Nada como uma retrospectiva que reúna em um mesmo post tudo o que foi feito em um ano inteiro no blog… O nosso segundo ano também merece, então aqui vai!
A grande série do blog, a partir dos 100 anos da morte de Mahler em 18 de maio de 1911, foi a história e a análise do que resta da sua instigante Décima Sinfonia, com a expectativa de uma nova compleição da obra pelo próprio Amancio em 2030 (a depender da nossa insistência). E como em 2011 também Liszt completou 200 anos, tivemos: uma análise do chamado “desenvolvimento temático” empregado pelo compositor em suas obras, particularmente na sua grande obra-prima para piano, a Sonata em Si menor; uma palha sobre suas numerosas transcrições de grandes obras para a linguagem do piano e suas radicais experimentações harmônicas no fim da vida; e um surpreendente retrato do seu envolvimento com o cristianismo e seu empenho historicamente notável em traduzir essa relação através da música em uma de suas obras mais ambiciosas, o oratório Christus.
Outro compositor privilegiado no blog foi Mozart, com textos cujas informações foram beneficiadas por um profundo conhecimento de fontes primárias e de trabalhos acadêmicos sobre o compositor. Foi o caso de “Mozart, nas mãos da ciência desde criança”, “O peso de Mozart no seu Requiem” e o surpreendente “Sinal do futuro ou marco do passado?” sobre indícios do possível rumo da carreira de Mozart (e por conseguinte da história da música) caso ele tivesse vivido mais do que apenas 35 anos. Entre as análises, além de “Os corais luteranos na obra de Bach”, que revelou a graça e a genialidade de Bach no tratamento desses hinos tradicionais, “O Minueto de Don Giovanni” dissecou uma das cenas mais famosas da ópera Don Giovanni para percebermos o grau inacreditável de engenho que há na sua sobreposição de danças de ritmos diferentes.
Textos sobre a história da música narraram a brilhante iniciativa de Telemann em “Musique de table, ou o marketing de Telemann”, desmistificaram leviandades sobre a obra de Rossini em “Rossini passado a limpo”, lembraram o último ano de Vivaldi em “Vivaldi partia há 270 anos” e apresentaram a obra de Bellini e o centro da sua linguagem: a melodia. As origens de um dos teatros mais importantes da história da ópera na Itália ainda foram recontadas em “Europa renasce no Scala” e a música como uma linguagem à parte e de valor próprio foi explorada no exemplo de Berlioz em “Música como autobiografia: I. Berlioz e a idée fixe“. “A música inglesa”, ao resgatar a história do cânone musical da Inglaterra entre os séculos XV e XVI, ofereceu um dos exemplos mais reveladores sobre a relação histórica entre música e religião; e, em termos de história da música, um dos livros mais presentes nas bibliotecas de escolas de música brasileiras teve uma justa e esclarecedora resenha em “Uma nota sobre a história da música de Carpeaux”.
Entre os intérpretes, foi lembrada a morte do barítono Cornell MacNeil, o aniversário de 70 anos da pianista Martha Argerich, a incrível história do último recital de Wilhelm Backhaus e, para os percussionistas, uma compilação de obras com a proeminência do tímpano. Sobre a iniciativa cada vez mais comum da transmissão ao vivo de óperas pelo cinema, a resenha “Um Rigoletto sombrio” ofereceu um exemplo positivo.
Nas pontes com outras artes, a música foi vista pelo prisma da fotografia na seleção “As fotografias de Alfred Eisenstaedt” e do cinema em “Licenças poéticas em um filme kitsch e a redenção pela arte” e “Música clássica no cinema: os exemplos de Kubrick, Visconti e Fellini”.
Por fim, o desempenho da música clássica nas salas de concerto foi examinado em “Engano”, sobre a verdadeira atenção do público revelada na “cadência de engano” do último movimento da Nona Sinfonia de Beethoven em um concerto no Rio de Janeiro, e em “A desumana exigência de civilidade nos concertos – Soluções?” sobre aplausos fora de hora e propostas para se despojar o ambiente em que a música clássica é apresentada.
Claro, particularmente sobre a abordagem do blog e sua divulgação, foi para nós motivo de entusiasmo a entrevista do Bruno Gripp para o programa Harmonia da Rede Minas, apresentado à época por Marianna Bretz.
Que os anos vindouros sejam sempre empolgantes e de alto nível!
Bom conteúdo. Fico agradecido.