolas elementares no último ano, por causa da crise econômica. Neste ano ela cortou tanta verba de ônibus escolares que a polícia alertou a todos os motoristas que fossem cuidadosos com crianças caminhando para a escola, ou para paradas de ônibus que costumavam ser muito mais próximas das suas casas. Com isso acontecendo, de repente Warwick vai começar a ensinar música clássica?
  • Como vamos fazer com que as pessoas concordem com uma educação musical que destaque a música clássica — um gênero com um público quase inteiramente branco — em uma era de crescente diversidade, com uma maioria não branca emergente?
  • Por que pensamos que ensinar música clássica às crianças as tornará, mais tarde na vida, um público clássico pagante? Nos anos ’60s, a música clássica era amplamente ensinada, mas isso não impediu que as crianças a rejeitassem, e explodissem em direção ao rock ao invés disso. Por que as crianças rejeitariam a música excitante, criativa, profundamente artística da nossa cultura atual, para preferirem algo de que nós achamos que elas gostariam?
  • E mesmo se, apesar dos três últimos pontos, a música clássica se espalhar amplamente em nossas escolas, e de fato produzir um novo público, levará décadas até que esse novo público seja grande o bastante para fazer alguma diferença. Não temos todo esse tempo.

Por isso temos que encontrar um novo público agora, de outras maneiras. O que significa (como já escrevi muitas vezes antes) que a música clássica vai ter que mudar, porque nossa cultura mudou. Execuções clássicas de velha guarda não vão, na maior parte das vezes, falar para o nosso mundo atual. Temos que encontrar novas maneiras de fazer as coisas.

Eu cheguei a uma proposta de quatro pontos, para coisas que qualquer pessoa apresentando a música clássica deveria fazer. Estará em meu próximo post.

“What we have to do”, por Greg Sandow, traduzido por Leonardo T. Oliveira.

Este post pertence à série A crise da música clássica, por Greg Sandow:
1. Um tempo selvagem, em 12 de junho de 2012
2. A grande mudança, em 14 de junho de 2012
3. Por que o público vence a apologia, sempre, em 15 de junho de 2012
4. Construindo um público jovem (primeiro post), em 19 de junho de 2012
5. Colocando isso em prática, em 20 de junho de 2012
6. Construindo um público jovem (segunda parte), em 24 de junho de 2012
7. Construindo um público jovem (mais sobre música nova), em 27 de junho de 2012
8. Construindo um público jovem (mais sobre a mudança da cultura), em 28 de junho de 2012
9. Construindo um público jovem (prova da mudança da cultura), em 2 de julho de 2012
10. Programando a música clássica para a nova cultura (primeiro post), em 8 de julho de 2012
11. Boulez e Godard, em 11 de julho de 2012
12. Programando para um novo público: um exemplo, em 13 de julho de 2012
13. Programando para um novo público — Shuffle.Play.Listen, em 17 de julho de 2012
14. Programando para um novo público — mais exemplos, em 20 de julho de 2012
15. Programando para um novo público — coisas que funcionaram, em 24 de julho de 2012
16. Nova programação — expandindo a caixa, em 25 de julho de 2012
17. Repertório — post final, 31 de julho de 2012
18. Tocando mais vividamente, para o novo público, em 2 de agosto de 2012
19. Tocando mais vividamente — segundo post, em 6 de agosto de 2012
20. O que temos que fazer, em 11 de setembro de 2012
21. Quatro pontos para o futuro, em 13 de setembro de 2012