Em 8 de julho de 2012, por Greg Sandow
Então agora é tempo para um post sobre que tipo de música clássica um novo público poderia apreciar, o que significa um público mais jovem do que aquele que temos agora, e que já tenha nascido na nossa nova cultura, com a qual (como observei em meus últimos posts mais recentes) a música clássica não se manteve sincronizada.
Temos que pensar sobre isso, porque o público que temos agora não será substituído por outro como ele, por outro público que aceite a velha visão do que seja música clássica. Ou ao menos não haverá outro público de velha guarda tão grande como o atual.
Mas fiz uma afirmação negligente quando (alguns posts atrás) contei a estória de uma ex-namorada, alguém que não era fã de música clássica e que perguntou – quando eu coloquei uma gravação de Handel – por que a música clássica não era mais noir. E quando eu troquei Handel pela dodecafônica Suite Lulu de Berg, ela disse, “Sim, por que mais música clássica não soa assim?”
Esbocei duas conclusões a partir disso, primeiro que o novo público não terá medo de música atonal, e segundo, de modo mais radical, que esse público pode pedir por música atonal. Essa segunda afirmação foi negligente. O que eu deveria ter dito é que o novo público deve querer que a música clássica soe como vinda da nossa cultura atual. Ou ao menos vai querer, caso abrace a música clássica como uma arte viva, e não apenas como algo agradavelmente exótico (ainda que interessante em sua própria maneira).
A música da nossa cultura atual pode ser atonal (em trilhas sonoras, por exemplo). E, atonal ou não, é provável que seja mais dissonante do que a maior parte das obras-primas clássicas, simplesmente porque a harmonia em qualquer tipo de música hoje é na maior parte das vezes mais dissonante, seja em acordes ao piano tocados com os dois punhos no jazz, segundas e sétimas maiores adicionadas quando um pianista de música ambiente toca velhos padrões pop, ou sobretons conflitantes que dão ao rock de três acordes uma sobreposição de barulhos estridentes.
Mas a maior parte da nossa música não é atonal, claro. E aqui é importante observar que um novo público pode não responder a muito do que é rotulado como “música contemporânea” dentro do mundo clássico. Isso porque – como alguém disse em um comentário em um post anterior – muito dessa música parece vinda do auditório de concerto clássico.
Ou, para colocar de maneira diferente, ela surge de uma cultura de música clássica que – como um todo – não possui muitas raízes na vida contemporânea. Então mesmo que uma peça fosse escrita ontem, ela poderia despertar não mais faíscas em nossa cultura mais ampla do que Mozart desperta. Ou, de fato, poderia despertar menos faíscas! Porque Mozart tem um lugar em nossa cultura mais ampla. Mais ou menos todo mundo sabe que ele existiu, sabe que ele foi um gênio (e pode saber várias coisas verdadeiras e falsas sobre ele a partir de Amadeus), e ao ouvir sua obra pode, no mínimo, dizer, “Isso é música clássica”.
Enquanto isso pessoas como Matthias Pintscher ou Magnus Lindberg – ou mesmo alguém mais amável, como Christopher Rouse – se agitam por simplesmente nenhum reconhecimento, seja dos seus nomes ou do som de suas músicas (embora talvez, às vezes, algumas coisas que eles escrevem possam fazer alguém pensar em uma trilha de filme).
A moral disso? Simplesmente tocar música clássica nova não é a resposta. Pode não atrair um novo público. É parte da resposta, mas a solução completa tem que ser muito mais diversificada.
Próximo: Por que Boulez é um garoto propaganda para este problema. Falamos dele como se suas partituras serialistas tivessem rompido novos caminhos na cultura do seu tempo. Mas quase ninguém as ouve, enquanto os artistas franceses que criaram reais ondas na vanguarda – e chacoalharam a cultura da França e do mundo – foram diretores, Truffaut e Godard.
“Programming classical music for the new culture (first post)”, por Greg Sandow, traduzido por Leonardo T. Oliveira.